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Whores & Big Business, a grande muralha sonora

No passado dia 25 de Abril, a liberdade passou pelo Sabotage Clube e lá encontrou o trio americano oriundo de Atlanta, Whores, e o duo americano Big Business, estes oriundos de Seatlle. Nomes que em cartaz ou qualquer outro lugar dariam para construir múltiplas analogias com a data que por cá se assinalava nesse dia.

Deixemo-nos do óbvio. Sejamos directos, como eles foram. Os Whores apresentaram a sua muralha sonora, nuns sucintos mas intensos 38 minutos, sem quaisquer floreados entre músicas e pouco mais que um breve agradecimento ao público presente. Estão cá para tocar não estão para conversar…

A abrir Daddy’s Money e Fake Life do Ep de estreia, lançado em 2011, Ruiner, onde se conseguem identificar filiações como Black Flag, Jesus Lizard ou The Melvins.

Sem perder tempo, foi como se todos os decibéis do mundo entrassem de repente na sala, todos eles sentidos por todo o corpo, numa onda que preencheu o pouco espaço que sobrava, que penetrou a corrente sanguínea e desembocou como uma bomba no nosso peito. Um som duro a sair da guitarra de Christian Lembach, tornado redondo pelo baixo de Casey Maxwell e pela bateria de Donnie Adkinson e que incita a um headbanging, mais que obrigatório, quase involuntário.

Iam not a Goal oriented person e já se via o suor a pingar na guitarra de Lembach, que ao mesmo tempo que cantava cerrava os dentes como se se preparasse para a qualquer momento engolir o clube inteiro. Entretanto Maxwell continuava no headbanging crescente ritmado pela força com que Adkinson ia tocando bateria. Bloody like the day you were Born do registo de 2013, Clean, mantém o ritmo elevado.

Esta muralha sonora construída pelos Whores, assemelha-se a uma perseguição sem tréguas levada até às últimas consequências do último decibel, não deixando por tocar qualquer músculo do corpo.

Playing Poor e I am an amateur at Everything ficaram para o fim. Inesperado. O público gostou e queria mais. A maioria só se deu conta de quão curto o concerto fora ao olhar ao verificar as horas, porque a intensidade desta imensa muralha de som foi tal que no fim parecíamos deslocados do tempo e do espaço, quase como que desfocados.

Depois de todo o noise que os Whores deixaram no seu rasto, seria sempre difícil surpreender, a não ser que estivéssemos a aguardar os Big Business que trouxeram na bagagem o seu mais recente registo, Command Your Weather, e ao qual dedicam a maior fatia do set.

A expectativa era alta para esta primeira visita. Interiorizar ao vivo e bem de perto o som produzido pelo baixo e pela bateria de Jared Warren e Coady Willis não é para todos e não é fácil, mas mal que se entra na espiral da violenta bateria e do som quase bizarro que emana do baixo a voz Jared é como um chicote nos nossos olhos que nos obriga a mantê-los abertos.

Regulars, com a sua bateria quase hipnótica marca o início de um set que trará Blacker Holes e Father’s Day, os três singles de uma só assentada e com o público a mostrar-se bastante receptivo, a conhecer e acompanhar a banda em quase todos os momentos.

O nível de headbanging por metro quadrado aumenta à medida que o concerto se desenrola e é a bateria de Coady Willis que marca a passada e comanda a turba. Grounds for Divorce e  Send Help mostram um público preparado para mais, sendo presenteados com a longa introdução de Horses numa excelente simbiose entre os dois músicos, que vêem a ser interrompidos pelas autoridades impedindo estas que os Big Business a finalizassem, e dando azo a mais uma história e alguma tristeza por parte do público e da própria banda.

Seria sempre tremendamente difícil ultrapassar a fasquia que os Whores haviam deixado minutos antes dentro do Sabotage. Os Big Business não a ultrapassaram de facto, mas isso pode dever-se ao facto de não terem terminado o seu próprio concerto ou simplesmente por se tratarem de sonoridades e interpretações diferentes.

Ainda assim, fica na memória o dia em que os Big Business dizem ter-se sentido novamente adolescentes de 17 anos impedidos de tocar pelas autoridades, num momento em que o relógio marcava ainda cerca das 23.48 do dia em que se comemora a liberdade e a banda ainda não tinha ido além dos 45 minutos de concerto.

Texto – Isabel Maria
Fotografia – Daniel Jesus