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Deep Purple, A idade pesa mas não conta!

Aquele que viveu a sua adolescência com a mais pura e suja mostra de rock, sabe que este concerto era revestido de tamanha importância. Não só por tudo o que nos trouxe a nós mas, também, pela influência que teve nos músicos e na música de hoje.

Falo de Deep Purple e do concerto que deram na passada terça-feira, dia 4, no Meo Arena. A tournée intitula-se “The Long Goodbye Tour” e ninguém sabe se não terá sido a última possibilidade de ver estes mestres ao vivo, nem eles próprios sabem! Lisboa foi escolhida para terminar a primeira parte desta tournée, caminhando, de seguida, para os EUA.

20170704 - Deep Purple - The Long Goodbye Tour @ MEO Arena

O recinto fora encolhido, talvez pela imperceptível falta de adesão a tamanho concerto. No entanto, isso não fez com que eles não se sentissem em casa e nós não nos tenhamos sentido de coração aconchegado o tempo todo que ali estivemos.

Em cerca de 1h45, aqueles que carregam já o peso da idade nas feições, deram o melhor de si da maneira mais humilde, generosa e encantadora possível. Sem performances ou toques de ilusionistas, guiaram-nos entre o passado e o presente com os riffs mais alucinantes e os solos mais inesperados.

Abriram a noite com “Time for Bedlam” do álbum lançado em Abril deste ano, Infinite, e com ele mostraram que mantêm a genuinidade dos Deep Purple de sempre. Deste álbum tocaram ainda “Johnny’s Band”, “The Surprising” e “Birds Of Prey”. Entre sussurros que pareciam vir do escuro e uma força divina vinda das entranhas com um poder inexplicável, tocavam as faixas de seguida como se a T-shirt de Ian Gillan fosse a representação de que todos tinham comido espinafres e estavam num estado puro de ebulição de energia. A atmosfera era rasgada pelos riffs frenéticos e assanhados  acompanhados de uma voz, ainda, coesa e forte.

20170704 - Deep Purple - The Long Goodbye Tour @ MEO Arena

O ex-libris da noite foi Don Airey, o teclista. Talvez não tenha palavras suficientes para descrever o quão majestosas são as teclas desse senhor. Jon Lord não poderia deixar o legado em melhores mãos, no sentido literal da palavra. Para além de nos ofertar um encantamento auditivo enquanto acompanhava o resto dos instrumentos, ainda nos prendou com um solo digno de génio que nos fez fechar os olhos e pensar que estaríamos num outro tipo de concerto. O toque de blues trazia com ele arrepios e a intensidade de quem se perde com felicidade naquele momento. Numa tentativa de aproximação conseguiu estragar, ligeiramente, o momento quando pelas colunas saem os acordes de “Cheira a Lisboa”. Mantenhamos apenas os bons momentos anteriores.

Fireball, Now What?!, Machine Head, Shades Of Deep Purple e Perfet Strangers foram alguns dos álbuns revisitados nesta noite. Um leve formigueiro sentiu-se com “Fireball”, “Strange Kind Of Woman”, “Hell To Pay” e a mítica “Smoke On The Water” acompanhada pelas imagens que descrevem a história da letra. “Hush”, a primeira música do encore, absorveu-nos na sua sensualidade e levou-nos a dançar de sorriso exposto. Ainda com o mesmo sorriso saboreámos um, algo raro de se ouvir, solo de baixo que introduziu a “Black Night”, última música que iríamos ouvir.

20170704 - Deep Purple - The Long Goodbye Tour @ MEO Arena

Sabe bem sentir o rock na sua essência mais pura. Sabe bem saborear com nostalgia tudo aquilo que sentimos quando conhecemos estas malhas. Sabe, ainda melhor, sabermos que é a elas que devemos estar eternamente gratos por sermos, musicalmente, tudo o que somos hoje.

Não sabemos se foi a última vez que os vimos. Não foi, certamente, um concerto de emoções à flor da pele pois houve algo que faltou. Fica, no entanto, a certeza de que, em cima daquele palco, se deu o melhor como se, mentalmente, ainda fossem adolescentes. Fica, também, o prazer que se obtém de uma noite assim. Se acabarem entretanto, acabam da melhor maneira possível!

 

Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – Ritmos e Blues