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Holy Tongue, batida de primavera

As primeiras noites de primavera na Galeria Zé Dos Bois tem sempre um travo fantástico de magia, flores e música, seja essa música de que quadrante for, a ZDB é um enquadramento que raríssimas vezes falha. Este ano “calhou” a sorte de termos entre nós, para abrir as portas à primavera, o duo Holy Tongue agora transformado em trio, a passar por Lisboa a caminho do Arquipélago dos Açores. Holy Tongue é um dos vários projectos musicais da multifacetada instrumentista Valentina Magaletti que encontramos com as mãos em coisas igualmente boas como Vanishing Twin, The Oscillation ou Tomaga. Prolífica é talvez a palavra que encontro mais vezes associada a Valentina e se existem situações em que menos é mais, no caso de Valentina mais é sempre melhor. Aqui nesta vida dos Holy Tongue vamos descobrir a colaboração com o produtor Al Wootton e com Susumu Mukai.

A noite começou com os portugueses Gala Drop de Afonso Simões, Nelson Gomes e Rui Dâmaso em palco. A sala da ZDB, praticamente cheia desde o início, rapidamente se encheu também de um nevoeiro denso que ocultou a banda durante praticamente toda a actuação, que em determinados momentos parecia mais a entrada de uma qualquer festa do que um concerto. Fomos rapidamente brindados por ritmos mais que contagiantes, soberbamente inductores de um magnífico transe hipnótico a arrebatarem os nossos corpos para o leve ondular que se ia produzindo em palco. Navegaram a multidão do princípio ao fim dos cerca de 50 minutos que durou o concerto transportando-se e transportando-nos a todos para um sítio muito mais além que o Bairro Alto em Lisboa.

© Nuno Bernardo

Respiramos um pouco entre concertos, no terraço da ZDB, quase impossível de tanta gente que ali se acumulou para descer à terra depois da viagem comandada pelos Gala Drop.

Holy Tongue entram em palco cerca de 15 minutos depois e sem qualquer nevoeiro digno de nota a envolver os três elementos que parecem sincronizados ao segundo como se de uma só entidade se tratasse. A batida ora tribal, ora a deslizar para sonoridades mais próximas do pós punk, ora a entrar no dub mais puro faz com que os Holy Tongue sejam realmente uma das melhores, senão mesmo a mais genuína encarnação musical de Valentina. E tudo isto podemos encontrar facilmente na audição dos Ep’s que antecederam Deliverance and Spiritual Warfare, editado em 2023, e mais ainda neste álbum, mas a verdade é que nada melhor que experienciar ao vivo. Obrigatoriamente. Em cerca de uma hora de concerto sem paragens dignas de nota, a não ser talvez mesmo os sorrisos imensos do público e dos músicos, fica completamente firmada esta outra vida de sons de Valentina Magaletti,  Al Wootton e Susumu Mukai. Voltem rápido.

© Nuno Bernardo