Concertos Reportagens

The Soft Moon, Uma corrida entre os lobos sob a luz da lua!

O mundo selvagem é algo que tem tanto de misterioso e perigoso como de apetecível. Quando bem explorado, consegue proporcionar-nos momentos quase mágicos onde nos podemos perder e encontrar e onde, acima de tudo, deixamos de lado o peso daquilo que carregamos. 

Na passada quarta-feira fomos empurrados para o meio da natureza, com lobos e uma lua que não era suave, mas ofuscante!
Falo de
The Soft Moon no passado dia 12 de Outubro no Lisboa ao Vivo

Para a primeira parte, a acompa-lhos nas salas europeias, os espanhóis FATAMORGANA e um desencanto seco e ligeiramente aborrecido. O duo composto por sintetizadores e voz mistura a electrónica, com o post punk e a synthwave tentando levar-nos com pouco entusiasmo e sem qualquer esforço para um espaço já muito explorado. A voz da vocalista tem falta de garra e potência, perdendo-se por entre a música. Nem os movimentos robóticos que faz a dançar ou os gritos conseguiram cativar a plateia diante deles. 

No entanto, o melhor estaria para vir! E com um brilho ofuscante que não vinha só dos strobes mas, principalmente, da energia deste trio comandado por Luis Vasquez, os The Soft Moon deram-nos uma boa tareia sonora que funcionou, em simultâneo como uma libertação catártica.
Numa espécie de explosão de sentidos e estilos que iam desde o êxtase à introspecção, da electrónica industrial à darkwave, passando por atmosferas de ambient sem nunca perder o foco e ressalvando a genialidade de Luis, uma hora passou a correr por nós deixou um rasto de puro regalo. Caixa de ritmos, bateria, guitarra, baixo, contentor, pratos e sintetizadores guiaram-nos por entre teias de distorção, batida, fuzz e extrema ofegância. O coração, por vezes já a bater no crânio e o ar que nos faltava serviam para nos darmos conta da escala deste momento. Em certas alturas, senti-me diante de um filho do Trent Reznor com todos os add on’s da actualidade. A voz de Luís, acompanhada de efeitos, parece feita à medida em tom, melodia e ritmo para cada acorde, complementando estas dicotomias sonoras. Do estridente à melodia e da paz à guerra interior, poderíamos sentir uma fuga constante a um ritmo assustador e alucinante. Durante a fuga, cruzámos paisagens obscuras, neutras e brilhantes. De ressalvar a percussão explosiva e o calor intenso do baixo, que elevam tudo a um patamar ainda mais alto, enaltecendo todo este cocktail de perdição. 

Tal como o último disco que fez – Exister – , focado no seu mais íntimo sentir, este concerto foi intenso, denso, emocionante e carregado daquela adrenalina que nos consome, deixando-nos quase sem pio. Quando se compõe e toca com o coração, é difícil não ser desta maneira. 

O melhor da vida é existir. Existir assim, de todas as formas, de modo intenso, sempre!