Concertos Reportagens

facaKILL & 800 Gondomar, a sós no meio da multidão, amor e caos

Sábado à noite, noite de chuva miudinha em Novembro, a Galeria Zé dos Bois acolheu facaKILL, criação de João Dória, guitarrista de Putas Bêbedas e o regresso aos palcos do trio 800 Gondomar cuja informação do Bandcamp versa de forma bastante exacta a seguinte descrição Insane-Garage-noise-art-psych-lofi-punk-fluorescent-international-olympic-heartfelt-rock-band from Rio Tinto, Porto, Portugal. 

Quando a noite começou com o ukelele de João Dória a ecoar no Aquário ainda a casa se apresentava pouco composta, mas os poucos que ali se apresentavam, será que estavam mesmo prontos para esta criação distópica de amor e poesia? Não sei. Possivelmente quem já tivesse presenciado anteriormente tivesse ideia do que ali se iria passar, mas se só tinham ouvido o Soundcloud ou o Bandcamp de facaKILL talvez não. Eu não tinha ideia. E terá sido melhor assim. Se posso dizer que consigo perceber onde João Dória quer chegar, o que é que ele quer alcançar? Não creio. Mas assumo que é impossível ficar indiferente pela nudez e crueza do que nos apresenta em palco.

© Vera Marmelo

O intervalo entre actuações mostrou que as noites podem mesmo ser surpreendentes, e se no final da facaKILL já tínhamos uma casa bem composta, talvez não antevíssemos uma casa cheia a abraçar os 800 Gondomar mal eles entram em palco.

Todo o pátio se esvaziou para encher o aquário, um aquário de fumo e luzes. Uma noite daquelas, cujo bilhete, deixamos esquecido dentro da carteira, porque sempre que o revemos nos enche por completo. O trio de Rio Tinto que anda aí a espalhar caos e amor desde 2013/14 construiu-se com o lançamento homónimo que os traria logo no inicio ao saudoso Sabotage Club, onde regressaram diversas vezes também para apresentar Circunvalação (2016) e Linhas de Baixo (2017). Depois o hiato e o vazio, mas não o esquecimento.

Um público predominantemente jovem e cheio de energia, pronto a seguir o repto lançado pela banda mal entra em palco, a questionar como iriam partir aquilo tudo. Fácil de responder e ainda mais de executar, ao ritmo frenético com que se lançaram ao som que rapidamente encheu a sala e a tornou a parte da frente do palco num imenso bailarico de gente aos pulos e constante crowdsurf encorajado entre cada música pela banda de alma cheia por um público que os segue em todas as aventuras e músicas. Mais forte, mais rápido, ou lento e sentido obrigando todo a sala a sentar-se no chão enquanto percorrem os abraços dos amigos e entre o público e mesmo daqueles que são público mas cúmplices nesta forma de estar.

© Vera Marmelo

Interventivos ou simplesmente para espicaçar as hostes lançam-se farpas e politiquices (Então quem vai votar?, ou Ó Galamba tens mortalhas?), brinca-se e provoca-se estar entre amigos é isto.

Por vezes lamento os hiatos de certas bandas, mas depois quando assisto a estes reencontros percebo que as coisas fazem ou fizeram todo o sentido por terem sido desta forma. Os 800 Gondomar regressaram. Têm uma música nova, AX GTI, que já roda por aí há cerca de um mês, prenuncio que novas e boas coisas estão por acontecer. Estes 3 concertos depois de uma longa ausência parecem ser apenas o retomar de uma intensa e renovada paixão. Sejam muito bem vindos de volta.

Mais fotografias da autoria da Vera Marmelo em https://v-miopia.blogspot.com/2023/11/800-gondomar-zdb.html .