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Serenata ao Luar na Savana com Moon Preachers e Elephant Maze

Muitos são aqueles que repetem, até à exaustão, a velha lengalenga de que o “rock morreu”. A estes, que caíram na repetição desta premissa falaciosa, o Sabotage mostra todas as semanas, através da sua programação avassaladora, que o rock não só está vivo como se encontra bem de saúde.

No último sábado, o Sabotage organizou uma noite dedicada a dois nomes emergentes na cena psych rock portuguesa: os Elephant Maze e os Moon Preachers. Tanto uma como a outra são duas duplas que, embora jovens, têm a capacidade de fazer canções repletas de garra e energia como se fosse assinada por gente grande; no final daquela noite, ninguém poderia contestar que o destino do rock português estava bem entregue a estes pioneiros da geração Z. Mas antes, comecemos pelo início da noite.

Os Elephant Maze são Tiago Silva e Halison Peres. Apesar de serem declarados como autênticos rebentos na sua certidão de nascimento, não contando nem com um ano por estas andanças, a verdade é que o arsenal de destruição da banda dá-lhes argumentos e força para olharem para os Golias do circuito do psicadélico português olhos nos olhos.

Após terem percorrido o norte com os amigos The Sunflowers, e a meio do processo de gravação do seu EP de estreia, os Elephant Maze não vacilaram face ao nervosismo e à pressão de tocarem numa sala tão emblemática como o Sabotage, começando a disparar malha seguida de malhão de forma consecutiva, cativando o público heterogéneo que se registava daquela noite; desde malta mais jovem até ao mais adulto, todos queriam fazer uma excursão pela savana dos Elephant Maze.

Contando apenas com “Deaffuzz” como cartão-de-visita para a sonoridade de Elephant Maze, Tiago e Halison surpreenderam com um vasto leque de poderosas canções que conseguem conciliar tanto as vibes imersivas como as melodiosas do universo psicadélico, tudo bem condimentado com elevados níveis de distorção, barulho e fuzz, capazes de fazer esquecer a ausência de um baixo elétrico a acompanhá-los.

Entre “Mountains”, “Volcanoes” ou a novíssima “Another Solid Day”, naquela que foi a sua estreia em palco, ficou a promessa de um futuro risonho para os Elephant Maze, a ânsia pela chegada do primeiro trabalho físico da banda e o desejo de nos encontramos novamente com estes dois tipos.

Enquanto os Elephant Maze arrumavam o seu material para ceder passagem à banda que se seguia, o tempo fora do Sabotage começava a querer acusar vestígios de chuva, o que levava a que a lua que iluminava a noite lisboeta começasse a ser ofuscada pela negrume da noite. Numa tentativa de espalhar o mau-olhado que se preparava para assombrar a capital, os Moon Preachers prepararam uma serenata à lua, embora numa vertente mais vocacionada como ‘terapia de choque’.

Os Moon Preachers são Rafael Santos e João Ferreira. Com um álbum ainda bem fresco lançado este ano, o regime avassalador tão característico do Sabotage começa a propagar-se a partir do primeiro momento que os primeiros acordes de “The Beast/Shake My Head” são soltos, ficando desde cedo estabelecida a premissa que a noite ia continuar a justificar o quão agradável pode ser o ruído.

Com um registo muito próprio dentro da cena psicadélica, com vestígios de garage rock, punk e fuzz, os Moon Preachers apresentam uma sonoridade única e convidativa à apoptose dos tímpanos, mas nunca num processo que possa vir a ser considerado ‘perigoso’; diríamos, no mínimo, que um concerto destes tipos da outra margem do Tejo tem tudo para ser divertido do início ao fim.

Mantendo os mesmos níveis de adrenalina deixado pelos comparsas Elephant Maze, os Moon Preachers não faziam qualquer tipo de intenções de abrandar o ritmo da coisa; gozando de dois discos de originais e de um vasta experiência ao vivo, isto quando em comparação com a banda que os antecedera, Rafa(el) e João levaram os seus instrumentos até ao limite logo ao início com um fevroso tripleto constituído por “Death Hallway”, “Confusion Beat” e “Ghost On The Hill”, prendendo as atenções de toda a sala naquele forte exemplo do que é uma juventude sónica.

Enquanto João dava tudo o que tinha atrás da bateria, marcando de forma imperial o ritmo pelo qual Rafael dançava a valsa com a sua guitarra repleta de efeitos de pedais de distorção, era impossível não sentir um preenchimento de orgulho perante dois jovens que tão bem desempenham a injusta tarefa de, nas más-línguas pessimistas, ‘revitalizar o rock’. Certamente que para estes, julgando pelo concerto de sábado passado, a esperança no futuro do estilo está entregue nas boas mãos dos Moon Preachers; já para os outros, isto é, o público fiel do Sabotage, ali jazia um dos futuros grandes nomes da música alternativa portuguesa que, tal como a sala já nos habituou, foi posta na ribalta através das portas daquela sala de concertos do Cais do Sodré, sala esta que sempre se orgulhou de apoiar as futuras promessas musicais a nível nacional.

Mal os Moon Preachers tinham dado o concerto por terminado, ao som de “I Get Psychotic/Voodoo Night”, a lua finalmente desinstalara-se do céu lisboeta. Todavia, tudo nos leva a crer que, durante aquela noite, o satélite natural da Terra abençoou tanto os concertos de Moon Preachers como de Elephant Maze assim como, prevemos nós, duas carreiras repletas de sucessos. Mas quem é que ainda diz que o rock está morto?

 

Texto – Nuno Fernandes
Fotografia – Jorge Buco