Backstage

Ossos D’Ouvido, o ecletismo na identidade

Os Ossos D’Ouvido (ODO) são uma banda de Benavente que anda a dar cartas nas lides da música desde 2014. Determinados nos seus objectivos e no seu percurso, foram vencedores no Concurso Nacional de Bandas promovido pelo Reverence Festival Valada e actuaram na 3ª Edição no palco Indigente, em 2013. Regressaram ao Cartaxo em Outubro de 2018 nas Cartaxo Sessions. Já em 2019, a MDX teve oportunidade de os ver num show-case integrado nos Dias da Música Independente no Palácio Baldaya em Lisboa.

Como músicos independentes, desde 2014 que têm editado os seus trabalhos com especial enfoque nas actuações ao vivo, as quais contam com convidados e amigos dos músicos. Pouco preocupados em se identificarem com um registo musical único, criaram a sua identidade num ecletismo que lhes permite uma maior liberdade de composição e de transformação. Sendo uma banda emergente, não poderiam deixar de participar na primeira edição do Festival Emergente que irá acontecer já no próximo fim-de-semana no Lisboa ao Vivo. A MDX irá embarcar na sua “viagem supersónica” dia 16 de Fevereiro e aquecer os “ossos do ouvido”.

Quisemos conhecer um pouco mais sobre o percurso destes músicos de excelência que se conhecem desde sempre: o Diogo Lourenço (guitarra), o Pedro Almeida (bateria) e o João Massano (baixo).

Música em DX (MDX) – Falem um pouco de vocês. Como é que se conheceram?

Ossos D’Ouvido (ODO) – Conhecemo-nos desde sempre e crescemos juntos, sendo que o Pedro (baterista) e o João (baixista) são primos direitos. Começamos a tocar os três mais ao menos na mesma altura, por volta dos 7 anos, e desde então que surgiu o nosso interesse em conhecer o universo musical. Aos 13 anos já tocávamos juntos e a partir daí fomos evoluindo musicalmente como grupo.

MDX – Qual foi o momento em que decidiram formar uma banda mais profissional?

ODO – Com 16 anos tivemos uma proposta para um concerto na nossa vila e juntámos alguns dos temas que já tínhamos composto em formato acústico. Durante 6 semanas trabalhámos as músicas com instrumentos eléctricos e tocámos no dia 8 de Março de 2014. Esse foi o nosso primeiro concerto como banda e foi aí que surgiram os Ossos D’Ouvido. O feedback dos concertos que fomos dando foi bom e a pouco e pouco fomos encarando o projecto com seriedade.

MDX – Até que ponto os prémios que ganharam (concursos de música), influenciaram essa decisão?

ODO – Os prémios sabem bem e foram importantes no percurso, no entanto sentimos que a nossa proposta foi sempre séria. Inicialmente era um pouco mais “Naif” mas já tínhamos um grande objectivo em mente.

MDX – São uma banda bastante ecléctica no registo musical. Mas há sempre uma altura em que a banda ganha uma essência, uma identidade. Já chegou essa altura para vocês?

ODO – A característica ecléctica da nossa proposta musical faz parte da nossa própria identidade. Trabalhamos com a ideia de que a se vai construindo, assumindo várias formas, logo, também  não tem uma altura, um momento que passe a existir. Para o bem do nosso projecto vivo, é importante que a sua identidade esteja em constante mutação. A essência é também ela o próprio caminho que fazemos, entre e durante musicas, os caminhos por onde caminhamos e apontamos.

MDX – Quais as vossas influências e o que é que vos interessa mais neste momento, português ou não?

ODO – Falando de géneros musicais interessa-nos o Kraut Rock, o Rock Psicadélico, a World Music, estilos que temos acompanhado tanto em concertos, como nos discos. Mais concretamente podemos referir alguns dos nomes que para nós são uma influência no nosso ambiente musical. Kungens Man, Papir, Kikagaku Moyo (que lançaram um disco recentemente produzido pelo Bruno Pernadas), Tinariwen, Bill Frisell, Hun Hur Tur, Maserati, Mr. Bungle, Brian Eno.

MDX – A questão da voz nunca foi importante para vocês. Ainda mantém essa opinião?

ODO – Sim, nunca tivemos o hábito de cantar e cada um de nós tenta expressar a sua voz através do seu instrumento. O nosso som representa uma junção e interacção dessas vozes. Porém, tivemos algumas experiências com voz, que cruzam a poesia e a música.

MDX – Gostavam de partilhar connosco como foi a “aventura” do último CD?

ODO – Tudo começou com uma proposta feita pelo João Oliveira, fundador da Watermelon Records, que nos desafiou a gravar um álbum em Inglaterra, Leicester. Aceitámos a proposta e dedicámos algum tempo a compor e preparar o álbum para gravar. Com tudo pronto fizemos as malas e viajámos para Leicester com um plano de gravação daquilo que tínhamos preparado. Foram 9 dias difíceis, onde passámos 12 horas por dia em estúdio, mas foram muito enriquecedores. Nas horas vagas conseguimos também dar um concerto na cidade e uma entrevista e live session para a rádio local. Estamos ansiosos por partilhar o resultado da nossa “aventura”.

MDX – Irão estar na primeira edição do Festival Emergente, exactamente como uma banda emergente. Qual a vossa opinião sobre este género de iniciativas? E o que é que o público pode esperar dos Ossos D’Ouvido no dia 16 ?

ODO – Há muita música a ser feita em Portugal que precisa deste tipo de iniciativas para ser partilhada. Projectos musicais com propostas muito inovadoras que serão o futuro da música portuguesa. Este tipo de iniciativas é um grande apoio e incentivo para os artistas. No dia 16, para além da viajem do costume vamos ter surpresas supersónicas e inéditas.

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Fotografia (capa) – Marta Santos