Concertos Reportagens

Idles, sapos e abraços numa noite perfeita

Abriram o palco Primavera Sound no Porto, em Junho, no único dia que o sol secou a relva. Gozaram com a passerelle que fora montada para os rappers que iriam actuar mais para a noite. Trouxeram um álbum, “Brutalism” (2017) e mais uns quantos EP´s com singles de peso, e renderam-nos à evidência que tinha nascido em Bristol uma das melhores bandas punks da europa sem Brexit. Na altura nem o nome da banda se encontrava a bold no line-up do festival, e isso despertou a curiosidade dos outsiders, daqueles que vão aos festivais para serem surpreendidos. A descontração e o deboche do guitarrista de bigode à anos 70 em tronco nu (Mark Bowen), a performance carinhosamente punk de toda a banda deixou-nos com água na boca para vê-los um dia em nome próprio numa sala acolhedora.

Em Agosto, “Joy as an Act of Resistance” saiu para as lojas com o propósito de nos deixarmos de hipocrisias e sentirmos a vida tal como ela é, com muita dor que nos corroí a alma. O anúncio do seu regresso a Portugal para dois concertos em Novembro, caiu como uma luva e esgotou as duas salas, que por sinal foram escolhidas à medida para eles, Hard Club no Porto dia 26 e Lisboa ao Vivo (LAV) no dia 27.

Ouvimos relatos entusiastas dos amigos da invicta e já expectava-mos que o concerto de Idles ficaria tatuado na memória episódica. Mas assim tanto, não. Ontem o LAV foi a sala mais acolhedora do mundo, de tamanho e ambiente. Na primeira parte convidaram-nos a conhecer John, um duo londrino que nos aqueceu para uma noite que jamais esqueceremos.

Pouco mais de uma hora e meia em que houve espaço para tudo, desabafos dolorosos, partilha de afectos, conversas, sapos e abraços, miúdas no palco e até o António Costa na fila da frente! Poderia ter sido dez minutos pelo prazer, ou um dia inteiro pela intensidade. O alinhamento não foi o mote de coisa nenhuma, o mosch e o crowdsurfing não tiveram altos e baixos, foram permanentes! A questão é que cada música dos Idles é um dossier político da câmara dos lordes, o desemprego, a exploração das classes trabalhadoras, a imigração, a homofobia; e o Brexit. Mas também é o tocar do dedo nas feridas mais profundas, como a depressão, as adições, a doença (da sua mãe) e a morte prematura (da sua filha). “My friend is so depressed / He wishes he was dead / I swam inside his head / And this is what he said”, 1049 Gotho (Brutalism).

20181127 - Concerto - Idles + John @ Lisboa Ao Vivo

A sensação com que ficámos, foi que podemos ir ver todos os concertos desta tour que nunca nos cansamos, pois serão certamente todos (muito) diferentes (até o próprio alinhamento). A performance em palco, a capacidade de envolvência e proximidade com o público não são definitivamente para todos e os Idles mostraram que podem dar cartas à malta que já tem uma discografia extensa e muito asfalto percorrido. Recordo, os Idles estão a promover o segundo longa duração.

Todas as performances divertidas e enérgicas de todos os músicos da banda, com destaque para o vocalista Joe Talbot (o abanar das ancas) e do guitarrista Mark Bowen foram contagiantes para todos. Ainda se falava se haveria encore, mas não lhe sentimos falta, os Idles foram de uma generosidade e uma entrega inigualável. Não poderíamos pedir mais nada, foram perfeitos!

 

Promotor – Everything Is New