Backstage

The Fresh & Onlys, Entrevista a Wymond Miles

The Fresh & Onlys de Tim Cohen estreiam-se finalmente em Portugal depois do cancelamento da tour europeia de 2014 que tinha passagem no Vodafone Mexefest.

Actuam hoje no Texas Bar em Leiria e amanhã no Porto no Maus Hábitos, para apresentar o seu sexto disco, Wolf Lie Down, LP editado em 2017.

Falámos com o guitarrista Wymond Miles, para perceber o momento em que a banda se encontra em contexto do mais recente disco e da sua vinda a Portugal.

Música em DX (MDX) – Os The Fresh & Onlys começaram em 2008. Achas que o termo garage rock ainda se aplica?

Wymond – Estaremos sempre associados a esse género. Nunca o escolhemos nem nos distanciámos dele. Esse estilo de guitarra que estava no primeiro 45 ainda está em toda parte de Wolf Lie Down, assim como a arte pop psicadélica que lá está desde o primeiro dia. Formámos-nos em S. Francisco na era dos Ohsees com quem tocámos e fizemos concertos juntos, mas nós, e por comparação fomos sempre um cavalo negro multifacetado.

MDX – Estava a pensar que há um certo sabor pós-punk na faixa “Wolf Lie Down” e algumas influências mais europeias em músicas antigas como “Animal of One”. Actualmente ouvem muitos artistas europeus?

W – “Wolf Lie Down” realmente soa-me muito, muito a Ramones, a garage, ou a chugging norte-americano de três acordes. Não gosto de etiquetas de género ou rótulos que em geral servem apenas para vender, marginalizar e compartimentar. Algemam a criatividade assim como a individualidade humana. “Animal of One” dá muitos acenos ao som britânico do pós-punk Cure, mas também acena ao western spaghetti italiano mas o solo de guitarra é todo Neil Young. E sim, ouvimos muita música europeia colectivamente. Na verdade o nosso baixista Frank Ene ouve quase exclusivamente música francesa e dinamarquesa nos dias de hoje.

MDX – De que forma as audiências na Europa são diferentes de S. Francisco ou dos EUA? A música orientada para as guitarras é mais atraente para o público europeu?

W – Gostamos de experienciar novas culturas e de ter um público de outros mundos que habitualmente está longe das nossas vidas diárias, é um presente. Obviamente que, se fosse a comentar a União Europeia de uma maneira homogénea, não estaria a prestar um bom serviço. S. Francisco mudou dramaticamente e é principalmente uma península rica que importa a sua cultura em vez de criá-la nos dias de hoje mas, ainda assim estamos ligados a uma comunidade inspiradora que está conectada a um segmento geracional mais antigo do que a actual tecnologia/capital de risco/materialismo digital que S. Francisco atraiu.

MDX – Estiveram com data marcada para tocar em Portugal antes, e por algum azar tal não se concretizou na altura. O que podemos esperar dos dois concertos de Setembro em Leiria e Porto? Uma mistura do novo disco e de músicas antigas?

W – Estamos empolgados por finalmente estarmos em Portugal. Esperamos ansiosamente por isso há muito tempo. Foi uma decepção muito embaraçosa sermos forçados a cancelar a digressão em 2014, mas a vida pessoal e a saúde de alguns dos membros da banda estavam a cair aos pedaços naquela época. Temos uma coleção de 32 músicas para esta digressão e o set-list abrange toda a carreira e os respectivos estados anímicos da banda.

MDX – Sobre a escrita de músicas e arranjos, como funciona no agora da banda e como o foi para o último álbum, Wolf Lie Down?

W – Escolhemos de um vasto conjunto de demos do Tim Cohen que compartilhámos de um lado para o outro, daí até então, até que a forma de um LP começou a emergir.

MDX – As músicas mais recentes soam menos a “Summer Of Love” do que quando começaram e têm uma abordagem mais rock, concordas?

W – “Summer of Love” foi uma coisa de ironia. As letras são bastante sombrias, houve ironia intencional mas a musicalidade desse tema ainda é encontrada em muito do que fazemos. Podemos é ser mais abrangentes do que costumávamos ser mas, a idade e o blues da era moderna capitalista reflectem isso.

MDX – Sendo vocês de S. Francisco, achas que é um factor essencial na maneira como as músicas soam?

W – Sim, e não. É o nosso terroir. As nossas famílias nasceram e foram criadas lá. Somos uma das poucas bandas que por lá começaram e que por lá continuaram mas a viver por toda parte, e fomos igualmente nutridos pela cena de New York (woodsisr/capturedtracks/Sacredbones/cena diy).

MDX – Wymond, obrigado por esta entrevista. Algumas palavras para o vosso público português?

W – Embora nenhum de nós tenha aí estado, consigo sentir um espírito de regresso a casa à nossa espera em Portugal. Obrigado!

Entrevista – Pedro Corte Real