No dia 25 de Abril de 2024, o cartaz do SWR 24 teve tudo o que foi preciso para trazer o povo à rua. Os grindsters espanhóis Entröpiah e os thrashers clássicos nacionais Booby Trap aqueceram as hostes, seguidos pelos Analepsy no Abyss stage. Os Analepsy têm dado que falar tanto em Portugal, como no estrangeiro, fruto de uma formação cada vez mais profissionalizada e que representa a pátria dentro e fora de portas sem a lesar. Os artilheiros Marco Martins e João Jacinto deram o apoio necessário ao chefe de pelotão Calin Paraschiv, que, a determinada altura, dividiu a população presente em duas partes para proceder à realização do exercício militar vulgarmente conhecido como wall of death. O pelotão foi essencial para o bom desenrolar inicial de todo o golpe musical conduzido pelo Movimento das Forças Desarmadas.
Ambiente
Entröpiah
Booby Trap
Analepsy
Já se viam muitas pessoas na rua quando os Necrobode iniciaram as suas tácticas de guerrilha de black metal contra os insurgentes que se aglomeravam, agora, no Arena stage e, 50 minutos passados, foi a vez de os thrashers alemães Vulture se apresentarem em Portugal para promoção de “Sentinels”, lançado pela editora Metal Blade apenas duas semanas antes do concerto. Som profissional, cabedal, botas texanas, picos e balas à mistura com a atitude clássica dos anos 1980 foi o que ofereceram em cerca de 50 minutos muito sólidos, com destaque claro para os guitarristas e os seus solos da primeira liga. Os suecos Child seguiram-lhes os passos, mas a praticarem death/grind mais orientado para o punk e ares ligeiros de crust, mas a grande curiosidade do dia 2 era quase unânime – Sargeist.
Necrobode
Vulture
Child
Pela segunda vez em Portugal, os finlandeses são um dos melhores exemplos do melhor que a segunda vaga de black metal (1990-1993, com epicentro na Noruega) deixou como legado. Em pouco menos de uma hora, Shatraug (baixo, voz) e companhia desfiaram um pouco do melhor que os Sargeist têm para oferecer, caso de “Heretic Iron Will”, “Empire Of Suffering” ou “The Shunned Angel”, finalizando o set com um som cristalino e uma prestação irrepreensível ao som de “Returning To Misery And Comfort” do seminal álbum de estreia “Satanic Black Devotion”. Os suíços Nostromo e o seu grindcore matemático e impossivelmente técnico, ora a lembrar Meshuggah, ora a lembrar Fear Factory, deram, talvez, o concerto com mais groove e violência do segundo dia.
Sargeist
Nostromo
Os finlandeses Krypts foram mais uma das bandas a ter em conta dado o seu death metal clássico, ainda que com alguns enfeites sonoros (teclados), algo que costuma agradar às massas de Barroselas, mas essencialmente por se tratar de death metal finlandês, cuja DOP é sinal de diferença e exclusividade, de um som próprio e muito melancólico. Bom concerto que antecedeu o dos canadianos Thantifaxath, praticantes de um black metal muito interessante, progressivo, ambiental, que tanto se despenha no abismo da fusão jazzística, como ascende a planos mais altos com música ambiental e doses de sons cavernícolas praticamente proprietários, sem igual. Levam com o autocolante de “Banda mais para todos os lados” do SWR 24, simplesmente apelativos pela frescura que trazem a um som que parece não conhecer barreiras.
Thantifaxath
Pela segunda vez em Portugal, os I Am Morbid foram, talvez, uma das melhores ideias que surgiram da mente de David Vincent, que poderá ter pensado algo como “Por que é que não crio uma banda e pego nos melhores temas de sempre dos Morbid Angel e que, por conseguinte, também são meus, e corro mundo a tocar o melhor dessa era?”. Em boa hora o fez e, embora a Música em DX os tivesse visto na sua primeira aparição em terras lusas, desta vez, com Pete Sandoval atrás do kit de percussão, a coisa tomou toda uma nova dimensão. Embora o som em Barroselas estivesse ligeiramente melhor do que esteve na sala Lisboa ao Vivo, o mesmo não se pôde dizer do público, desta vez apático, quase estático, embora, na sua maioria, conhecedor de todos os temas desfiados pelo quarteto. No entanto, que metaleiro que se preze é que não conhece seja qual for o tema dos Morbid Angel entre 1989 e 1995?
Estamos a falar da banda cimeira do death metal mundial. Independentemente do que vocês pensam ou gostam, disco nenhum no género é mais importante do que a coroa que é “Altars Of Madness”. É algo que não está sequer aberto a debate! Depois, “Blessed Are The Sick” e “Covenant” são os braços que colocam a coroa na cabeça de Vincent, ao passo que “Domination” é o pescoço que tudo sustenta. Assim, a única dúvida que poderia existir seria se, com apenas quatro discos, os I Am Morbid conseguiriam extrair clássicos suficientes para preencher um set inteiro. Tendo em conta que todos os temas dos três primeiros registos são clássicos indiscutíveis e que cerca de metade do quarto também, a pergunta responde-se a si própria. “Immortal Rites”, “Fall From Grace”, “Visions From The Dark Side”, “Rapture”, “Pain Divine”, “Vengeance Is Mine”, “The Lion’s Den” (lembram-se do eterno solo de duplo bombo de Sandoval, lembram?), “Eyes To See, Ears To Hear”, “Maze Of Torment” … perante factos, não há argumentos.
I Am Morbid
Os I Am Morbid encaixaram-se como uma luva no SWR 24 devido aos alicerces que metade dos seus integrantes escavaram e ajudaram a fazer do death metal o que ele é hoje, não obstante a sua origem ou subgénero. Tanto David Vincent como Pete Sandoval são dos arquitectos mais celebrados dentro da música extrema pelo seu contributo pioneiro ao longo de 35 anos e Barroselas é a praça onde se celebra essa música. Escusado será dizer que foram a banda do dia, dia esse que acabou com o concerto dos saudosistas franceses do blackened thrash/heavy metal Hexecutor, que, também eles, primaram pela competência quando já passavam cerca de vinte e cinco minutos depois da uma da manhã. Mais um dia, mais um sorriso de orelha a orelha no regresso ao hotel.
Hexecutor
