Concertos Reportagens

O embalo de Blaze & The Stars e o estalo de CICUTA

Que quinta feira era dia do lançamento de CICUTA, todos pareciam saber. Que estes iriam ser precedidos pelos Blaze & The Stars, apenas os mais atentos saberiam. Que esta noite seria tão inesperada, poucos preveriam.

Comecemos pelo início. Antes dos primeiros acordes dos Lisboetas Blaze & The Stars, várias eram as pessoas que esperavam, ansiosas mas serenas, pela abertura das portas do Sabotage Club. Pull my Daisy revelou-se uma interessante primeira música: se por um lado o seu longo preâmbulo instrumental permite que o público se prepare para o que ai vem, possibilita, ainda, que a banda se ambiente ao espaço, às pessoas e entre si.

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Estes cinco rapazes percorreram os seus álbuns e EP’s, agarrando os presentes com o seu eclectismo. Seja instrumental – que maravilhas faz um saxofone – seja linguístico – expressando a sua música em Inglês, mas também em francês – seja, ainda, rítmico: é imprevisível o rumo que cada música tomar, tornando cada tema um verdadeiro desafio.

Destaca-se ainda a sintonia com a plateia, que se ficou a dever ao carisma do guitarrista João Zagalo, mas principalmente ao desempenho da banda, que, entre a surpresa e o embalo, deixou-nos a todos tão despidos quanto Blaze Starr.

Se  Blaze & The Stars nos embalou, CICUTA foi uma estalada na cara. É incrível que com apenas dois elementos – Sérgio Gregório na bateria e voz e Pedro Rodrigues no baixo, sintetizador e voz – esta banda seja responsável por tantos decibéis e transmita tão grande energia.

Se o tema O Pânico Continua mostrou-se coerente com a banda, a segunda música – Dead Fish –  foi um trunfo demasiadamente bem jogado. Provavelmente o seu tema mais unânime, libertou os corpos e arrastou a multidão para a frente do palco, de onde não mais saiu. Cara-a-cara com o seu público, a enorme surra à bateria e a criatividade vocal de Pedro propiciou um borburinho na sala. A banda é ainda melhor ao vivo que nos headphones, transmitiu-se entre ouvidos, recebendo invariavelmente um movimento afirmativo da cabeça como resposta.

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É curiosa a forma como a banda abraça o risco. Neste lançamento do álbum, os CICUTA, chamaram para si a responsabilidade de um jogo de sintetizadores e vozes fora da caixa, cantaram em duas línguas, revelaram temas inéditos, introduziram inesperadas sonoridades futebolísticas e cantaram sobre gatos. Todos estes elementos condensados proporcionaram uma noite suada e inesperada, que terminou com uns longos e consensuais aplausos de quem entendeu onde pretende chegar a banda quando canta: “Only dead fish go with the flow”.

Texto – Tiago Pinho
Fotografia – Ana Pereira (Cicuta) | Margarida Chambel (Blaze & The Stars)