Concertos Reportagens

The Vacant Lots, música para desintoxicar

The Vacant Lots é uma dupla norte-americana (Nova Iorque) de músicos de Shoegazing (um subgénero do indie rock), onde a eletrónica se funde com a expressividade da guitarra e com a percussão. No rescaldo das marchas populares, manjericos e “apita o comboio”, sexta-feira passada Jared Artaud (voz e guitarra) e Brian MacFayden (percussão, sintetizadores e teclas) estiveram no Sabotage Club no Cais Sodré para uma actuação de quase uma hora.

Música oxigenada por ritmos dançantes, onde a subtileza da electrónica se cruza com os acordes de um pós-punk psicadélico. Com dez anos de existência, os The Vacant Lots editaram dois álbuns (mais um auto-editado) e mais uma dezena de singles e EP´s. O que trouxeram a Lisboa foi um alinhamento eclético que passou por “Departure” (2014), o seu mais recente longa-duração “Endless Night (2017) e o último single “Bells” (Maio 2019). Próximos dos Black Rebel Motorcycle Club (BRMC), foram banda de apoio nomeadamente em Zagreb um dia antes de actuarem em Lisboa.

Simpatias e apresentações à parte subiram os decibéis da casa do Cais Sodré (reforço do PA) e tocaram uma hora a direito e sem atropelos. Jared Artaud que para além de ser a voz grave da dupla, é também o homem das palavras escritas tendo editado um livro de poesia “Empty Space” em Fevereiro de 2014. Uma postura caracterizada pelo pós-punk dos anos 1980 (a fazer lembrar Ian McCulloch), tocando de costas para o público o inicio de quase todas as músicas, e agradecendo uma ou outra vez as palmas do público que acabou por (quase) encher a sala.

Brian MacFayden, uma espécie de polvo musical em que conseguia tocar bateria, teclas, sintetizadores e cantar (o tom mais agudo, que intercalavam entre as músicas tornando a sonoridade vocal num equilíbrio perfeito). Uma capacidade de coordenação motora incrível, onde a destreza e o domínio do prato emitiam sons psicadélicos precisos e sem um único deslize. Os decibéis estavam acima da média, mas a harmonia melódica superava todo e qualquer ruído mais agressivo.

Um concerto limitado ao manuseamento de instrumentos e de voz, com uma receptividade simpática dos que estavam a assistir. “Mad Mary Jones”, um dos singles mais conhecidos da banda, encerrou o concerto que não teve direito a encore. Ficámos sem perceber se estavam cansados ou se não são mesmo dados a conversas, porque no que diz respeito ao concerto em si (que é o que interessa na verdade!) foi muito bom. Em semana de santos populares, uma noite para desintoxicar.