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Thievery Corporation, um espectáculo para implorar por mais

A 10 de Fevereiro o duo Rob Garza e Eric Hilton, ou mais famosamente conhecidos como Thievery Corporation, lançaram o novo trabalho. Já seria de esperar que este novo trabalho fosse algo diferente. Olhando para o histórico da banda, verifica-se que os artistas nunca assentaram em nenhum nicho musical, apesar dos elementos electrónicos se manterem. De “Saudade”, um disco com inspiração total na música brasileira, onde a percussão domina e o ouvinte descontrai até um nível espiritual, chegámos a “The Temple of I & I”. Para mostrar à Europa sobre o que se trata este novo trabalho, a tour europeia começa no Coliseu dos Recreios, sendo a primeira parte entregue aos portugueses LOT.

Convidados pelos cabeça de cartaz, o trio português pisou o palco enquanto a mais nobre sala de Lisboa continuava a receber filas e filas de audiência. Já as luzes da sala tinham sido apagadas e os poucos espaços vazios eram continuamente preenchidos, haverá sempre alguém que corre atrasado para o seu lugar. Na qualidade de banda de abertura, é um dado adquirido que o tempo de concerto nunca irá passar a meia hora. Certamente que foi com isto em mente que começaram o concerto, exibiram-se tanto quanto puderam, cativaram tanto quanto foi possível. Para uma sala que não tardava a encher, tocaram Mary Jane, Stayin Tonight e Take A Look (esta com coro de Concha Sacchetti e de Joana Capucho, que infelizmente passou despercebido debaixo de um som demasiado desajustado). Para o tema final, uma escolha que abundou em persuasão, tocaram All I Need, emprestado dos franceses Air. Esta escolha foi mais que bem-recebida pelo público, era visível a excitação na enorme multidão já formada na plateia e camarotes inclusive.

Antes de mais, que se diga que apenas os camarotes do lado esquerdo, junto ao palco, ficaram por ser vendidos, toda e cada outra secção esgotou. Este é o impacto que uma banda já com 20 anos tem, esta é a ansiedade que foi criada pela curiosidade de novos temas, desta vez tendo como musa a Jamaica. O espectáculo começou ao som de Facing East, a lembrar a sonoridade dos ares de Marrocos, e também a avisar que os clássicos não seriam esquecidos nessa noite. Culture Of Fear, Illumination, Until The Morning… os fãs tiveram o que tanto gostam e mais! Alternando à vez o piso do palco, Mr. Lif, Raquel Jones, Puma e Shanna Halligan projectaram a visão do duo norte-americano. Puxando e animando o público, ora para levantar as mãos ou erguer isqueiros, sempre num cerrado acento Jamaicano, não havia como errar com a interacção. Um espírito colectivo estava instalado e nada parecia poder alterar isso, nem mesmo com uma alusão ao clima de conflito que se vive actualmente nos Estados Unidos, e como cada dia é uma batalha sob a nova presidência. O clima de festa estava instalado e os novos temas suportaram tal ambiente. True Sons Of Zion, Letter To The Editor, Weapons Of Distraction, temas novos e sem dúvida bem recebidos, mas foram os temas como Lebanese Blonde e The Richest Man In Babylon, músicas já decoradas por muitos, que mais deleite causaram.

Pouco mais de uma hora de actuação tinha decorrido, e um encore tinha sido recebido com sucesso. No entanto, para os demais presentes, pairava um pensamento que mais tempo de actuação era devido, pensamento este traduzido em assobios colectivos e bater de pés que ecoava pelo chão de madeira. Os artistas ainda se dirigiram novamente ao palco, mas apenas para agradecerem com uma vénia colectiva. Mesmo após as luzes da sala terem sido ligadas, e as portas dos camarotes terem sido abertas, o barulho persistia. A persistência infelizmente não foi compensada, talvez tenham sido guardadas forças para a muito longa tour europeia, e talvez Lisboa fique assinalada como o melhor concerto da tour.

Texto – Samuel Pereira
Fotografia – Jorge Buco
Promotor – Everything Is New