20171110 - André Barros e Myrra Rós @ Misty Fest 2017 | CCB
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Misty Fest com André Barros e Myrra Rós

O Misty Fest conta já com a 8ª Edição e teve início dia 1 deste mês e terminará no próximo dia 19 de Novembro. Em Lisboa, o CCB é o espaço que recebe os concertos escolhidos pela promotora UGURU.

André Barros um dos compositores e pianistas emergentes, tem-se dedicado essencialmente ao trabalho de composição de bandas sonoras. Em 2015 foi distinguido com o prémio de Melhor Banda Sonora, no Los Angeles Independent Film Festivals Awards, na curta-metragem “Our Father”, da realizadora norte-americana Linda Palmer. André Barros está também nomeado com a música “Brisas de Outono”, para o prémio internacional do Hollywood Music in Media Awards.

“Reasons” é o seu quarto álbum de originais em parceria com a compositora islandesa Myrra Rós, editado pela leiriense Omnichords Records. No âmbito da promoção deste trabalho, André Barros juntamente Myrra Rós na voz e Júlíus Óttar Björgvinsson na percussão apresentaram concertos no Misty Fest 2017, dia 9 no Teatro José Lúcio em Leiria, dia 10 no Pequeno Auditório do CCB em Lisboa e dia 11 no Auditório de Espinho. A MdX teve o prazer de assistir ao concerto do CCB em Lisboa.

20171110 - André Barros e Myrra Rós @ Misty Fest 2017

A assegurar a primeira parte do concerto esteve Francisco Sales, com as suas guitarras acústicas, os pedais e os loops. Miles Away o seu segundo CD de originais, é uma compilação de viagens que fez ao longo dos últimos dois anos, com a banda inglesa Incognito da qual faz parte desde 2015. Francisco Sales é um compositor cinematográfico, tal como André Barros. Os temas são trabalhados numa linguagem imagética, onde diálogos e monólogos se depreendem no arranjo minucioso dos acordes. Os loops introduzidos subtilmente e sem exageros, dão estrutura aos ambientes criados. O ecletismo de género transporta-nos para paisagens camaliônicas, intensamente vivas num jazz descontraído ou num folk envolvente. Paris, St Moritz, Black yellow & green, Hungary, Tokyo e London, as paisagens que desenharam Miles Away, ficando no nosso ouvido nesta noite três delas. Trabalho facilitado ao André e seus parceiros, pois Francisco Sales deixou a sala de sorriso pendurado e alma tranquila.

A beleza de rosto e voz de Myrra Rós encantou-nos durante a hora e meia seguinte. André Barros, com a simpatia e singularidade humana a que já nos habitou, enquadrou em português quase todos os temas que tocaram. Contou-nos a sua aventura de três meses no estúdio de Sigur Rós na Islândia, e como conheceu Myrra e o marido Júlíus no café perto do estúdio. A singularidade da voz de Myrra conquistou o piano de André, que depressa se juntou às suas composições. Myrra Rós entrou já no seu penúltimo álbum, “In Between”.

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O álbum “Reasons” conta já com um conjunto de bonitos videoclips pela produtora Lua Filmes (do irmão de André), que foram projectados durante a interpretação dos temas, como o tema “Days of Slamber” e “Reynir”. Uma lindíssima homenagem ao Pinhal de Leiria (legendado em português), para o tema “Reasons”, o qual foi fustigado no inicio deste Outono com um violento incêndio.

Myrra Rós ficou sozinha em palco sob o holofote de luz ténue e a sua guitarra acústica entre os dedos. Foram três temas no silêncio do Atlântico Norte, surripiados por leves acordes na maresia gélida do oceano. O último dedicado à sua amiga Madalena (presente na sala), o qual compôs depois de um passeio de barco por ela velejado, “Ghost birds”. Se até este momento Myrra se mostrou um pouco insegura, pois André esteve concentrado na entrada das gravações das cordas, sozinha segurou o leme e remou implacável a porto seguro.

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Um encore anunciado mas inesperado, quando André deu o seu lugar no piano à sua parceira. Com o mesmo à vontade que demonstrara com a guitarra, Myrra foi imponente com o piano. A voz soltou-se ainda mais e entregou-se aos agudos de uma forma quase mágica, “One amongst others”. Para fechar com chave d’ouro Francisco Sales regressa ao palco, e em dueto com André Barros, interpretaram o tema “Autism”. Este tema foi composto para piano e um trio de cordas, diz-nos André quando o introduz. Mas Francisco com “a sua criatividade” fez um arranjo magnífico apenas com uma guitarra, a sua.

Uma noite intimista, com paisagens melodicamente humanas onde o branco da Gronelândia se fundiu no verde de Leiria. Uma guitarra e um piano, uma dupla cinematográfica inesperada que, quem sabe, ainda nos poderá surpreender.

 

Texto – Carla Sancho
Fotografia – Luis Sousa
Evento – Misty Fest 2017
Promotor – UGURU