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Riding Pânico, Ouvimos É Quando Cavalo a de Sensação Rabo Esta

Ouvimos é quando cavalo a de sensação rabo esta. Ou, por outra ordem: É esta a sensação quando ouvimos Rabo de Cavalo. Um notável sentimento de desordem e desalinho que nos invade quando, num MUSICBOX repleto, assistimos à apresentação do terceiro trabalho dos aclamados Riding Pânico.

A experimentada banda mantém parte da genuinidade inicial, e isso é patente num quase-embaraço proporcionado pelo facto de perante si estar uma preenchida plateia para receber o aguardado Rabo de Cavalo. Sem carecerem de palavras vãs, a banda atira-se de cabeça ao Sueco Mats Magnusson, primeira faixa do álbum. Música que finge ser algo tosca e descoordenada, mas – à figura do jogador – mostra-se extremamente eficaz. O resultado final indica que o desalinho cede o seu lugar a uma conjugação interessante, que esteve muito perto de balancear as redes adversárias.

O concerto seguiu as pegadas do disco e partiu para Café Del Mar, tema movido pela distorção dos pedais, pela introdução de elementos pouco avistados nos trabalhos anteriores, mas principalmente pela muito conseguida cadência da música. Homem Elefante, álbum de 2013, assina também o livro de presenças e o público, notoriamente satisfeito com o que vai ouvindo, agradece logo nos primeiros acordes de Zulu. Este tema revelou-se um excelente exercício para aqueles que iam debatendo a evolução sonora da banda.

Os Riding Pânico tinham afirmado, em entrevista à MDX, que “Não somos de grandes conceitos, é a música pela música”, e isso comprovou-se pelos curtos hiatos e o nenhum floreado entre temas. Quem estava ali pelo mesmo motivo que a banda, certamente agradeceu. Rosa Mota, tema de avanço para o álbum, foi um dos momentos mais celebrados da noite. A plateia soltou-se definitivamente e acompanhou com a cabeça cada acorde da música, protagonizando um dos melhores momentos da noite.

Cavalgamos por Táxi Mágico, mas também por uma versão mais branda de Louva-a-Deus, e apenas dele descemos porque uma incrível Blueberry Surprise atravessou o nosso caminho. O uníssono final deste tema candidatou-se a ponto mais elevado da noite. Face ao enorme estatuto de Riding Pânico no panorama musical Português, qualquer crítica não será menos que um Free Pass para algum hate, mas, particularmente em Modelo e Detective e em Pop Santeiro, a banda mostrou alguma descoordenação entre elementos, sendo que tivemos amiúde a sensação que aqueles acordes ainda não formam uma música.

Esperamos que tenham curtido, diz Makoto antes de abandonar o palco. A plateia, entusiasmada com o que ia assistindo, aplaude e continua a pedir por mais. Os Lisboetas voltam para um encore de garrafa de whiskey em punho (nada encenado), e atiram-se a uma nostálgica E se a Bela for O Monstro, terminando a noite com Terreiro do Espaço. Tema que contribuiu para que não nos largasse a sensação que tínhamos antes. A desordem é real, as lógicas e as concepções parecem baralhadas, mas no final – qual quimera – tudo alcança bom porto. O Rabo é afinal de um Mustang que não sabemos até onde pode ir: matéria que o tempo certamente se debruçará.

 

Texto – Tiago Pinho
Fotografia – Nuno Cruz