Concertos Reportagens

O Gajo, a primeira estação e um coração cheio!

Hora de ponta de uma quinta-feira à tarde. Uma estação de comboios que, para além de carris, ferro e passageiros, carrega uma história e várias estórias consigo. Foi, neste cenário, no átrio da Estação de Comboios do Rossio que, passamos um fim de tarde intenso, na passada quinta-feira dia 7 de Fevereiro.

O Gajo é João Morais e a sua guitarra campaniça e decidiu, este ano, lançar 4 EP’s, cada um numa estação de comboios de diferente, com o nome da mesma, e em cada estação do ano.

Na passada quinta-feira, deu-nos a conhecer Rossio, na estação que lhe dá o nome. Amigos, curiosos e fãs formavam um círculo atento e aquecido ao redor do pequeno palco onde se encontrava João. Este, com o cenário tão confortável e característico que o acompanha, brindou-nos com pouco mais de 45 minutos de emotividade, descontração e, acima de tudo, beleza. Depois de uma introdução profunda, O Gajo deu-nos a mão e levou-nos a passear. De olhos fechados, pudemos sentir o calor de cada acorde e a intensidade harmoniosa de cada compasso. “Zé do Telhado” fora a segunda faixa a ser tocada e o single deste EP levando-nos a saltar por entre telhados alaranjados e a correr de encontro a um horizonte fugaz. “Varredor” veio depois de “A Navalha da Rua Escura” e a cada passo que dávamos o coração apertava mais e, ao mesmo tempo, batia pausadamente, num gesto que ia encontro das paisagens bonitas e tranquilizantes que íamos percorrendo. Percussão amarrada ao pé esquerdo e um bombo em miniatura em frente ao pé direito faziam o ritmo daquilo que prova a beleza da simplicidade. O “Cacilheiro” já é de outro EP e tirou-nos das linhas de ferro para nos acompanhar numa viagem que atravessa o rio. De seguida, uma novidade que podemos encontrar neste EP, uma voz a declamar na faixa “O Caminho é o Poeta”. A voz de José Anjos criou uma espécie de invólucro inquietante, pesado, forte e denso que  ficou a ecoar em loop na nossa mente numa “linha certa, incerta” mas firme. “Sapatinhos de Ferro” onde o grupo de crianças bailou em círculos genuínos sem pesos nem preconceitos. “Bailão e Pedro Cigano”, seguiram já perto do final aumentando o ritmo, numa homenagem a personagens reais da vizinhança de outrora que nos marcaram para sempre. Foram eles que encerraram Rossio, havendo ainda tempo para mais duas faixas antes de a viagem acabar e a realidade regressar a cada alma ali presente.

Aguardamos, ansiosamente, pela próxima estação, “Santa Apolónia”. 

@ Vera Marmelo

Fotografia – Vera Marmelo | v-miopia.blogspot.com
Texto – Eliana Berto e Carla Sancho