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Novidades At The Rollercoaster, uma conversa com Jorge Coelho

A Música em DX falou com Jorge Coelho, activo dinamizador do circuito de concertos indie em Portugal. Um entusiasta das sonoridades mais alternativas, que tomou nas suas mãos a missão de trazer alguns dos nomes mais improváveis de por cá passarem, seja porque são ainda artistas em início de carreira ou sendo ainda nomes mais consagrados, ficam ainda assim habitualmente à margem do nosso limitado circuito de música ao vivo. Ficámos a saber como vão os concertos da At The Rollercoaster num programa que só nos primeiros meses deste ano, já inclui Tricky, Slowdive ou Fields Of The Nephilim de entre outros. No final desta entrevista são reveladas mais algumas surpresas para o segundo trimestre de 2018.

Música em DX (MDX) – Obrigado por esta entrevista Jorge. Desde 2012 que te conheço a organizar e a trazer bandas e artistas da cena indie à cidade do Porto com a chancela de qualidade At The Rollercoaster. O que mudou desde aí e como vês o teu percurso nestes anos a dar boa música às pessoas?

Jorge Coelho – Obrigado eu pela oportunidade. Pouco mudou julgo, a aposta continua a ser em trazer boa música, como dizes, às pessoas, numa linha que nos distingue pela surpresa. Tento não seguir o óbvio e guio-me, muitas das vezes, mais pela minha melomania do que pela razão.

MDX – Este ano a At The Rollercoaster já tem alguns nomes, vou dizer de peso embora nada a ver com as sonoridades mais pesadas. Tricky, Slowdive, Fields of The Nephilim são claro os mais sonantes mas há mais. Promovem também a vinda dos Sextile uma banda mais recente, o que é uma característica vossa, apostar também em nomes que ainda não são tão conhecidos mas que se revelam excelentes propostas ao vivo. O que esperas desses concertos neste primeiro vamos lá, trimestre semestre de 2108? Para já arrisco a dizer que esperas salas cheias…

Jorge Coelho – Tentamos agarrar as oportunidades de ter bons projectos, como é o caso dos 3 exemplos que deste, qualquer um deles de grande nível. Esperamos casas cheias ou perto disso, sendo que nunca nada é garantido nestas coisas da música, ou melhor na realização de concertos.

MDX – Como funcionam os vossos critérios de escolha? Claro que para além da disponibilidade dos artistas de estarem em digressão ou não, e a viabilidade económica é de certeza um factor… Movem-se inteiramente pela paixão como ouvintes? Como se relaciona e equilibra o factor económico e a paixão pela música?

Jorge Coelho – Somos melómanos e apaixonados por música, com destaque para a cena alternativa de 80, período que consideramos como o melhor de sempre na história da música. Equilibrar a paixão com o factor económico é uma tarefa por si só hercúlea, mas tentamos não entrar em grandes derrapagens e não nos fazermos maiores do que o que somos na realidade.

MDX – Actualmente, quantas pessoas trabalham contigo na produção destes concertos ou, pelo menos numa base mais regular?

Jorge Coelho – Começamos a ser poucos para todo o trabalho que é necessário desenvolver. Aguentamo-nos.

MDX – Qual o concerto que te deu até agora mais gosto de organizar e porquê? Podes até enumerar mais do que um… ?

Jorge Coelho – Praticamente de tudo o que fiz. Chameleons pelo amor ancestral que tenho a esta banda e amizade que me liga aos seus elementos. And Also the Trees também fantásticos. A Place to Bury Strangers pelo concerto gigantesco como já não me lembrava de ver algo assim desde os épicos concertos de fins de 80 e inícios de 90. Mas podia ainda referir tantos outros, uns mais recentes, como Motorama, Bleib Modern, e outros com mais anos de estrada, como Momus, Death in June … não esquecendo alguns projectos da boa música que se faz em Portugal.

MDX – A nível do panorama das salas e reparo que ultimamente têm trabalhado no Porto quase em exclusivo no Hard Club, como estamos? Melhor ou pior do que desde 2012? É possível e existe escolha de salas suficiente para apresentar propostas para audiências que podem variar em número dependendo da popularidade de determinado artista em determinada altura?

Jorge Coelho – Há escassez de salas em Portugal, em particular no Porto. O Hard Club tem tudo que precisas para realizares excelentes concertos. Bom para as bandas e essencialmente para o público. Costumo usar uma expressão do Kirk Brandon (Theatre of Hate / Spear of Destiny) “It´s the audience that makes the shows happen. Without audience there´s no shows!”

MDX – Alguns concertos vossos como por exemplo Slowdive e Tricky têm data não só para o Porto mas também para Lisboa, é algo que sempre que possam o farão mais regularmente no futuro? Promover a vinda de mais artistas à capital? Ou tem-se revelado difícil para todos os nomes? Sugere-me pensar que ainda vivemos num eixo norte-sul onde nunca todos estão ou poderão estar satisfeitos. Quem o pode fazer chega a deslocar-se ao Porto quando a data não repete em Lisboa para ver as vossas produções.

Jorge Coelho – A nossa “casa” é o Porto. O facto de fazermos dois concertos em Lisboa, como são os casos de Tricky e Slowdive tem a ver com a oportunidade do momento. Mas, muitas vezes, ela não surge, por um lado, devido à dificuldade em arranjar parcerias interessadas para a realização dos concertos, por outro lado, por impossibilidade da própria banda em realizar duas datas.

MDX – A nível da música independente, com tantos concertos a acontecerem aqui ao lado, o que falta ainda para que tenhamos acesso a uma programação mais diversificada? Alguns nomes já bem firmados que poderiam perfeitamente incluir Portugal regularmente nos roteiros de digressão ainda não o fazem, IAMX por exemplo ou Chameleons Vox já por várias vezes teriam passado “ao lado” com três ou mais concertos em Espanha se não fosse a vossa intervenção, arrisco a dizer. O que falta a Portugal para ser uma paragem obrigatória dessas digressões?

Jorge Coelho – Portugal é um mercado pequeno e um país muito periférico. É difícil fazer mais e melhor, a trazer mais bandas corres o risco de não teres público suficiente para alimentar todas as propostas que vão aparecendo. A cultura de concertos não é má, mas precisa de aumentar em número, não pode ser só no verão com os festivais.

MDX – Um evento um pouco diferente porque agrega necessariamente um cartaz maior é o Post Punk Strikes Back Again que já se repete há dois anos. Fala-nos um pouco disso, e de que maneira tem sido e pretende ser um evento diferente.

Jorge Coelho – Na origem do Post Punk Strikes Back Again estão três ideias: 1 – manter o género post punk vivo cuja matriz se destacou em finais de 70 e década de 80. 2 – dar a oportunidade a novas bandas que assumem inspiração neste género. 3 – ter 5/6 representantes de cada país, uma espécie de jogos sem fronteiras, ou melhor, música sem fronteiras. No entanto, todos os anos poderá sofrer ligeiras nuances, evoluindo noutras direcções, ou mesmo não chegar a realizar-se, já que envolve custos consideráveis e sem apoios torna-se difícil de concretizar.

MDX – A nível de pedidos estranhos ou mais exigentes por parte dos artistas ou agentes, são longas as exigências de produção que por vezes se vos apresentam? Sejam camarins, alojamento ou especificações técnicas? Sei que não estamos a falar de um mundo pop onde um qualquer astro pede passadeiras vermelhas ou bolachas que só estão à venda numa qualquer aldeia alemã, mas com certeza que já terás tido alguns desafios de logística?

Jorge Coelho – Sim, alguns pedidos mais estranhos, mas há outros que considero um pouco abusivos. Pedir tabaco acho um abuso, para não dizer ridículo.

MDX – Trabalhando com bandas de referência no panorama alternativo indie como Chameleons Vox, Fields Of The Nephilim, Tricky, IAMX e muitas outras mais ou menos emergentes, que nomes sonhas ainda trazer a Portugal? Imagino que sejam alguns…

Jorge Coelho – Existem muitos nomes, uma lista enorme, quase infindável.

MDX – Na tua perspectiva qual o maior desafio que se impõe a um programador/promotor/organizador de concertos em Portugal ou seja a maior dificuldade que encontra e também para colmatar pelo lado positivo, qual a maior gratificação?

Jorge Coelho – A maior dificuldade é sempre o dinheiro e a maior gratificação é que tudo o que envolve a organização de um concerto, ou seja, desde a sua preparação até ao final do mesmo, quando a banda segue para outras paragens, tenhas o sentimento que no geral as coisas correram bem, a banda ficou satisfeita e que o público, uma peça fundamental, tenha gostado.

MDX – Para terminar, queres desvendar algo mais sobre algum nome ou adiantar alguma informação do que se vai passar nos próximos meses na vossa programação para além das excelentes propostas que estão anunciadas para este primeiro trimestre de 2018? seria um bónus para os nossos leitores em especial para os mais melómanos & frequentadores dos vossos concertos.

Jorge Coelho – Primeiro trimestre nada a revelar, está fechado mas para Maio haverá mais surpresas, uma delas praticamente fechada: Whispering Sons, fantástico projecto belga que já passou pelo PPSBA, desta vez em concerto único que se fará acompanhar por Second Still, um trio americano da nova cena alternativa, para surpreender muitos.

Próximos concertos:

SEXTILE (US) – 25.02.18 – Hard Club, Porto – +info
TRICKY (UK) – 27.02.18 – Lisboa ao Vivo, Lisboa – +info
TRICKY (UK) – 28.02.18 – Hard Club, Porto – +info
SLOWDIVE (UK) – 08.03.18 – Lisboa ao Vivo, Lisboa – +info
SLOWDIVE (UK) – 09.03.18 – Hard Club, Porto – +info
FIELDS OF THE NEPHILIM (UK) – 31.03.18 – Hard Club, Porto – +info
CHRISTIAN DEATH (US) – 27.04.18 – Hard Club, Porto – +info

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Entrevista – Pedro Corte Real