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O Brilho Interminável dos And So I Watch You From Afar

O post-rock é um dos géneros musicais mais fascinantes. Existem imensas variantes, mas é comum associarmos este género a uma espécie de melancolia e paisagens sonoras que exploram e tocam emoções muitas vezes escondidas ou enterradas, sublevando sensações indescritíveis. Quando os And So I Watch You From Afar (ASIWYFA) apareceram, outro novo fôlego foi dado a este género que é, muitas vezes, de nicho. Dizem que são a facção mais matemática do post-rock. Para mim são apenas mestres naquilo que fazem.

Oriundos de Belfast, na Irlanda do Norte, a sua história começa em 2005, sendo o lançamento do seu primeiro disco em 2009. No dia 20 de Outubro, lançaram o quinto disco, The Endless Shimering, e esse foi o mote do regresso a Portugal. Já haviam passado pelo nosso país outras vezes, conquistando a crítica e o público português. Vi-os pela primeira vez no Festival Paredes de Coura de 2013 e vi-os, precisamente no Musicbox, em Lisboa em 2015. Foram concertos extraordinários, de uma energia arrebatadora. Na segunda-feira passada, tivemos o privilégio de gozar novamente da sua presença e genialidade musical, num concerto onde se revisitaram vários temas dos discos anteriores, mas no qual também foram tocados três temas do disco novo. Confesso que pensava que seriam tocadas mais músicas do novo disco, mas talvez seja uma pista da forma como o disco foi construído. The Endless Shimering teve um processo de criação e produção diferente dos discos anteriores. Ao Independent, a banda declarou que gravou tudo em apenas em nove dias, pois antes disso já haviam escrito por completo e tocado vezes suficientes as músicas para saberem aquilo que queriam. O que é certo é que o alinhamento se mostrou à feição do público presente e este não se fez de tímido a mostrar o seu entusiasmo através dos seus corpos inquietos.

À hora marcada, 22h30 em ponto, Niall Kennedy (guitarra), Johnny Adger (baixo), Chris Wee (bateria) e Rory Friers (guitarra) subiram ao paco, logo a abrir, com “Search:Party:Animal”. Este é, provavelmente, um dos quartetos mais poderosos em palco. Ao contrário da tendência dos últimos tempos em adicionar uma forte componente electrónica ao rock, os ASIWYFA continuam visceralmente orgânicos nos instrumentos musicais que usam em palco. Amplificadores no volume certo, uma bateria poderosíssima que tanto assume como acompanha e um trio frontal que tem tanto de empatia comum como de personalidade própria. O baixista, que se encontra no centro da formação, é sempre o mais recatado nas suas demonstrações, mas nem por isso menos intenso. Já Rory Friers não tem qualquer comedimento em se alinhar com a plateia e deslumbrar na forma como dedilha a guitarra, num desafio constante. Niall Kennedy completa o quadro com uma postura possante, mas não menos alegre. Ao contrário do último concerto neste mesmo local, o Musicbox, este não esgotou nem teve direito a um salto para o público por parte de Rory, mas nem por isso foi um concerto menos intenso. Foram tocados catorze temas, entre os quais tivemos a oportunidade de ver e ouvir, pela primeira vez ao vivo, “Terrors of Pleasure”, “A Slow Unfolding of Wings” e “Dying Giants”, que são dos temas mais aclamados do último disco. Outra coisa que distingue este disco dos outros é também a ausência de voz. Enquanto noutros discos houve temas em que a voz também foi usada como instrumento, neste isso não acontece, mas ao vivo continuam a apresentar alguns desses temas que dão oportunidade ao público de demonstrar o quanto estão a sentir a banda. Em temas como “Wasp”, “7 Billion People all Live At Once”, “Don’t Waste Your Time Doing Things You Hate”, foi possível testemunhar isso mesmo. O concerto viria a terminar com dois clássicos “Eunoia” e “Big Thinks Do Remarkable” (com coros da plateia de fazer arrepiar qualquer um), seguidos de “The Voiceless”.

A viagem que se faz com os ASIWYFA é incrível e ficam sempre na memória aqueles riffs e batidas que se fazem sentir no peito, aqueles sorrisos partilhados em palco, toda uma energia que lhes é bastante única. A nível performativo são irrepreensíveis e a sua postura é sempre humilde e apaixonada.

A primeira parte da noite esteve a cargo de PAISIEL, projecto do baterista, percussionista e escultor sonoro João Pais Filipe e o do saxofonista alemão Julius Gabriel. Foi a primeira vez que vi este duo ao vivo, mas foi uma bela performance. Atravessando várias texturas sonoras, deu para testemunhar o incrível espectro sonoro que se pode trilhar com um saxofone, mantendo sempre uma percussão que tanto se eleva ao experimental como ao jazz. Sem dúvida que foi uma excelente maneira de começar a semana.

Alinhamento Completo ASIWYFA:
– SEARCH:PARTY:ANIMAL
– LIKE A MOUSE
– TERRORS OF PLEASURE
– B.U.M.C.
– WASPS
– A SLOW UNFOLDING OF WINGS
– DYING GIANTS
– 7 BILLION PEOPLE
– DON’T WASTE TIME
– SET GUITARS TO KILL
– RUN HOME
– EUNOIA
– BIG THINKS DO REMARKABLE
– THE VOICELESS

Texto – Sofia Teixeira | BranMorrighan
Fotografia – Daniel Jesus
Promotor – Amplificasom