Concertos Reportagens

Ryan Sambol e The Men, as duas Américas

O Musicbox Lisboa poderia ter-se transformado na última 4ª feira, num bar texano com portas de vai-e-vem, mesas de tábuas corridas e bancos de madeira gasta. Com um barman com um abdómen avantajado, com pingas de gordura de ribs a pingar a barba comprida. Um bar meio vazio, a meia-luz amarelada pelas lâmpadas empoeiradas e com cascas de amendoim ressequido. Dois ou três homens sentados, encostados a garrafas de Budweiser ou Bourbons meio vazias, com olhares distantes focados nos cactos esverdeados à beira da estrada.

20180530 - Concerto - Ryan Sambol + The Men @ Musicbox Lisboa

O ex-vocalista dos The Strange Boys (Austin), banda de rock texana intensa e fugaz , proporcionou-nos exactamente este cenário. A simplicidade do americano aproximou o pouco público que estava na sala (pouco adequada ao registo do músico) para a sua frente. Com um alinhamento flexível, Ryan Sambol deu a escolher aos presentes as músicas que queriam ouvir. Apesar do sincero desalento demonstrado pelo músico, não foi razão suficiente para descurar o ambiente envolvente que proporcionou durante todo o concerto. Entre o arrastar da voz e o prolongar dos acordes da guitarra, Ryan ia contando piadas contextualizadas e breves estórias da sua vida quotidiana. As suas opções de vida e a simplicidade dos seus sonhos, numa América antagônica nas ambições e nas (de) ilusões. Depois de olhar para a garrafa de água que tinha a seus pés, comentou que bebia outra coisa e alguém lhe levou uma garrafa de cerveja portuguesa. Ryan agradeceu e encolheu o sorriso.

The Men, a banda de punk-rock nova-iorquina subiram ao palco para apresentarem o seu mais recente álbum, “Drift” (Março de 2018). Com dez anos de estrada, a banda de Brooklyn conta com 7 álbuns de originais que mereceram as melhores críticas.

20180530 - Concerto - Ryan Sambol + The Men @ Musicbox Lisboa

Dotados de uma composição musical eclética, os The Men foram comparados aos Sonic Youth pela capacidade genuína do rock artístico e melodicamente sofisticado. “Drift” é de facto uma paleta de cores que se esbate nas tonalidades mais frias ou mais quentes. Diversificando nas vozes, intercalando no domínio da harmonia dos instrumentos, sopro e teclas. Distorção das guitarras que se alinhavam em gritos sonoros orgânicos. Abertura com “Killed someone” intercalando com temas mais antigos. “Sleep”, When I Held You in Arms” e para fechar o tema de abertura do álbum “ Maybe I´m Crazy”.

Uma escolha americana heterogénea, em que dos ambientes de uma América profunda e solitária saltamos para sonoridades urbanas mais aguerridas. Uma noite eclética.

Texto – Carla Sancho
Fotografia – Luis Sousa