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Jameson Urban Routes 2017, o que esperar de cada um dos dias de festival

Os anos passam e uma coisa é certa, o Outono em Lisboa já não é o mesmo sem haver Jameson Urban Routes (JUR). Ao longo dos anos, o festival afirmou-se como um dos destaques da estação com cartazes consistentemente apelativos a tomarem lugar no Musicbox, no Cais do Sodré, e esta 11ª edição, que decorre 24 a 28 de Outubro, promete manter os padrões de qualidade.

O certame deste ano repete o formato do ano anterior com ligeiras alterações, pois desta vez não há sessões à tarde, estando divididas entre 3 blocos: às 21:00, às 00:30 e às 03:00. A excepção é dia 24, com o concerto inaugural a tomar início às 21:30 pela voz de Havoc. O lendário rapper de Queensbridge, Nova Iorque, traz a sua realness lírica violenta das ruas a Lisboa numa noite que promete ser histórica. É trágico fazê-lo sozinho, pois o seu companheiro Prodigy, a outra metade dos Mobb Deep, pereceu de forma surpreendente em Junho passado, mas certamente não deixará os seus créditos por mãos alheias.

O segundo dia é marcado pelo intersecção de géneros musicais aparentemente afastados, mas cuja junção produz felizes casamentos. Scúru Fitchádu é uma demanda a solo de Sette Sujidade, alter-ego de Marcus Veiga, em imprimir um ethos punk ao cruzamento de funaná e batidas electrónicas. O resultado é uma sonoridade suja e confrontante, mas que se espera ser irresistivelmente dançável no Musicbox. Já o mesmo não se pode esperar do concerto dos Black Bombain com Peter Brötzmann, para assistir com total atenção como se de uma aula se tratasse. Não é a primeira vez que o grupo barcelense de rock psicadélico colabora com saxofonistas de excepção, mas o material que compuseram com o instrumentista de free jazz alemão é do mais ambicioso que já nos proporcionaram, valendo-lhes excelentes críticas lá fora, e o resultado ao vivo não promete ser nada mais, nada menos, que magia. De mencionar ainda que Actress, um dos nomes superlativos deste JUR, devia tomar parte neste dia, subindo ao palco na segunda sessão, mas por motivos de força maior, o concerto do produtor britânico foi reagendado para 16 de Novembro.

O terceiro dia do Jameson Urban Routes apresenta-nos os portugueses You Can’t Win, Charlie Brown e o trio brasileiro O Terno. Os YCWCB,que já contam com oito anos de existência, marcaram presença pela primeira vez neste festival quando ainda estavam para lançar o primeiro longa-duração e eram ainda uma curiosidade promissora. Neste terceiro, Marrow, lançado em 2016, já se encontram longe dessa ideia de promessa pois já se afirmam no panorama musical português como uma sólida e consistente, sendo também das mais queridas do público. Na Quinta-feira à noite, Marrow estará em destaque e será curioso testemunhar um alinhamento mais pop e com uma base electrónica mais forte do que os discos anteriores revelaram. Segue-se o trio de rock de São Paulo, Brasil – O Terno. Formaram-se no mesmo ano dos YCWCB, 2009, e já contam também com três discos no reportório. Passaram pelo Primavera Sound em 2016 e no Lollapalooza Brasil em 2015. A originalidade criativa é um dos grandes pontos fortes do projecto, tendo já vídeos já premiados. Navegando um pouco pela sua discografia, constatamos que entre o rock de garagem e o psicadelismo, encontramos também um sentido lírico que viaja por emoções diversas, mas que nos aproxima muito da banda. As expectativas são de uma viagem por um imaginário tão vibrante quanto emocionante.

Ao quarto dia deste renovado Jameson Urban Routes eis que chegamos à noite do rock n’roll que nos traz os refrescantes Stone Dead, banda portuguesa cheia de uma garra fresca e juvenil com um travo do punk mais orelhudo. Este ano lançaram o disco Good Boys, e têm corrido quase todos os festivais, Super Bock Super Rock, Sonic Blast Moledo, Milhões de Festa. Ou seja onde há rock, eles estão lá a agitar a multidão com malhas como Blooze ou Good Boys. Sim! Malhas! No verdadeiro sentido pois são músicas que foram feitas agora, mas contém toda uma história que as fará perdurar, e é disto que os clássicos são feitos.

Tudo certo, como se se tratasse de um baile e fossemos todos a condizer, porque de seguida teremos o regresso aos palcos portugueses dos norte-americanos Black Lips, a contagiarem-nos com o seu garage punk suado e provocador.

Os Black Lips trazem até nós o mais recente registo Satan’s graffiti or God’s art? com perto de duas dezenas de novas músicas que parecem um regresso aos primórdios da banda onde também esperamos regressar para sentir aquele shot de adrenalina que eles tão bem nos sabem dar.

Venham preparados para tudo, pois os Black Lips em palco são uma caixinha de surpresas… um furacão de boas vibrações e Lisboa é o primeiro destino a senti-lo deste lado do Atlântico.

Duas bandas provocantes e orelhudas, que sem qualquer dificuldade não darão sossego aos corpos que se irão agitar no ritmo do rock n’roll nesta sexta-feira.

Por fim, o último dia encerra o JUR numa toada mais ligeira, mas sem os facilitismos que a palavra por vezes possa trazer à mente. São três os projetos que adoptam a linguagem pop e filtram-na através das suas idiossincrasias. Primeiro, Ela Minus, projeto da colombiana Gabriela Jimeno, sob ao palco do Musicbox com uma sonoridade electrónica ora mais contida ora mais borbulhante, cantada quer em inglês, quer em espanhol. A razão que a traz a Portugal é a promoção do mais recente EP, Adapt, feita em conjunto com Austra, vulgo Katie Stelmanis, numa tour europeia. A cantora canadiana não é uma estreante em Portugal, esteve no Milhões de Festa de 2013, mas sim em Lisboa. A sua synth-pop cintilante mas cerebral atingiu um novo patamar em Future Politics, razão mais do que suficiente para lhe valer uma posição de destaque no festival. Pelo meio, a representar o contingente lusitano, Surma, o projeto a solo de Débora Umbelino, vai mostrar mais uma vez porque é que a artista leiriense continua a ser discutida como uma das next-best-things do nosso País. Com o álbum de estreia, Antwerpen, prestes a ser lançado, Surma concentra numa só figura um enredar de géneros e influências musicais evocados e manipulados através de loops e beats, teclas e guitarras, numa combinação muito própria.

+info em musicaemdx.pt/events/jameson-urban-routes-2017/

Texto – António Moura dos Santos | Isabel Maria | Sofia Teixeira