Concertos Reportagens

Lúcifer e o fogo incandescente no Musicbox Lisboa

DO CARAÇAS! Maneira fraca de começar uma reportagem? Talvez. Admirem-se ainda mais que na noite de Sexta-feira, 28 de Janeiro, foi o meu primeiro concerto dos The Poppers. Parece inacreditável, afinal já contam com mais de 15 anos de existência, mas é a verdade. Uma verdade que a mim me parece chegar na altura certa, pois Lucifer é também o registo discográfico que mais gosto, tendo sido inevitável ficar surpreendida com a força magnânima que o quarteto ganha em palco. Ouvir o disco em casa, no carro, onde for, é bom, mas testemunhar ao vivo a entrega destes quatro músicos é toda uma outra dimensão. Não é que pareça um disco diferente, afinal as canções são as mesmas, mas existe uma vida, uma energia tão visceral e tão pura de entrega ao rock, que somos facilmente arrebatados aos primeiros acordes.

O concerto começou com “Like Dust”. No final do concerto o Rai admitiu que ao início se sentia algo nervoso, afinal tinham estado fora muito tempo, mas para mim foi dos melhores inícios de concerto a que tenho assistido. “Mexo-me muito para disfarçar!”, fosse para disfarçar ou não, rapidamente a banda dominou o público. Seguiram-se três temas de registos anteriores, “Boys Keep Swinging” e “Up With Lust”, para de seguida ser chamado ao palco o primeiro convidado da noite, Filipe Costa, o teclista dos Sean Riley & The Slowriders. Se em entrevistas o Rai já tinha declarado que a integração de Filipe Costa na gravação das músicas em que participou tinha sido natural, tal também foi evidente em palco. “Do you remember” é, para mim, uma das faixas mais fortes do disco e se o quarteto já estava forte, quando Filipe Costa se juntou, com a sua força e aptidão inata para as teclas, viveu-se um dos momentos mais bonitos da noite.

Não entrando em muitos mais detalhes, acho importante referir a homenagem que se seguiu, com o tema “Peyote”, ao A Boy Named Sue, um dos DJs mais conhecidos e conceituados no que toca a passar rock ‘n’ roll. Estas emoções de partilha e paixão pela música ganham uma vida muito própria quando sentidas de forma tão intensa em cima do palco e tivemos o prazer de testemunhar mais momentos desses. Entretanto, estreia-se em palco Afonso Rodrigues e também Filipe Costa regressa, para um dos momentos mais intensos da noite. Foi bonito ver como seis músicos, tão diferentes uns dos outros, transmitiam tanto a mesma coisa – a profunda devoção pela música, pelo rock, uns pelos outros. Terminada a epopeia musical, “Days of Summer” teve direito a roupagem nova, e foi tocada só pelo Rai e pelo Bonés, seguindo-se “Hey, Lay Your Hands on Me”, outra das minhas faixas preferidas de Lucifer. Entre músicas, o frontman foi agradecendo ao público, reforçando o quão importante para eles era aquele apoio e a sua presença.

Já caminhávamos para o fim quando rebentou o belo single “In The Morning”. Após uma pausa e um regresso pedido com entusiasmo pelos presentes, surgiu Paulo Furtado, vindo directamente de outro concerto em Leiria, para tocar, com Rai, Filipe Costa e Afonso Rodrigues, um dos temas mais bonitos não só do disco, como da música portuguesa. O concerto terminou então com “Delusions of Grandeur”, com quatro grandes músicos em palco, com um público completamente rendido, todos de sorriso no rosto.

No fundo, acho que este concerto foi o culminar de um caminho já longo, com algumas atribulações pelo meio, em que a banda se teve que superar a si mesma, acumulando tanta energia que de alguma maneira tinha que ser libertada. Lucifer, o terceiro longa-duração da banda, teve a produção de Paulo Furtado e a participação de Filipe Costa e Ian Ottaway (colaborador dos Black Rebel Motorcycle Club). Tudo isto junto, conjugado com a entrada de Kid Richards na banda, que mais pareceu sempre ter feito parte da banda, e ainda com o crescimento notável enquanto músico de Luís Raimundo (o projecto que tem com Afonso Rodrigues – Keep Razors Sharp – contribuiu para isso), parece ter criado as condições perfeitas para um regresso há muito esperado, espelhando uma banda segura do que quer e capaz de incendiar qualquer palco.

 

Texto – Sofia Teixeira
Fotografia – Ana Pereira