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Wild Beasts, Boy King: Bestas ou Reis?

Present Tense é capaz de ter sido o álbum que abriu mais portas a Wild Beasts (antigos Fauve). Não seria para menos, êxitos como “Wanderlust” ou “Sweet Spot” ainda hoje se mantém em repeat nas nossas cabeças. Dois anos depois, no dia 5 de Agosto de 2016, a banda inglesa dá à luz Boy King e de imediato surge a dúvida sobre a posição da fasquia.

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Pois bem, o quinto álbum da banda traz um novo pano de fundo e uma nova cor. A aposta nos sintetizadores e beats electrónicos que no seu antecessor se fez em tom de introversão, aqui ganha uma forma extrovertida e, talvez, mais quente e densa. Texturas foram descobertas e experimentadas, o objectivo de obter uma explosão de ritmos fora cumprido. Segundo Hayden Thorpe, o seu lado mais feio e arrogante pode encontrar-se neste álbum. Eu diria antes um lado mais astuto, audaz e revelador. Afirma, ainda, que foi com inspiração na pop de Justin Timberlake e na potência industrial de Nine Inch Nails que este álbum se construiu.

Deste álbum saem 10 faixas trabalhadas e construídas com base numa vontade de experimentar os limites da synth pop quando cruzados com atmosferas mais escuras e os mundos mais duros da realidade. Nota-se um despertar e uma necessidade de assomar por novas direcções mantendo, ainda assim, a essência de Wild Beasts. Há um caminho a percorrer por entre Boy King, caminho esse que se pode assemelhar a um trilho de montanha russa com loops, seguindo uma linha disforme ainda que trabalhada.

Trata-se de um álbum algo visceral e irrequieto envolto em letras apelativas, negras e conscientes, mostrando um lado mais expressivo e escuro de tudo. A voz faz a diferença e contribui para que a música destes 4 rapazes seja sempre algo viciante e inexplicável.

Em quase todas as faixas a componente electrónica é o marco a destacar, juntamente com a lírica e o bailado da guitarra.Este consegue sempre assegurar-nos que se trata de uma banda física e não nascida informáticamente. Em “Alpha female”conseguem criar-nos um embalo e encantamento diferente com a junção de vozes arrastando-nos para um certo eco da consciência. Já “Get My Bang” traz-nos cores e letras provocatórias que extravasam os muros que se apresentam diariamente à nossa frente. Em “Celestial Creatures” e “Dreamliner” encontramos o conforto e aconchego dos Wild Beasts de Present Tense. Encontramos ainda uma faixa extra de nome “Boy King Trash” onde em cerca de 21 minutos sentimos na pele a essência destas 4 almas. Divide-se em várias e múltiplas fases, desmaterializações e experiências num resumo de tudo e do todo que são e das suas tonalidades camaleónicas. Talvez nos queiram mostrar a colecção dos momentos de construção de Boy King e tudo o que podem alcançar.

A fasquia manteve-se e a surpresa foi grande, tudo pelo simples facto de Wild Beasts conseguirem mostrar que não têm limites e que podem ser o que quiserem. Trata-se de um álbum puro e cru que rasga mundos mais pesados e explosivos elevando a electrónica ao mais alto patamar, sem nunca esquecer as linhas da sua verdadeira identidade. Apesar de tudo, prefiro a sensibilidade, sensualidade e sobriedade de Present Tense.

Os Wild Beasts apresentam amanhã, às 21h00, no MusicBox, o seu Boy King a uma sala completamente esgotada.

O Música em DX é parceiro oficial do Jameson Urban Routes 2016. Toda a informação estará disponível no nosso website em Reportagens > Festivais > Jameson Urban Routes > 2016.

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Texto – Eliana Berto
Fotografia (Capa) – Tom Andrew