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As Noites de Verão da Filho Único

Atingindo uma década de edições, a Filho Único apresenta o ciclo de concertos “Noites de Verão” 2019, uma co-produção com a EGEAC, Galerias Municipais de Lisboa e o Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado. No décimo como no ano de incepção, a marca do programa pauta-se por promover músicos e espectáculos com coragem, integridade, inteligência e honestidade emocional, sendo gratificante o lugar que o mesmo foi ganhando no mapa cultural da cidade na época estival, sustentado pela curiosidade e confiança de público de Lisboa e o que a visita.

NOITES DE VERÃO 2019

Concertos às sextas-feira, pelas 19h30 e com entrada livre:

julho | Jardim dos Coruchéus, em Alvalade

05 de Julho | Vado Más Ki Ás (CV/PT)
12 de Julho | Curl (UK)
19 de Julho | HHY & The Macumbas (PT)
26 de Julho | Sho Madjozi (ZA)

agosto | Jardim das Esculturas do Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado

02 de Agosto | Raw Forest (PT)
09 de Agosto | Maria Reis (PT)
16 de Agosto | Oren Ambarchi (AU)
23 de Agosto | Peter Evans (US)

05 de Julho | Vado Más Ki Ás (CV/PT)

Osvaldo Martins, Português de origem Cabo-verdiana crescido no Bairro 6 de Maio na Damaia (“favelado do six”), mais conhecido por Vado Más Ki Ás ou simplesmente Vado, é um dos nomes mais aclamados da nova geração de rappers em Portugal. Um escritor inteligente e vivido, com uma enunciação clara nas suas rimas porosas em crioulo, português e inglês, tem tido um contributo convicto e distintivo na progressão imparável do rap crioulo nesta década na tuga.

Focado na hustle, por isso que ele tá rijo, citando de dois temas seus, a sua perspectiva e plano de caminho rumo a um futuro mais auspicioso surge como inspiradora proposta – a par, geracionalmente falando, de outros afro-portugueses criativos emergentes de bairros sociais e guetos, como DJ Marfox ou Deejay Télio – de alternativa à por vezes aparente inevitabilidade da resposta pela marginalidade pelos mais jovens ao racismo, pobreza e brutalidade policial ao entorno que Vado tão poderosamente ilustra na sua expressão.

12 de Julho | Curl (UK)

Em permanente fuga do status quo, Mica Levi tem-se desmembrado em múltiplos projectos desde o final dos Micachu & The Shapes. Assinou as bandas-sonoras de “Under The Skin” e “Jackie”, esculpiu o brilhante “Devotion” de Tirzah e tem assinado colaborações com Dean Blunt. Curl é um novo desafio, colectivo de South London com três cabeças nucleares, Mica Levi e os MCs Coby Sey (também colabora com Tirzah) e Brother May, aos quais se juntam artistas de diferentes áreas com soluções híbridas e adequadas à ocasião.

Para o concerto de Lisboa trazem TONE (produtor da contagiante “U Kno”) e Rox. Um acontecimento que cumpre as funções de Curl enquanto projecto multidisciplinar que cria a festa sem barreiras de géneros musicais, estruturando a pop com a certeza de que as subculturas musicais, especialmente as de dança, lhe encaixam bem e que são próprias para organizar a melhor block party. Seja em Haia, em Bristol ou nos Coruchéus. Londres em comunhão com o mundo.

19 de Julho – HHY & The Macumbas (PT)

A música dos HHY & The Macumbas que existe nos seus dois álbuns editados até à data, “Throat Permission Cut” (2014) e “Beheaded Totem” (2018), cresce para um ritual celebratório ao vivo. O colectivo do Porto, liderado por Jonathan Saldanha, cria música cerimonial a partir de um dream team nas secções de percussão (João Pais Filipe, Brendan Hemsworth, Frankão) e metais (André Rocha, Álvaro Almeida e Rui Fernandes). Ao vivo a música vive em constante urgência, um estado de euforia próprio de um ritual, sempre em contacto com a visão-dub de Adrian Sherwood, a existência em contínuo dos Boredoms ou a infinidade sónica de Fela Muti.

26 de Julho – Sho Madjozi (ZA)

Jovem rapper e poeta sul africana que conquistou a atenção do Norte global após o êxito do tema “Huku” e na recta final do ano passado lançou o seu disco de estreia “Limpopo Champions League“. Vive e actualiza a sua herança Tsonga cantando preferencialmente em Xitsonga, sendo que viveu também nos Estados Unidos e em Dar es Salaam, na Tanzânia, onde apanhou na adolescência a alcunha de Majozi, pela semelhança física com uma personagem da telenovela ‘Generations’ da SABC1.

Para muitos a it girl Pan Africana do momento, é sem dúvida uma artista independente em franco reconhecimento internacional contribuindo para uma nova identidade Sul-Africana pós-Trevor Noah e Black Coffee, tamanho é o apelo e frescura da sua música vencedora que reúne vibes Tsonga, gqom e Afritrap em glosa vibrante de imagem e atitude.

02 de Agosto – Raw Forest (PT)

Um dos alter egos de Margarida Magalhães, cuja origem remonta a 2011 enquanto entusiasmo na pesquisa pelo universo da early electronic music, as correlações com a música concreta, a dimensão kitsch do easy listening, a liturgia do drone, a new age, e por diante. Bolou as Listening Sessions, onde se propunha a construir ambientes e paisagens através de seleção de músicas e fragmentos, e em 2014 a convite da curadora Margarida Mendes realiza a primeira na Barber Shop, “Listening Session for Plants“.

A partir daí várias outras aconteceram e o processual que se desenvolvia cunhou as formas iniciais com que – e como – começou a compor, desde logo na banda sonora para o vídeo “The Current Situation” do artista Pedro Barateiro em 2015. O seu primeiro EPPost-Scriptum” acaba de ser publicado na editora Labareda e pode ouvir-se como uma obra distópica singular abençoada pelo espectro da Idade das Trevas que se abateu sobre a nossa Internet, a desilusão associada, e o que virá depois.

09 de Agosto – Maria Reis (PT)

Maria Reis apresta-se a lançar o seu novo disco “Chove na Sala, Água nos Olhos“, uma edição de autora. Sucede ao EPMaria” de há dois Verões, na Cafetra, e a um percurso de sonho vivido nas Pega Monstro. Tem também colaborado com nomes como Sara Graça, Joana da Conceição, Gabriel Ferrandini, Miguel Abras ou Rudi Brito em concertos, apresentações artísticas multimediais, edição de música e de poesia.

Chove na Sala, Água nos Olhos” chega-nos maravilhoso, curto e directo, animado de dúvidas e sentenças que a sua experiência achou nas acções humanas, expressas em breves e elegantes canções. O sensato e o ridículo, as alegrias e as tristezas, as melodias e os ritmos, as costuras e os arranjos, muito nesta primorosa colecção da Maria nos mostra o seu dom de incidir sobre aquele núcleo permanente, atemporal da realidade humana. E daí decorre a sua identidade e admirável actualidade.

16 de Agosto – Oren Ambarchi (AU)

No ano em que Oren Ambarchi celebra 50 anos e a sua editora Black Truffle, um canal único para a divulgação de música electrónica e experimental, festeja o seu décimo aniversário, temos o prazer de recebê-lo nas nossas Noites de Verão. Na bagagem traz “Simian Angel“, o seu mais recente trabalho que será editado em julho na Editions Mego, o sucessor do magnífico “Hubris” (2016).

Depois de três álbuns em que trabalhou diferentes linguagens e instrumentos na criação de música mais rítmica/minimal, Ambarchi regressa ao seu instrumento de eleição em “Simian Angel“, a guitarra, deixando-se influenciar por uma paixão de há muito tempo: a música brasileira. Ouvir-se-á a sua guitarra no Chiado, a solo, e a sensibilidade de um artesão que consolida bem técnica, harmonia e experimentalismo.

23 de Agosto – Peter Evans (US)

No ano passado, Peter Evans celebrou a sua mudança para Lisboa, depois de década e meia a viver em Nova Iorque, com dois concertos em Lisboa e Porto, com a Orquestra Jazz de Matosinhos. Para a última Noite de Verão 2019 espera-nos um concerto bem diferente.

O trompetista norte-americano actuará a solo, num palco que servirá as suas estruturas de improviso, com origens no jazz, mas que atravessam géneros e experiências sonoras, fruto de anos de colaborações com John Zorn, Jim Black, Matana Roberts, Nate Wooley, Joe McPhee, Mary Halvorson, entre muitos outros. O trompete de Peter Evans é hoje uma verdadeira instituição.

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Fotografia (capa) –  Filho Único