Opinião Reviews

A West com Cave Story

Quando em 2015, o tripleto de jovens Gonçalo Formiga, Pedro Zina e Ricardo Mendes lançaram o EP de estreia Spider Tracks, partiam em busca do sonho de vingarem no atual panorama musical nacional. A fórmula era simples e eficaz: ao enérgico indie rock, com tiques de alvoroço característicos de post-punk, junta-se a doçura pop que torna a rebeldia dos temas de Cave Story em algo de sonante e envolvente. Face a este cartão de embarque, o público português respondeu com um estrondoso “sim!”, comparecendo em massa aos concertos que os rapazes oriundos das Caldas da Rainha assinaram um pouco por todo Portugal; com apenas um EP na calha, estes rapazes tiveram o privilégio de tocar em alguns dos festivais de maior relevo a acontecer no nosso país, como o NOS Alive, Milhões de Festa ou o Vodafone Mexefest. Depois de uma estreia de sonho, o trio resguardou-se nos estúdios da sua terra-mãe para gravar o seu primeiro longa-duração, de nome West, e que veio confirmar que todo o alarido que rondava a banda era justificável: os Cave Story são uma autêntica força da natureza naquilo a que produzir malhas diz respeito.

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Com a lição bem estudada sobre aquilo que a sua crescente legião de fãs gosta, os Cave Story preferiram não se aventurar por terrenos sobre os quais ainda não estão totalmente familiarizados com, optando antes por apresentar um disco que joga pelo seguro e que retém o mesmo charme de Spider Tracks, ao mesmo tempo que limaram algumas dessas arestas, causadas pelo crescimento entre anos. De facto, a primeira impressão com que se fica de West, depois de umas quantas audições, é a da evolução de jovens músicos em artistas de pleno direito, tal não foi o crescimento que um simples ano desencadeou nestes rapazes. “Body of Work”, primeira faixa e single extraído do álbum, e “Trying Not To Try” são dois dos temas que melhor demonstram esta mudança, com os rapazes a criar duas músicas que tão bem comprovam os toques pop previamente mencionados, onde o abrandamento do ritmo contagiante dos Cave Story dá lugar àquelas que são, provavelmente, as música mais coloridas e vívidas do trio, tal como o pop frenético e eletrizante exige que assim seja.

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Apesar do amadurecimento enquanto músicos permitiu-lhes criar músicas mais elaboradas e diferentes daquelas com que nos brindaram anteriormente, ainda há uma linha ténue que os conecta aos jovens que deram à luz “Southern Hype”, o primeiro grande marco na ainda curta – espera-se duradoura – carreira dos Cave Story. É em temas como “American Nights”, “Youth Boys” ou “Darkness Is a Figure”, uma das melhores, onde a existência de alucinantes refrães que transbordam rock por todos os lados são contrabalançados com momentos puramente instrumentais onde o trio das Caldas deixa que sejam os seus instrumentos a falar mais alto, onde a troca de palavras por notas musicais revela-se em música para os nossos ouvidos – literalmente. Não esquecendo as suas origens – apenas tornaram-nas mais refinadas – nem a agressividade com que se atiravam a alguns dos seus temas mais punk de outrora, “Baguettes” e “Running With Baguettes” acabam por ser as músicas mais poderosas e arrebatadoras em todo o disco, cuja magnitude traz consigo estampada a classificação de ‘fan-favorite’ em futuros concertos da banda (de salientar, também, a excelente transição que é feita entre ambas as canções). As baguetes são um produto francês e dos mais exportados pelo país que viu Portugal a tornar-se campeão europeu, mas estas são bem portuguesas e, quiçá, ainda as vamos ver a viajar por toda a Europa dentro de um futuro não muito distante.

Com o lançamento de um dos EPs mais aplaudidos da época passada, o seu seguimento era dos mais esperados para este ano de 2016, e os Cave Story sabiam bem da árdua tarefa que teriam que acatar: voltar a surpreender o público português. Para tal, recorreram um pouco em demasia às ideias, ao estilo e ao formato do seu antigo trabalho, o que até aqui iria dificultar a dita. Contudo, a maturação destes rapazes permitiu-lhes dar a volta por cima à situação, tendo corrigido alguns erros de principiante e, acima de tudo, criado temas ainda mais vibrantes e apelativos; de um modo geral, West funciona tanto de disco como de uma extensão do trabalho iniciado em Spider Tracks. Todavia, estas semelhanças jogam em favor dos Cave Story, na medida em que seguem confiantes pelo trajeto que previamente delinearam em busca do sucesso: se em 2015 percorriam-no em bicicletas, agora fazem-no no conforto de um avião que descolou a todo o gás. Aguardamos ansiosamente pela próxima viagem do trio proveniente das Caldas da Rainha. Afinal, de Lisboa até lá são precisamente 100 quilómetros… e duas baguetes.

Texto – Nuno Fernandes
Fotografia (banda) – Manuel Simões