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Sunflowers e Jacuzzi Boys, neste aquário nadam tubarões

Na sexta-feira às 22 horas a Galeria Zé dos Bois parecia estranhamente deserta para o concerto dos Sunflowers e dos Jacuzzi Boys. À hora certa e mesmo uns minutos depois ainda pouca gente por ali circulava. Aliás quando Carolina Brandão e Carlos Jesus se acercaram do palco o movimento parecia mesmo ter estagnado e a sala não tinha mais que 15 pessoas.

Bastou no entanto que os primeiros estampidos se fizessem sentir para a sala encher quase completamente. Esta noite o duo Sunflowers trouxe munições extra e a acompanhá-los tiveram também um baixista. Sem mais delongas, como a música e os concertos que habitualmente dão, sem floreados nem nada semelhante, iniciaram a tarefa de aquecer a sala para o trio oriundo de Miami, Jacuzzi Boys.

A tarefa a que se propunham não ofereceu qualquer dificuldade e os Sunflowers atacaram o seu reportório com a inequívoca vontade de deixar a sala a escaldar. Músicas como Hasta La Pizza/ Rest In Peperoni, Zombie ou Forgive me, Father, for I Have Sinned do primeiro albúm ou as mais recentes, como Signal Hill ou Castle Spell que dá nome ao segundo albúm dos Sunflowers, editado em Fevereiro deste ano, mantiveram um ritmo elevado, ao qual o público respondeu na mesma proporção. Em pouco mais de vinte minutos de concerto o aquàrio estava completamente embaciado, o público saltava e o suor pingava do tecto e das roupas dos que saltavam vigorosamente pela sala da ZDB.

O final do concerto permitiu que a maioria de nós conseguisse respirar um pouco melhor e a pausa mais ou menos longa permitiu que a própria sala arrefecesse um pouco, mas o público esse continuava no mesmo registo.

Os Jacuzzi Boys entraram algo tímidos em palco com Lucky Blade. Depois da explosão que os Sunflowers tinham sido em palco, os Jacuzzi Boys pareciam demasiado mornos. Só ao cabo de algumas músicas a sala aqueceu novamente. Se por um lado o som que produzem todo ele é sol e ondas de calor, o trio de Miami não transmite esse calor pela sua postura em palco, parecendo mesmo um pouco mecanizados demais na sua tarefa e foi apenas quando se libertaram um pouco que entraram em sintonia com o público que estava num estado de euforia muito mais à frente que a banda. A partir daí tudo pareceu muito mais sincronizado. Strange Exchange num ritmo muito mais perto do público que libertava energia por toda a sala, gente suada, que saltava e cantava eufórica.

Happy Damage e Island Ave apenas serviriam de prelúdio a New Cross ou ao expectável Glazzin que arrancou uivos e gritos da plateia como ainda não se tinha ouvido antes. É certo que começaram um pouco desfasados do público, num concerto em que, quem ditou o ritmo a maior parte do tempo foi mesmo uma turba de gente aguerrida e cheia de vontade de fazer cumprir a noite de rock n’ roll que lhe havia sido prometido, gritando e saltando até suarem em bica, mas no final todos sorriam.

Agradeceram muitas vezes, mas um pouco ao lado… Muchas gracias, muchas gracias e por aí se ficaram, e muito embora houvesse quem os corrigisse, também não terão levado a mal esta imprecisão do trio com cara miudos da vizinhança que ainda tocam na garagem da avó.

A noite foi mais dos Sunflowers que dos Jacuzzi Boys, mas a verdadeira estrela terá mesmo sido a plateia devoradora de música e cheia de uma energia transformadora nestes dois concertos a chamar o verão e as noites quentes de volta.

Texto – Isabel Maria
Fotografia – Luis Sousa