Opinião Reviews

Panado – Juventude Coxa

Há umas centenas de séculos atrás, Heráclito, célebre filósofo grego, disse que a “única constante na vida é a mudança”. Com o passar dos anos, as perceções, modas ou gostos de cada geração revolucionavam-se por completo, embora que as bases das gerações passadas tenham sempre servido de molde às que lhe davam continuidade.

Entrando em maior detalhe sobre este assunto, mais concretamente ao ramo da música, as bandas que os nossos pais (avós em 2017?) ouviam nos seus tempos de juventude ficaram ‘desatualizadas’ face ao atual panorama musical em que se vive, onde as tecnologias atuais contribuíram para uma abundância tremenda de efeitos eletrónicos, independentemente do género musical em questão.

No meio do trabalho algo de simplificado que as mordomias do agora trouxeram, há ainda artistas que preferem manter as coisas ‘à antiga’, que cresceram ao som de discos de Pink Floyd, Queen ou Black Sabbath que os pais tinham bem estimados nas suas estantes. Numa altura em que o rock ‘n’ roll atravessa um período de decadência dentro do género, aparece uma ou outra banda que o remata de novo para as luzes da ribalta, como é o exemplo dos britânicos Royal Blood.

Dentro do território lusitano, bandas como Glockenwise ou Cave Story têm bem entranhada a essência do rock ‘n’ roll no seu enérgico garage rock e, agora, há uma nova banda no horizonte capaz de lhes fazer boa companhia: falamos nada mais nada menos que Panado, um tripleto encabeçado por Diogo, Lourenço e Bernardo, três jovens com uma aptidão tremenda em cozinhar valentes malhas que, nas palavras dignas dos nossos pais, seriam dignas de ‘abanar o capacete’.

Lançando-se de cabeça, sem qualquer tipo de receios, para a aventura que é lançar o seu primeiro trabalho discográfico, Juventude Coxa acata consigo um ponto de vista de ‘relembrar o passado com olhos postos no futuro’; com olhos postos no rock sónico concebido na década de 90, os Panado resgatam este género para o novo milénio, com variantes de fuzz e lo-fi a juntarem-se à vitalidade jovem destes três rapazes.

Juventude Coxa é um disco que tem o rock na sua essência, com guitarras berrantes e baterias endiabradas a conduzirem uma experiência de sonoridades elevadas ao longo de uma atribulada meia hora. Com a distorção dos instrumentos a funcionar como uma imagem de marca e não apenas como o desejo de simplesmente ‘fazer barulho’, esta juventude, que se apresenta enquanto coxa, apresenta alguns vestígios daquela que reinava nos anos 90, os sónicos Sonic Youth, com “Sapata” a exemplifica-lo tão bem.

Dentro da temática “cantar em português/não cantar em português”, os Panado apresentam-se como ‘Suíça’ e apresentam tanto lírica portuguesa como inglesa. Enquanto esta decisão pode ser inicialmente interpretada como uma demanda pela sua identidade ainda não completamente estabelecida, aliás, à primeira vista, poderia ser mesmo facilmente apontável a falta de coerência na parte lírica ao longo do disco, mas uma breve revisão ao álbum demonstra logo que, em oito, quatro dos temas são cantados em português, com os restantes três em inglês e um puramente instrumental. Além disso, a distorção na voz de Diogo remete-a para segundo plano, deixando que seja a vertente instrumental a sobressair ao longo do disco.

Juventude Coxa é rápido e eficaz, não se prendendo de rodeios e é bem objetivo naquilo que quer ser: uma meia hora frenética e eletrizante. Desde o seu início, com “Cerca” e “K.V.”, é bem explícito que a vontade de tirar o pé do acelerador é inexistente, com o acelerómetro de ‘malhagem’ a estar a uma velocidade de 160 km/h constante. Mesmo quando “Veludo” ameaça abrandar o ritmo, segue-se “Preguiça” para manter a chama bem acesa, com o tema término “Deserto” a torna-la num verdadeiro incêndio.

Para um disco de estreia, Juventude Coxa cumpre aquilo que lhe estava destinado: dar a conhecer Panado e despertar curiosidade na banda. Com a energia e espírito jovem que emancipa no seio da banda, prevê-se um futuro risonho para o tripleto da Ameixoeira. Mesmo que a juventude dos tempos de hoje possa ser vista como coxa, é tão bom ver que há bandas que conseguem criar música bem direita.

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Texto – Nuno Fernandes