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40 anos de Simple Minds e 48 de Liberdade!

A “40 Years of Hits Tour” teve inicio em fevereiro de 2020 e, por força da pandemia, ficou suspensa em março  tendo regressado exatamente dois anos depois, e se tudo correr como o previsto, irá terminar no final do próximo mês de julho aqui ao lado em Espanha. Até ao concerto de ontem em Lisboa, os Simple Minds já levavam um número significativo de actuações (26 concertos!). Esperavamos então que estivesse tudo oleado e limado de qualquer aresta que pudesse ser mais incómoda, como um agudo mais desalinhado ou uma tentativa de falsete desenquadrada. E assim foi, esteve tudo no sitio “ganda Jim”!

Com lançamentos discográficos, apesar de tudo com alguma consistência temporal, o que lhes permitiu ser uma banda New Wave que persistiu às modas e a fora delas, a banda de Jim Kerr tem sido constante desde  “Life in a Day” (1979) até 40 anos depois. O seu último álbum, que deu origem à última tour da banda escocesa “Walk between Worlds”, teve lugar em 2018 mas não passou por terras lusas, a última vez que os fãs portugueses poderam usufruir da sua presença foi em 2015.

Tal como em tantos outros espectáculos anunciados em 2020, fomos aguardando as novas datas duas e três vezes adiadas. A Covid19 cancelou tours, anulou contratos, desfez sonhos e adiou prazeres. Felizes os resistentes que pacientemente esperaram pela confirmação da banda escocesa, que em dia de comemoração dos maturados (!) 48 anos de Liberdade em Portugal, partilharam a noite com a simplicidade requintada dos Simple Minds. Requinte sim, na produção videográfica, no guarda roupa dos músicos, no alinhamento dos hits. Simplicidade mais ainda, na atitude do front man (62 anos já batidos) e dos magnificos músicos que o acompanham, alguns desde o ínicio da composição da banda (como o guitarrista Charlie Burchill), mas também na fluidez do espectáculo. Dois sets separados por um intervalo de 15 minutos devidamente anunciado, pois a idade já pesa e os anos de palco mais ainda. As expectativas foram acomodadas em narrativas sonoras mais ou menos descontinuas, onde os grandes hits foram surgindo provocando explosões em uníssono do público, como ‘Don´t you (forget about me)’ já na segunda parte do concerto.

Momentos marcantes que demonstraram a (ainda) jovialidade e a voz cuidada de Jim Kerr como em ‘Belfast Child’, onde o silêncio sentido na sala fez arrepiar os mais distraidos. Projeção de imagens cuidadosamente selecionadas, nos videos e na paleta de cores, que enriqueceram os riffs sublimes das guitarras, da dança das baquetas da magnifica Cherisse Osei (baterista) e da silhueta elegante da jovem teclista. Justiça se faça à voz potente de Sarah Brown que, apesar de segunda voz, é uma verdadeira força da natureza.

Desde o primeiro momento que Jim Kerr estabeleceu uma relação de proximidade com o público, acima de tudo com piadas sobre a origem da banda (“vamos falar devagar porque somos escoceses”), ou sobre o adiamento dos concertos por causa da pandemia (“não queremos ir já embora, estivemos dois anos em casa”). A tão esperada ‘Alive and Kicking’ (que ainda hoje faz furor nas pistas de dança!) ficou mesmo quase para o final num esplendor de luzes cruzadas, a desenhar um arco-iris no regresso à vida do Rock’n Roll! Obrigada Simple Minds por esta grande noite.