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As cantorias noturnas que acolheram os You Me At Six

Corria o ano de 2011 quando o Alive – aí ainda conhecido por Optimus – orgulhava-se de acolher os You Me At Six para a sua estreia em terras portuguesas. O 8 de julho ficaria marcado pelas anomalias do palco principal cuja lenda reza que poderia estar em rico de colapsar, o que levou ao cancelamento da atuação da banda assim como dos portugueses Klepht e dos americanos The Pretty Reckless.

A espera pelo regresso do quinteto britânico não demoraria muito, visto que foram escolhidos como banda de abertura para o concerto dos 30 Seconds to Mars, na MEO Arena, em 2013. Contudo, seria só em 2017 que os You Me At Six teriam a sua estreia a solo por Portugal, no passado dia 8 de março. Apesar do alarido da banda ter desvanecido com o passar dos anos, a apresentação do quinto disco de originais Night People reuniu um número considerável de fãs no Paradise Garage, com os mais ferrenhos a marcar lugar desde a hora de almoço.

Antes que os You Me At Six pudessem matar saudades do público português, coube aos The Zanibar Aliens dar arranque a uma fria noite de quarta-feira, tendo a tarefa acrescida de subir a temperatura da sala assim como entreter as camadas jovens que já estavam agarradas às grades e nada os tiraria de lá.

Oriundos de Cascais, este quinteto de rock ‘n’ roll alternativo assemelha-se a tipos como Led Zeppelin ou Def Leppard – especialmente a níveis de postura – mas com um toque de século XXI que impulsiona o estilo e fá-lo sentir como rejuvenescido. Todavia, este tipo de sonoridade não era o mais apreciado para o público-alvo que sobressaía no Paradise Garage – de um modo geral, as idades rondavam dos 13 aos 18 anos de idade – e muitos prefeiram consultar redes sociais ou saber acompanhar o mítico Barcelona – PSG através dos seus telemóveis, levando a que espetáculo a ocorrer em cima do palco ficasse em segundo plano. Este relativo desinteresse por parte do público levou a que os próprios The Zanibar Aliens acusassem um pouco a pressão de cativar os presentes, sentindo-se um pouco de timidez durante a sua meia hora de concerto.

Apesar da tenra idade – estamos a falar de cinco tipos com vintes e poucos anos de idade – os The Zanibar Aliens têm talento para dar e vender, interpretando alguns temas do seu mais recente disco Bela Vista com uma entrega e destreza de serem louvadas, das quais “Baby I Can’t Let You Go” foi um dos temas que mais facilmente se destacaram. Em suma, pode-se dizer que a temperatura da sala ficou bem mais amena graças ao esforço coletivo de Ricardo, Diogo, Martim, Filipe e Carlos, demonstrando que o rock ‘n’ roll de outrora está em muito boas mãos.

Às dez da noite em ponto, as luzes da sala apagaram-se e gerou-se uma autêntica explosão de felicidade por parte dos fãs que marcavam passo desde as duas da tarde, com gritos de euforia por todo o lado para acolher os You Me At Six, soltando logo “Night People”, single que dá nome ao mais recente álbum de originais da banda e que gerou logo uma quantidade enorme de cantorias e mãos no ar – muitas para registar o momento através de smartphones. O mesmo nível de êxtase manteve-se nos temas que se seguiram, “Underdog” e “Loverboy”, levando a crer que a energia do público seria mesmo inesgotável. Nesta altura, já o vocalista Josh Franceschi estava completamente rendido ao povo português, sendo-lhe quase difícil conseguir cantar enquanto esboçava um sorriso de orelha a orelha. Para tal situação, o frontman da banda depositou um voto de confiança na legião de cantores que estavam fora do palco em “Stay With Me”, tema em que a partilha do microfone ente Josh e o Paradise Garage foi uma constante, tal como no tema que o sucederia, a balada “Spell It Out”, uma estreia em palcos.

Boa noite a todos! Nós somos os You Me At Six, do Reino Unido, e passou tempo demais desde a última vez que vos vimos”, confessara o vocalista no primeiro contacto entre a banda com o público – ficou a sensação de ser um pouco tardio. “Não sei bem o porquê de termos tanto tempo para voltar a Portugal nem o porquê de este ser o nosso primeiro concerto a solo por cá… mas estamos muito contentes por regressar e por ver tantas pessoas apaixonadas pela nossa música

diria o artista mais tarde, antes de apresentar mais um novo tema, “Heavy Soul”.

Recuando atrás no tempo para 2011 a Sinners Never Sleep, houve uma “Reckless” onde a euforia e manifestos na plateia manteve o mesmo nível de entrega flamejante registado no início do concerto, o que levou a Josh dedicasse “No One Does It Better” a “um dos melhores públicos que tivemos recentemente”; e, claro, este não desiludiu. Aliás, durante todo o concerto, os fãs de You Me At Six provaram que, mesmo já não possuindo o mesmo relevo de outrora, a banda ainda têm inúmeros fãs que, a julgar pela atitude e expressões genuínas de felicidade, valem por cem. E eram estes mesmos, os mais irrequietos, que impulsionavam a que o grupo britânico não pregasse fundo ao acelerador, perdesse o ânimo ou começassem a dar sinais de cansaço, isto mesmo depois de uma hora de concerto a um ritmo alucinante. Aproveitando o final para descontrair um pouco e tocar algo que não era seu, houve uma cover de The Killers, “When You Were Young”, dificilmente percetível e que causou alguma estranheza por parte do público, levando a que alguns recuperassem o fôlego.

Já perto do fim, “Take On The World” daria por encerrada noite, mas não antes sem uma palavra de apreço a um dos roadies da banda que fazia anos nessa mesma noite, sendo-lhe dedicado o tema assim como uma fugaz salva de parabéns por parte de toda a sala. A noite não acabaria aí, como seria de se esperar, visto que um encore quase que era exigido. Para o iniciar, houve “Lived a Lie”, do anterior Cavalier Youth, e um pedido de desculpas: “Pedimos desculpa pelo esquecimento, mas o começo deste concerto deveria ter sido a dar os parabéns aos campeões da Europa. Só para que saibam, o meu pai é francês e ficou fulo, mas ao mesmo tempo… não queria saber muito porque eu nem gosto assim tanto de futebol” levando aos eventuais gritos de praxe onde o Éder é estrela. “Give” foi dedicado a todas as mulheres na sala, com Josh a relembrar que por de trás de cada homem, haveria sempre uma mulher ainda maior, recebendo uma das maiores manifestações da noite, mas seria mesmo com a inevitável “Room To Breathe” que o concerto chegaria ao fim, mas não sem um aviso prévia: “I want you to fuck shit up”. E assim foi.

Seis anos foi muito tempo mas finalmente os You Me At Six estrearam-se em Portugal pela porta grande, naquele que foi um concerto irrepreensível da banda e que cheirava a ‘V’ de ‘volta’; “há uns atrás, tínhamos agendado um concerto no NOS Alive mas não foi possível levá-lo a cabo. Quem sabe se este ano não nos veem por lá…”. Se os britânicos vão regressar neste verão a Lisboa ou não, essa informação está no segredo dos deuses, mas duas coisas são certas: julgando por esta noite, eles bem gostavam; e os portugueses, cá estarão para os receber.

 

Texto – Nuno Fernandes
Fotografia – Luis Andrade
Promotor – Everything Is New