Backstage

Entrevista com The Last Internationale. O novo disco, política, Covid, e a vida em Portugal

A dupla norte americana Delila e Edgey formam não só um casal como também uma forte e belíssima banda de nome The Last Internationale

Os The Last Internationale são uma banda revolucionária com um espírito elevado e uma força de furacão em palco. Para além de terem antepassados em Portugal, desenvolveram um carinho muito grande por terras lusas, tendo passado diversas vezes pelos nossos palcos nos últimos anos e conquistado um núcleo de fãs denso e fiel. A sua música, puro rock limado e polido, traz a solidificação de dois grandes talentos e duas grandes almas.
Tendo visto a sua tour europeia cancelada logo no início deste ano, decidiram passar estes tempos de pandemia em Portugal e aproveitar para dar uma prenda aos fãs. Como qualquer banda boa, a prestação deles ao vivo é muito superior à de estúdio e, por isso, gravaram um disco ao vivo nos Estúdios Arda, no Porto, podendo proporcionar aos fãs um pouco daquilo que nos foi tirado este ano: a essência ao vivo de uma banda.
Neste contexto, estivemos à conversa com eles para perceber um pouco mais do seu percurso e ideias.

Música em DX (MDX) – Soube que estão em Portugal desde que este inferno de nome Covid começou. Porque escolheram Portugal (porque gostam de nós ou outra coisa)? Sei que têm família aqui.. estão com eles ou perto deles?

The Last Internationale (TLI) – Escolhemos Portugal porque se tornou uma segunda casa para nós. Confiamos neste sistema de saúde, mais que no americano, por isso pensámos que seria mais seguro ficar aqui, especialmente desde que existe fascismo na Casa Branca.

MDX – Já tinham ouvido falar dos Estúdios Arda? Como é que os conheceram e escolheram para gravar o álbum ao vivo?

TLI – Nós gravámos o nosso segundo disco Soul on Fire nos estúdios Sá da Bandeira. O dono, o João, construiu os Arda recentemente e já se tornou o nosso estúdio favorito. É o local perfeito para gravar um disco ao vivo ou em estúdio.

MDX – Perante a impossibilidade de tocarem ao vivo a não ser por live stream, decidiram que esta seria a melhor maneira de encurtar a distância entre vocês e os vossos fãs, certo? Dar-nos a sensação de que estamos realmente num concerto quando ouvimos o disco de olhos fechados… Acham que conseguiram esse objectivo? Sentem isso quando ouvem o disco? 

TLI –  Sim, o objectivo era oferecer às pessoas o que eles sempre quiseram – um disco ao vivo de TLI. Adorámos o retorno quando colaborámos recentemente com membros de Shaka Ponk aquando do concerto no programa de televisão francês Taratata e por isso convidamo-los a fazer este disco connosco. Temos sem a menor dúvida o sentimento de um álbum ao vivo. Entre tocar com músicos incríveis e trabalhar com uma equipa maravilhosa, as nossas expectativas foram, sem dúvida, ultrapassadas.

MDX – Qual a sensação de gravar com pessoas com quem tocaram uma só vez? 

TLI – O baterista, Ion Moneiur já tinha tocado connosco no ano passado numa extensa tour. Sentimos que nos conhecemos a todos há imensos anos..

MDX – Porque quiseram fazer um documentário sobre a experiência? Foi para se aproximarem ainda mais dos fãs?

TLI – Temos vindo a fazer documentários sobre tudo ultimamente e arrependemo-nos de não ter começado antes. Planeamos apanhar todos os nossos altos e baixos. Quando Edgey estava a vomitar em todo o lado à espera de uma ambulância no México ficou muito chateado quando descobriu que ninguém estava a filmar aquilo. Antes de uma tour dizemos às pessoas que fazem vídeo para gravar tudo, independentemente do que seja.

MDX – A música nova “Running for a Dream” foi escrita neste tempo? É possível que descreva o sentimento geral da actualidade ou foi escrita antes? Estão a preparar um álbum novo com novas músicas ou vão continuar a apresentar o último?

TLI – “Running for a Dream” é uma música nova que Delila tem tocado ao vivo ao piano. Temos uma versão de banda completa com muitos riffs pronta. Temos medo que as pessoas se habituem a ouvi-la em piano por isso é que temos as duas versões. Temos escrito muitas canções e planeamos voltar a estúdio em breve. 

MDX – Porque escolheram Rancid para uma cover? Pela banda ou pela música. Ficou uma versão muito bonita. 

TLI – Foi algo espontâneo. Estávamos na área lounge dos Arda durante as gravações do disco. Eram umas 3 da manhã. Edgey mencionou essa música e questionou o quão louca seria se soasse a balada. As pessoas do estúdio imprimiram logo a letra e a música apareceu mais tarde. Esta música tem um sentimento e significado diferentes enquanto balada. É uma música muito boa. Vamos enviá-la para o Tim Armstrong e esperamos que ele goste.

MDX – Em jeito de curiosidade, podem contar-me como foi andar com os The Who em tour? 

TLI – Foi surreal! Tivemos oportunidade de passar tempo com eles no backstage e explorar a mente do Pete.

MDX – Mudando um pouco de assunto. Como pessoas revolucionárias que tocam músicas revolucionárias, como acompanharam as eleições nos EUA? Como se sentiram quando aquela pessoa de nome Trump perdeu? 

TLI – Soube bem vê-lo perder mas não temos ilusões sobre a pessoa para quem ele perdeu. Nós continuamos a não acreditar que vivemos num tempo em que pessoas como o Trump podem ser eleitas.

MDX – Como veem o futuro da indústria da música depois do Covid? Como veem o vosso futuro? 

TLI – Como músicos, temos de nos adaptar para sobreviver. Supostamente íamos tocar em cerca de 20 festivais no verão passado. Foram todos cancelados. claro. Como resultado disto perdemos dinheiro que íamos usar no próximo álbum, em publicidade e em todas as outras despesas da banda. Tentámos recuperar alguma coisa com live stream e com o álbum ao vivo. Por outro lado escrevemos novas músicas que de outra maneira não teríamos escrito se andássemos em tour. Esperamos que as coisas comecem a abrir no final de 2021, sendo que tudo é incerto. O que quer que aconteça, há muito mais espaço para improvisar e melhorar a arte online. Com o streaming a ficar mais popular, por exemplo, há bandas em Portugal ou na Europa que não têm recursos para fazer live streams. Há uma mão cheia de empresas que, na nossa opinião, não são o ideal. Precisamos de plataformas melhores, empresas que ofereçam boas condições e serviços para streaming e mais clubes envolvidos nisto, também.

MDX – Querem dizer alguma coisa aos vossos fãs portugueses? 

TLI – Sim! Mal podemos esperar para ver-vos na estrada! Temos saudades de rockar com vocês e conversar depois dos concertos. Mantenham-se a salvo e com esperança.

Podem ouvir o disco aqui e participar desta aventura o mais parecido com um concerto que podemos ter de The Last Internationale, basta fecharem os olhos depois de carregar no play.