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Crowd surfing, mosh e brindes com tinto no primeiro dia do Festival Bons Sons 2017

As temperaturas subiram os últimos dias e, chegado o 1º dia do Festival Bons Sons, a aldeia de Cem Soldos estava muito perto dos 40º graus. Novos pórticos nas entradas do recinto, e em relação às preocupações ambientais, este ano há novos recipientes para as bebidas. As canecas de plástico reciclável de 33cl com uma fita para pendurar ao pescoço, dão um ar engraçado aos festivaleiros e, uma vez mais evita o acumular de lixo de milhares de copos de plástico. Estas são as novidades desta edição dos Bons Sons 2017.

Os leirienses Whales tocaram ainda sob um sol abrasador, mas a curiosidade para ouvir e ver os novos miúdos da Omnichord era muita e protegidos pelos chapéus de palha da EDP, lá se juntou um público significativo à volta do Giacometti.

BONS SONS 2017 - Whales no Palco Giacometti.<br /> Foto: Carlos Manuel Martins

De volta à sombra sob os borrifos refrescantes de água, tentámos jogar os Jogos do Hélder que se encontram no centro da aldeia. Estreámos a caneca de plástico com cerveja e confirmámos que quem utiliza as canecas de alumínio do ano passado (que estava também no kit imprensa) fica a perder 4 ou 5 golos. Foi o meu caso.

Na sombra do palco “Tarde ao Sol” Manuel Fúria e os (5) Náufragos tocaram sensivelmente uma hora, e animaram o público com o mais recente “Viva Fúria!” Manuel, com o seu humor assertivamente requintado, envolveu o público tornando o concerto mais intimista. “Aquele Grande Rio”, “20.000 Naves”, “Canção para casar contigo”, “Cala-te e Dança”, foram momentos que marcaram o início de fim de tarde deste primeiro dia do festival.

BONS SONS 2017 - Manuel Fúria e os Náufragos no Palco Tarde ao Sol. Foto: Carlos Manuel Martins

No palco Giacometti já estava Débora Umbelino, projecto Surma, com o aparato de fios eletrónicos ligados e com um nervoso miudinho que chegava a ser delicioso. Já com o sol mais baixo, e um vento a soprar os largos pedaços de sombra, Surma subiu ao palco e aconteceu magia. Da voz aos samplers, da intensidade relacional de Débora com as cordas da guitarra e do baixo, da troca intensa do amor entre ela e o público, tudo contribuiu para um final de tarde sublime. No meio desta cumplicidade emocional, Débora avisa o público que iria saltar, e saltou com um sorriso que transbordava o rosto, o crowd surfing do dia. Ainda levantou um pouco o véu, tocando uma música do novo CD, e já sem mais musicas para tocar e numa espécie de encore repetiu as lindíssimas “Hemma” e “Wanna be Basquiat”. Esta última com um aviso-prévio para fazerem mosh , e assim foi. Débora agradecia de coração aberto no final de cada música, prometeu que beberia uma cerveja com cada um de nós nas lágrimas que transbordaram aquele momento.

BONS SONS 2017 - Surma no Palco Giacometti. Foto: Carlos Manuel Martins

Ainda nem tínhamos jantado e já estávamos a caminhar num género de levitação. O sol ponha-se na serra com a mesma cor do fogo que já se fazia sentir, nos olhos e no odor. Ao jantar subiram ao palco Lopes-Graça os Holy Nothing. Com algumas novidades para o próximo disco, parece que os portuenses estão a tentar outros ritmos mais orgânicos. Apesar de continuar a electrónica como pano de fundo, o soul está por ali evidenciado. Boa entrega dos três músicos da invicta, má escolha na hora da actuação.

BONS SONS 2017 - Holy Nothing no Palco Lopes-Graça. Foto: Carlos Manuel Martins

As temperaturas mantiveram-se altas, razão pela qual nem com o cair da noite Cem Soldos refrescou. Subimos ao palco Eira e as estrelas estavam tapadas pelo fumo que se intensificava cada vez mais, devido aos incêndios que se alastravam no concelho de Tomar e Abrantes. Mas a festa dos Bons Sons seguia animada e os barcelenses The Glockenwise também. Os três músicos de Duquesa (novo projecto) mais um “intruso” (guitarrista) tocaram temas dos seus 3 álbuns editados pela Lovers & Lollypops. Mostraram que, mesmo com uma ausência grande dos palcos os acordes britânicos de surf-punk continuam em alta. Fecharam a actuação com chave d’ouro, “Heat” o último álbum lançado em 2015 e que fez abanar o apagado publico da Eira. Já tínhamos muitas saudades deles.

BONS SONS 2017 - Glockenwise no Palco Eira. Foto: Carlos Manuel Martins

Jorge Benvinda subiu ao palco com um aparato de instrumentos e um par de músicos cheios de energia. Com o humor que lhes é característico, os Virgem Suta trabalharam este concerto do início ao fim com a precisão de profissionais (que são). Brinde com vinho tinto “Dança de balcão” (2009), convite para o público subir ao palco, despedida com o palco a abarrotar ao som da música do genérico da saudosa série americana, a “Balada de Hill Street”. Os Virgem Suta e principalmente Jorge Benvinda, mostraram nos Bons Sons que não são músicos de modas e que a música ligeira portuguesa está em alta e recomendasse.

BONS SONS 2017 - Virgem Suta no Palco Lopes-Graça. Foto: Carlos Manuel Martins

Assim que a luz do palco Lopes-Graça diminuiu, o público saiu acelerado e aos magotes para marcar lugar nas primeiras filas do palco Eira. A excitação para ver a banda mais mediática do último ano em meio, era por demais evidente. Como dizia o Nuno Rodrigues (The Glockenwise) minutos antes, “daqui a pouco teremos neste palco os Capitão Fausto (…) os 5 globos de ouro mais bêbados.” A banda de Tomás Wallenstein regressou a Cem Soldos (palco Eira), depois de em 2012 ter dado um concerto que muitos cem-soldenses ainda se recordam bem. Uma vez mais, os cinco moços lisboetas dominaram o público no primeiro acorde. Todos sabiam as letras e gingavam os ombros num abanar de ancas felizes. O recinto estava à pinha.

BONS SONS 2017 - Capitão Fausto no Palco Eira. Foto: Carlos Manuel Martins

Terminada a noite na Eira, o centro da aldeia (palco Aguardela) recebeu ainda dois projectos de música electrónica, Thunder & CO e Groove Salvation. Muita dança e muito convívio no ambiente tranquilo desta maravilhosa aldeia de Cem Soldos.

BONS SONS 2017 - Thunder & CO no Palco Aguardela. Foto: Carlos Manuel Martins

O Bons Sons continua a ser um dos festivais com mais qualidade, quer de programação artística, nos pormenores da organização e da produção, quer na recepção e acolhimento à imprensa e aos festivaleiros. Deixo apenas uma nota de atenção à direcção artística, a nova música ligeira deveria ter mais expressão ao longo dos 4 dias de festival. A música portuguesa está a atravessar uma das melhores fases de sempre, e há muitos projectos sérios e de muita qualidade à espera de serem colocados em palcos condignos.

Todos as reportagens Bons Sons’17 estão disponíveis em:

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Último dia de Bons Sons 2017, final de luxo com Rodrigo Leão

Texto – Carla Sancho
Fotografia – Carlos Manuel Martins | Bons Sons 2017
Evento – Bons Sons 2017
Promotor – SCOCS