Existem sempre concertos que, festival após festival, nos escapam. Não vimos, não conhecíamos, não quisemos saber. Pior: não raras vezes, anos depois, não queremos acreditar como é que perdemos aquele Gig de uma banda que agora monopoliza o nosso Spotify, ou de um artista que nos faz andar de grupo em grupo à procura de bilhetes, e a oferecer bem mais que o preço justo. Temos este exemplo em mente: em 2000 uns (ainda bons) Coldplay passaram pela margem do rio Coura sem serem demasiadamente reparados. Não eram conhecidos e ninguém lhes prestou assim tanta atenção. Anos depois, estávamos em 2011, quando os Britânicos arrastaram milhares de pessoas a Lisboa uma vez que seriam cabeça de cartaz de um festival. Irónico? Talvez. Mas mais curioso ainda será o facto de um desconhecido James Blake – nesse mesmo dia de Coldplay – ter sido recebido por apenas algumas dezenas de transeuntes, e ainda menos jornalistas. O que acontece de seguida é fácil de prever: decorrido pouco tempo, milhares percorriam vários festivais Portugueses para assistir a uma das figuras do momento: James Blake.
O Parque das Nações está prestes a receber o Super Bock Super Bock, um festival marcado pelo seu carácter mítico e camaleónico. Com data marcada para 13, 14 e 15 de Julho, este transporta consigo um cartaz eclético e versátil, onde prontamente se evidenciam nomes como Red Hot Chili Peppers, Deftones ou Fatboy Slim. No entanto, como nem apenas de nomes grandes vive um festival, a MDX apresenta propostas de bandas e artistas que estão a despontar ou poderão fazê-lo em breve. Por outras palavras: o Guia MDX para neofilistas.
Boogarins | 18:40, Palco EDP – 13 de Julho
Principiamos por uma banda que se deu a conhecer em 2013 com um magnífico As Plantas Curam, que apesar de produção caseira chamou prontamente a atenção generalizada. Com influências que vão desde Os Mutantes, a Tame Impala ou mesmo Raul Seixas, os Brasileiros tiveram a capacidade de mostrar diferentes texturas e diversas facetas sonoras entre Manual, ou Guia Livre de Dissolução dos Sonhos, de 2015, e o curto e inesperado Lá Vem a Morte, de 2017. Muitas vezes descritos como embaixadores do Neo-Psicadelismo Brasileiro, não merecem apenas todo o hype que receberam como serão certamente um dos mais interessantes concertos deste Super Bock Super Rock.
Kevin Morby | 21:20, Palco EDP – 13 de Julho
Quem me dera estar em casa a abraçar Kevin Morby, foi uma das frases mais experimentadas na internet sempre que se falava no autor do aclamado Harlem River. Com um Folk Rock bastante característico, Still Life e Singing Saw foram felizes sucessores do álbum de estreia a solo. A sua sonoridade, facilmente reconhecida e muitas vezes associada a Lou Red ou Bob Dylan, elevou Kevin Morby a um dos cantautores mais celebrados da cena alternativa Americana. No Parque das Nações deverá apresentar City Music, o seu mais recente e – para nós – melhor trabalho.
Slow J | 19:40, Palco EDP – 14 de Julho
Apareceu quase do nada e tem oferecido lentos mas firmes passos ao panorama musical Português. Não se assume filho de nenhum género, não se quer enquadrar nem que lhe coloquem etiquetas, e só pede para não lhe colarem as solas ao chão. Tem merecido os mais diversos e inesperados elogios: desde Valete – com quem é amiúde comparado – a Rui Veloso.
Lançou recentemente The Art Of Slowing Down, o seu álbum de estreia, merecedor de uma crítica unânime. Denotando uma boa relação com o risco, uma capacidade lírica estimulante, tem no tema Comida o ponto forte deste trabalho. É ainda autor dos covers que mais deram que falar nos recentes meses: Desde Não me Mintas de Rui Veloso, até Menina Estás à Janela, de Vitorino. Além de tudo isto, cita José Mujica, o que per si já merece a nossa reverência.
London Grammar | 22:20, Palco Super Bock – 14 de Julho
Uma das propostas que mais valor acrescenta ao cartaz deste festival. Os Londrinos apresentam uma sonoridade de difícil caracterização: se não raras vezes os ligamos ao Dream Pop, não menos nos parecem caber nos moldes do Trip-Hop. Se com If You Wait, o fabuloso trabalho de estreia dos Britânicos, alcançaram um merecido e homogéneo aplauso, covers de Wicked Game ou In For the Kill conduziram decididamente a banda para a via do reconhecimento. Os London Grammar lançaram recentemente Truth is a Beatiful Thing, o seu segundo álbum, estamos, portanto, ávidos para perceber como resulta este novo trabalho ao vivo.
Língua Franca | 22:45, Palco EDP – 14 de Julho
Se alguém nos atirasse que Capicua, Emicida, Rael e Valete – sim, Valete, esse mesmo – iam ter um projecto em comum, que pensaríamos nós? Que seria uma graça sem qualquer adesão à realidade, provavelmente. Na música, no entanto, repetem-se estas improbabilidades e “Ela”, tema de avanço do disco de estreia, viu, recentemente, a luz do dia. Com uma reunião de distintas experiências, culturas e sensibilidades, Língua Franca pode ser um dos trabalhos mais inovadores que a Lusofonia viu nascer nos últimos anos. Produzido entre Lisboa e São Paulo, o álbum é composto por 10 faixas à espera de serem conhecidas. Deixamos mais um facto com alguma importância: É o único concerto conhecido do grupo.
Bruno Pernadas | 17:20, Palco EDP – 15 de Julho
Em 2014 o seu primeiro álbum logrou algo com escasso precedente para um álbum com toques Jazzísticos: invadiu tudo o que eram redes sociais, listas de melhores discos do ano e, foi, até, tocado em vários festivais. Depois deste fabuloso How Can We Be Joyful in a World Full of Knowledge, no ano de 2016 Bruno Pernadas ergueu, de um só trago, Worst Summer Ever e Those who throw objects at the crocodiles will be asked to retrieve them: um trabalho duplo que tem dado que falar e que promete ser um dos mais sui generis momentos do festival.
Stone Dead | 19:30, Palco SBSR.FM – 15 de Julho
Provenientes de Alcobaça estes rapazes não se agarram a rótulos ou moldes e conduzem-nos até a um Rock mais cru e sincero, habilitado para nos voltar a mostrar o bem que sabe a autenticidade. Em Good Boys, com o selo de qualidade da Lover & Lollypops, apresentam um álbum genuíno e que certamente ainda será relembrado daqui a uma década. Stone Dead mostram-se, assim, como uma proposta repleta de pertinência para quem procura um outrora-em-extinção Rock sem Merdas.
Se o Super Bock Super Rock é um festival capaz de agradar aos mais díspares paladares, é ainda notória a habilidade em conciliar renomados nomes com artistas emergentes. Esperam-se três dias de Rock, Hip-Hop e amiúdes (re)descobertas. Ao que se acrescenta um espaço agradável e de distinta localização. Como vem sendo habitual, a MDX lá estará para descrever, fotografar e para nos recordar – independentemente das coordenadas, temperatura ou bandas – do quão empolgante será sempre este festival.
Toda a informação de que precisas saber sobre a edição de 2017 do Super Bock Super está em festivais > super-bock-super-rock 2017 . O Música em DX esteve presente na edição de 2016, reportagem que pode recordar aqui.
+info em http://www.superbocksuperrock.pt/pt/pt/
Texto – Tiago Pinho
Fotografia (capa) – Nuno Cruz (Super Bock Super Rock 2016)
Promotor – Música no Coração