Comecei a ouvir Riverside ainda em adolescente. Tinham apenas um disco, Out of Myself, que descobri quase como consequência de outros discos como Damnation, dos Opeth, Train of Thought, dos Dream Theater, ou Natural Disaster, dos Anathema. Digamos que cheguei ao final de 2003 bem armadilhada para os tempos que aí vinham. Destas quatro bandas, apenas ainda tinha visto Dream Theater ao vivo. Sim, é verdade, continuam-me a escapar Opeth e Anathema, mas nunca se sabe o futuro.

Voltando aos Riverside, sempre achei que eram uma banda que passava algo despercebida em Portugal. Porém,  no dia 3 de Novembro, no Lisboa ao Vivo, pude constatar que mesmo que o público não fosse uma multidão (ainda assim a casa estava muito bem composta como se pode ver pelas fotografias), os presentes mostraram uma dedicação e uma paixão dignas de nota. Diria que a grande maioria estava vestida a preceito, com algum tipo de adereço relacionado à banda e, sempre que incentivados, os presentes fizeram-se ouvir mostrando a sua adoração.

© Joana Marçal Carriço | Free Music Events

O concerto em si mereceu tudo isso e muito mais. Em palco, um quarteto de luxo. Mariusz Duda no centro, liderando com a sua voz, guitarra acústica, e com a sua mestria no baixo, Michał Łapaj nos teclados, sintetizadores e back vocals, qual assombro electrizante, Piotr Kozieradzki na bateria, qual ser vivo galopante e Maciej Meller na guitarra, preenchendo, em tour, um lugar acarinhado, não desiludindo de maneira alguma. Ao longo de todo o concerto estiveram irrepreensíveis e era palpável a energia e cumplicidade partilhada em palco. As composições intricadas de alguns temas fizeram-nos ficar hipnotizados entre os dedos serpenteantes de cada um dos membros da banda, ora no baixo, ora nos teclados, ora na guitarra, ora nos braços imparáveis do baterista.

O reportório foi o sonho de qualquer fã de Riverside, principalmente para os mais nostálgicos, como eu, que gostam de retornar a alguns temas mais antigos. Embora os temas do último disco fossem os mais cantados, a verdade é que sempre que se voltou a Out of Myself, Second Life Syndrome ou até Rapid Eye Movement, havia um grupo mais pequeno que se manifestava veementemente. Foram duas horas intensas, em que tudo esteve no ponto que devia. Do som ao elaborado plano de luzes, não faltaram também projecções evocativas em vídeo. Ao longo dos temas, e dadas algumas letras mais emotivas, foi possível sentir euforia e alegria em palco, mas também desolamento e angústia, qual catarse. Mas não é este um dos maiores poderes da música?

© Joana Marçal Carriço | Free Music Events

Wasteland, o mote da tour que trouxe os Riverside a Portugal, é um disco que vem no seguimento de um período doloroso, após a partida do antigo guitarrista Piotr Grudziński. Contém temas que expelem desde uma certa agressividade a uma melancolia quase dolorosa, fruto da perda, mas também de quem precisa seguir em frente. Mariusz Duda, mais do que uma vez, reforçou que este disco é uma espécie de recomeço, mas sem nunca esquecer, e em memória, de Piotr. A própria sonoridade de Wasteland acaba por se distinguir dos discos anteriores, sendo que o próprio vocalista admitiu que já não são propriamente a tal banda de metal progressivo, mas o que são é para continuar e partilhar, usando sempre a música como veículo de ligação e de quebra de preconceitos. A noite terminou com uma belíssima homenagem e a promessa de regressarem brevemente. Espero que sim, pois esta foi sem dúvida uma noite memorável.

Alinhamento:

Acid Rain
Vale of Tears
Reality Dream I
Lament
Out of Myself
Second Life Syndrome (first part only)
Left Out
Guardian Angel
Lost (Why Should I Be Frightened By a Hat?)
The Struggle for Survival
Forgotten Land
Loose Heart
Wasteland

Encore:
The Night Before
02 Panic Room
River Down Below

Promotor – Free Music Events

Deixa um comentário