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The Last Internationale, o rock é o motor da revolução

Na passada quarta feira à noite o Sabotage Club, o clube de rock que é já um dos pontos mais queridos do rock n’roll da capital portuguesa, recebeu sem pompa nem circunstância mas com os braços abertos os The Last Internationale. Apesar de parecer um pouco estranho isto da pompa e circunstância tem muito que se lhe diga, mas também é das tais coisas que só estando no sitio e vivendo o momento no seu todo se percebe na verdade que o não ter pompa nem circunstância e muito menos peneiras é o que mais falta faz aos músicos e as todos os envolvidos, desde promotores a entidades e às próprias bandas. Pelo menos no rock n’roll. E segundo me pareceu segundo a maioria do público.

Se é verdade que o som não é novo, a abordagem não é nova, a simpatia não é novidade e muito menos o ser-se descendente de portugueses ou ser mesmo de facto português é factor realmente abonatório a tudo isto a questão é que quando juntamos isto tudo na dose certa temos noite boas, concertos bons e pessoas felizes. Apostávamos que a banda que em 2014 colocou um festival com vários milhares de pessoas a cantar Grândola Vila Morena não se iria satisfazer com menos que nos deixar completamente exaustos de os acompanhar.

A casa tornava-se já pequena para o público quando entraram em palco por volta das 23.30. Um burburinho de multidão de amigos enchia a casa a par da música. Mas bastou o salto de Delila Paz bater o palco compassadamente para uma casa cheia se silenciar voluntariamente, enquanto a voz de Delila ia lentamente enchendo a mesma com os versos de I Go Free e saudando a sala enquanto ao mesmo tempo cresce uma distorção imensa para num repente o ar se encher com a guitarra e o baixo e o estampido da bateria de Killing Fields e logo de seguida Life, Liberty and the Pursuit of Indian Blood.

Tempo para mostrar música nova, Mind Ain’t Free e Soul on Fire, sempre a roçar a temática guerrilheira, ainda que seja a guerrilha do sentir, a música dos Last Internationale remete-nos quase sempre para a luta apaixonada pela vida, que nos faz querer respirar fundo e abraçar a vida.

Na recta final e já com o público um pouco mais entregue à causa do rock n’roll tivemos uma versão acústica de Working Class Hero de Jonh Lennon, na voz dorida de Delila e na guitarra sentida de Edgey Pires.

O regresso a Wanted Man que arrancou o público daquela letargia meio liquida, meio nostálgica em que a música de Lennon nos havia deixado, para logo darmos de caras com outro ícone, desta feita Hey Hey My My, de Neil Young e o trio de Nova York a fazer o público largar os telemóveis e levantar um pouco mais os pés do chão.

Teria que haver encore. Não podiam simplesmente largar a bomba e não voltar ao palco. E não foi preciso muito, mas se fosse preciso o público teria gritado mais. Voltaram para nos dar mais um shot da sua alegria com 1968.

Delila exorta à revolução nas letras, na postura. Toda a imagética da banda remete para aí. A ironia das ironias, é a música que se ouviu antes do concerto começar, The Revolution will not be Televised de Gil Scott Heron, porque este foi um dos concertos com mais telemóveis a filmar e mais público a fotografar. Ou seja um concerto em que poderia haver gente a saltar até ao tecto, tinha afinal muitos braços no ar com ecrãs minúsculos a filmar.

Carpe Diem, aproveitem os concertos, porque vale a pena ver e ouvir, entregar-nos como as bandas se nos entregam, sentir.

Texto – Isabel Maria
Fotografia – João Rebelo