Concertos Reportagens

Graveyard, Um jardim de anjos e demónios onde todos gostaríamos de morar!

Quantas vezes queremos parar o tempo? Ou, até, viajar com ele, sobre ele? Há noites em que somos assolados por vários sentimentos e vontades, deixando que o tempo nos diga em quanto tempo podemos absorver tudo da forma mais lenta possível. 

No passado Domingo, dia 28 de Maio, podíamos ter ficado a descansar, mas do LAV sopravam ventos com o toque quente e audaz que só o rock nos sabe dar e nada melhor que segui-los e deixar-nos entrar noite dentro por aquele ritual intenso, enérgico e cheio de força.

Como em 2017 resultou ser uma combinação perfeita, este ano os The Quartet Of Woah! voltaram a abrir as hostes para os suecos e voltaram a não defraudar nem por um segundo.
O quarteto de prog e psych deu-nos 50 minutos de uma estrondosa descarga de “jarda”(não consigo encontrar palavra que melhor descreva) sonora!
À medida que os anos passam e acompanho o seu crescimento, consigo perceber que para além de todas as valências de talento que este quarteto possui, o que, talvez, os faça criar desta forma é a harmonia, comunhão e entrega que existe entre eles. Fôssemos nós mudar uma peça e já nada disto seria possível! O órgão, se nos apanha de olhos fechados, cria um transe profundo que se torna ainda mais denso com a absorção das vozes e da viagem rendilhada das cordas. As vozes, consistentes, sólidas e penetrantes unem-se em perfeita comunhão de sentidos e de sentir fazendo com que se elevem e nos levem com elas. As composições dos The Quartet of Woah! são palpáveis de tão densas e intensas e conseguem, sempre, saciar-nos o corpo e a alma.
“As in Life” abriu o fim de tarde e um regresso rápido ao filho primogénito da banda, para depois sermos brindados de rojo com 5 músicas novas, 3 já rodadas em alguns palcos e 2 delas (“Communion Of Thoughts” e “Slingshot Sam”) a abrir o apetite e ansiedade para o terceiro disco que está prestes a vir.  

Com o atraso que já vinha de trás os Graveyard entram em palco com a sua tranquilidade Sueca para nos relembrar das saudades que já tínhamos deles. Numa dança elegante feita por um bosque enfeitiçado e coberto de ramificações dos antepassados oriundos dos anos 70, que cruzam solos demasiadamente bem tocados a escorrer rock’n’roll, com acordes quentes de blues e com uma bateria que tanto nos tira o ar, como nos enche dele, os Graveyard ofereceram-nos uma palete de sensações e emoções sem nunca perder o fôlego.


Trouxeram com eles uma verdadeira montanha russa que nos guiou ao misticismo negro de um David Eugene Edwards passando pela clássica garra de um Robert Plant para findar numa aceleração de um Lemmy Kilmister. O alinhamento, composto na sua maioria por canções do seu melhor disco – 
Hisingen Blues – e do seu mais recente – Peace – guiou-nos por vários asfaltos, desertos e florestas em vários ritmos de aceleração ou sensação sem nunca deixar de absorver cada nota no seu esplendor, como se fosse a última que nos restasse nesta noite. O mosh apareceu em bastantes momentos e o crowd surfing também, tal como o aperto no coração em malhas como “Uncomfortably Numb” ou “The Siren” que encerrou a noite. Ainda que fosse o último concerto da tour, os Graveyard provam que instrumentalmente a adrenalina impera em paralelo ao aconchego sonoro. Sem dúvida que Jonatan tem a magia nos dedos e Joakim toda a alma na voz, não deixando de lado a capacidade que Oskar e Truls nos manterem o coração no ritmo certo.

Voltaram para um encore com “Walk On” e “Ain’t Fit To Live Here” e a boca rapidamente secou, à espera de poder beber mais deste néctar salva vidas de nome rock’n’roll.