Não querendo puxar o saudosismo, mas não podendo dele fugir, é inevitável não afirmarmos que a música feita em Portugal nos anos 70 e 80 era majestosa e dotada de um brilho que até hoje prevalece. Muito diferente dos dias de hoje em que vemos várias luzes se apagarem com a facilidade com que se acendem. Os Sétima Legião, em 1982, traziam aquele pop rock com sintetizadores a cheirar a Joy Division e New Order com a mistura popular e energia dos The Pogues (que apareceram também em 82) e, em Portugal, não era difícil algo assim ganhar logo espaço e um núcleo consistente de fãs.
Com letras bastante populares que se focavam no amor, na perda, em deus, na terra, no mar e em todas as aventuras e desventuras que o mundo nos dá, o coletivo ganhou relevo já na metade dos anos 80, tendo enchido salas por todo o país.
O regresso fez-se no Festival Portugal ao Vivo no ano de 2013 e esse concerto, ainda com Ricardo Camacho nas teclas terá, na minha opinião, ganho lugar como um dos melhores concertos da noite.
Foi com esta memória feliz e quente que me desloquei na passada sexta-feira, dia 22 de Março ao Capitólio para rever esta emblemática banda da minha infância e foi com os olhos postos no chão e um enorme descontentamento que deixei a sala.
São 7 almas felizes em cima do palco e com uma genuinidade e alegria como se agora estivessem a começar a carreira, gaitas de fole, viola d’arco, acordeão, tambores, entre os habituais instrumentos e a voz de Pedro Oliveira como se não tivesse envelhecido um ano.
“Com Estas Mãos” e as sonoridades de índios, cânticos e natureza abre o palco e recebe cada elemento que dá o mote a “O Baile” e “Noutro Lugar”. O público, praticamente da idade dos elementos da banda, entra em êxtase e entrega-se de corpo e alma até ao fim do concerto.
No entanto, do lugar onde me encontrava, o som não poderia estar pior. Os graves estavam bastante fortes, ao ponto de o chão e o coração tremerem e a música ficar distorcida. Acredito que a sala em questão não seja uma boa escolha, o calor, o palco baixíssimo, o PA…, no entanto, já vi Melvins naquele mesmo espaço (banda com uma sonoridade bem mais pesada) e não tive 1/10 da má experiência de som que tive naquela noite.
O problema é que uma má experiência de som durante um concerto com 21 músicas, faz com que o desencanto e o desalento se apoderem de alguém que não consiga aproveitar nem sentir a música pois a mesma pode estar imperceptível.
Os momentos de tranquilidade surgiram com “Mil Maneiras de Amar”, “Tango do Exílio”, “Porto Santo” e “Tão Só” que, sendo músicas mais acústicas e calmas, não havia sinais dos graves.
O concerto foi todo dedicado a Ricardo Camacho, pessoa por quem fazem isto e continuam na estrada e a homenagem foi merecida!
O desfile de êxitos foi total e a noite teria sido memorável não fosse a má experiência provocada pelo som e condições da sala.
Mas é disto que a vida é feita, a má escolha de pensar em reviver o momento de 2013 que se tornou em tempo perdido. Espero que no dia seguinte, a segunda noite esgotada, o som estivesse um pouco melhor e a experiência tenha sido gratificante.
O concerto terminou com “Pois que Deus Assim o Quis” e houve espaço para um encore onde se ouviram a mítica “Glória” e, novamente, “Sete Mares” que, infelizmente, se diluiu duas vezes numa densidade abrupta de graves.