Backstage

The KVB, a entrevista que antecede a festa no Sabotage Club

The KVB para os mais atentos não precisam de grandes introduções. Nos últimos anos este duo tem a passo firme, produzido música com tons mais ou menos negros, adornados de psicadelismo e de identidade própria. Ao som da voz e guitarras de Nicholas Wood, juntam-se os teclados de Kat Day, tudo isto misturado com ritmos mecânicos e uma identidade visual vincada. Este ano vão ter novo disco e são também um dos artistas seleccionados para tocar na edição do festival britânico Meltdown 2018 que este ano tem a curadoria de Robert Smith, dos The Cure.

Falámos com Nicholas Wood a propósito do ano que se lhes afigura, da recente reedição do primeiro disco e da passagem por Lisboa para um concerto no Sabotage a ter lugar no próximo dia 4 de Maio, data onde se celebra mais um aniversário desta sala lisboeta.

Ⓒ Jakub Koncir

Música em DX (MDX) – Viram o vosso primeiro álbum Always Then, ser reeditado em vinil. Como olham para esse disco seis anos mais tarde? Incluíram novas versões de algumas das canções nesta edição, gostei em particular muito da “Always Then”, versão 2017. Como é que veio a acontecer a regravação de alguns desses temas?

The KVB (Nicholas Wood) – Ainda estamos orgulhosos desse disco, embora pareça ligeiramente estranho ouvi-lo agora, uma vez que sentimos que percorremos um longo caminho desde essa altura.
Inicialmente queríamos remisturar algumas poucas canções do álbum original, mas devido à maneira como a gravação tinha sido feita em fita, a maior parte dos grupos de pistas não estavam em condições para uma remixagem. Foi então que tivemos a ideia de regravar algumas das canções e a certa altura até considerámos regravar o álbum inteiro. Mas no final ficámos por escolher só as que tocamos ao vivo. É claro que algumas pessoas vão sempre preferir as versões originais, mas foi bom regressar àquelas canções e actualizá-las de acordo com a nossa actualidade.

MDX – Alguns anos atrás, a primeira canção que ouvi dos The KVB foi a demo da “Never Enough”, hoje em dia uma canção muito popular aqui em Portugal, nas pistas de dança e nas playlists alternativas. Foi esse um momento criativo importante na vossa carreira a nível da definição do vosso estilo?

Nicholas Wood – Não sei, essa demo veio do experimentar sintetizadores e de um som repetitivo na caixa de ritmos numa tarde de chuva. Nessa altura nunca imaginei que viesse a ser ouvida por muito mais gente não mais do que os meus amigos, quanto mais atingir mais do que dois milhões de escutas no Youtube. É óptimo que as pessoas se liguem de alguma forma a essa faixa. Mas não diria que fosse um momento de definição. Para começar não existe guitarra nessa demo e a guitarra é habitualmente um elemento muito importante no nosso som.

MDX- Serem um duo ajuda a cristalizar as ideias de uma forma melhor por oposição a trabalharem com uma banda maior?

Nicholas Wood – Trabalhar como um duo ou com uma banda… ambos têm vantagens e desvantagens, mas para nós, trabalhar a dois permite-nos desenvolver as ideias que queremos sem muitas opiniões diferentes.

MDX – Nesta era da Internet onde a imagem e o conteúdo musical são tão acessíveis, fala-nos do contexto visual das vossas canções e de como isso habitualmente funciona ao vivo. As imagens que são parte da apresentação, como as concebem? Partem de um ponto de vista cinematográfico, ou são mais indulgentes com os sentidos procurando uma sensação mais psicadélica?

Nicholas Wood – A minha aproximação aos grupos de filmagens tem a ver com o efeito que têm no corpo de um ponto de vista hepático e cinemático. O trabalho é criado de diferentes maneiras, ora utilizando filmes que eu gravei que são reprocessados em sintetizadores de vídeo e outros processos analógicos, ou então criados através de motores de jogos e programas 3D para criar animações com espaços e arquitectura irreais. Portanto, podem estar dentro dessas duas categorias ao mesmo tempo.

MDX – De que gostam mais? Do processo de criação, ou de estar em digressão a tocar ao vivo?

Nicholas Wood – Gosto de ambos, mas são bastante diferentes. Tocar ao vivo está sempre dependente de muitos factores – o quanto bem estamos a tocar, se o som é bom, o quanto é boa a audiência, etc. mas quando tudo está certo, é uma experiência fantástica. No entanto, no geral diria que prefiro o processo de criar música.

Ⓒ Samin Ghiasi

MDX – Nos tempos actuais, a nível de canções, como sabem que uma canção está terminada em estúdio? É comum compararem a canção com as pré-produções ou demos que tenham registado?

Nicholas Wood – Pode ser difícil saber se uma faixa está finalizada, especialmente se te auto-produzires como nós, mas geralmente somos bastante bons nisso. É comum usarmos demos como a base para aquilo que será a versão final da canção, construindo as coisas a partir daquela boa ideia inicial, como por exemplo, uma melodia de sintetizador. Tentamos não passar muito tempo a regravar as coisas e por vezes o feeling de como algo é tocado ou cantado pela primeira vez, é melhor do que trabalhar muito para conseguir o take perfeito.

MDX – Tendo agora a facilidade de terem gravado em estúdios de som profissionais, acham que é melhor para a espontaneidade ou costumam improvisar muito? Consideram que um efeito sonoro ou um pedal pode mudar um tema e fazer uma canção?

Nicholas Wood – O nosso novo álbum que terminámos recentemente, foi gravado no nosso estúdio em casa. Pelo que tivemos muitas oportunidades de experimentar e de sermos espontâneos com as nossas ideias desta vez. Alguns efeitos como reverb e distorção, sempre foram importantes para as nossas canções, mas neste novo álbum, definitivamente sentimos que acrescentámos algo à nossa paleta de sons com muitas e novas ideias sonoras. Há um certo pedal, o BugBrand PT Delay, que se tornou no pedal favorito da Kat, a nível da assinatura da textura do feedback desde que descobrimos um numa caixa de pedais no estúdio do Geoff Barrow. Tentámos encontrar um substituto para levar para a estrada, mas nada chegou perto da sua beleza sónica, até agora!

MDX – Se tiverem alguém no futuro que venha e tome o papel de produtor a tempo inteiro para um álbum, sendo vocês uma banda DY, quem é que poderia ser?

Nicholas Wood – Gostaríamos que fosse o Regis (Karl O´Connor) a produzir-nos. O Karl já fez uma excelente remistura da nossa faixa “Dayzed” e também gere a Downwards, o selo pelo qual o nosso primeiro EP foi editado. Ele tem um jeito especial com o arranjo das canções e um bom ouvido para o que funciona.

MDX – Estão de concerto marcado em Lisboa para breve, já tocaram em Portugal, por exemplo, no Primavera Sound, no Porto. Lembro-me de dizeres que foi um dos vossos melhores concertos de sempre. O que podemos esperar no próximo dia 4 de Maio, no Sabotage?

Nicholas Wood – Sim, esse foi um concerto memorável para nós, tocar depois dos Einstürzende Neubauten foi definitivamente um ponto alto na nossa carreira! Gostámos de todos os concertos anteriores em Portugal, logo, estamos excitados por voltar. Esperem por ouvir uma mistura de canções dos nossos álbuns anteriores, talvez uma ou duas canções novas e novos visuais também.

MDX – Muito obrigado por esta entrevista. Poderemos esperar em 2018 por um novo álbum dos The KVB?

Nicholas Wood – Sim, foi agora recentemente misturado e aguarda masterização. Será editado mais tarde e ainda este ano! Obrigado!

Entrevista – Pedro Corte Real
Fotografia (capa) – Klara Johanna Michel