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PAUS, Almas inquietas

A chuva caia incessantemente desde manhã e a noite era propícia a sofá e manta naquela sexta-feira. No entanto, a Sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge estava quase esgotada para uma celebração. Tratava-se da festa comemorativa do nascimento do mais recente disco de PAUS – Mitra.

Para aperitivo, algo ligeiramente desapropriado e deslocado. Cachupa Psicadélica foi a escolha de PAUS para os acompanhar nesta digressão de apresentação de Mitra ao mundo. Um Cabo-Verdiano de nome Lula’s, por sinal o Último Caboverdiano Triste, acompanhado de uma guitarra eléctrica pára em frente ao microfone e começa a contar histórias da sua terra.

Essas histórias, na sua maioria descritas num crioulo rouco, são acompanhadas de acordes simples e melódicos. Pelas colunas sai um género de morna alternativa e instrospectiva capaz de cativar apenas os apreciadores.

Entre outras, ouviram-se: “3/4 de Bô”, “Alternativa Imaginário Caboverdiano”, “Amor d’1 Laranjeira” e “Carnaval Tradição”. O psicadelismo que se intui do nome não existiu e o aborrecimento tocou levemente algumas peles que estavam presentes.

Numa jaula de leds bem ao estilo de Battles, de onde bebem igualmente influências musicais, os PAUS estavam prontos para fazer estremecer o chão.

Depois de largos meses em estúdio, estes 4 rapazes vinham a transbordar de energia e vontade de mostrar Mitra ao mundo. Iniciaram o espéctaculo com o single de apresentação “Pela Boca” e algo grande e denso cobriu a atmosfera e entrou pelos ouvidos do público. Força e violência na percussão! Os PAUS são imparáveis e quase nos fazem estremecer todas células que temos no corpo com todo o jogo de pratos, bombos e tambores que apresentam. Por ser esta a sua característica principal, por vezes descuidam ligeiramente no volume da bateria siamesa, absorvendo as vozes e, por vezes, o baixo e as teclas.

As ondas tribais estão mais carregadas e é dada uma grande importância ao afrobeat. Coisa que, em minha opinião, pode começar a fugir às origens de PAUS, ainda que seja o que pretendem. Há muito experimentalismo e explosões sufocantes de força rítmica desenhadas por beats simpáticos e complexos vindos das teclas de Fábio. O baixo ajuda a dar um toque sensual e apaziguador ao turbilhão de sentimentos criados. O jogo de luzes fez um dos melhores trabalhos de dança em palco e ajudou a sugar, por diversos instantes, as pessoas para a jaula.

Ouviram-se ainda “Era matá-lo”, “Fumo”, “Mo People”, entre outras, terminando com um encore personalizado e diferente onde ninguém saiu das suas posições. “Deixa-me Ser” fez parte deste encore e foi a única música que fez o público levantar-se das cadeiras.

Segundo eles “Somos todos Mitra e quanto mais rápido aceitarmos isso melhor”, até poderemos ser, mas Mitra não é de fácil digestão e pode não ter convencido algumas pessoas.

A festa terminaria com um After Party no Lux, onde Quim e Hélio tocariam discos para todos os que aceitassem o convite de ir.

Texto – Eliana Berto
Fotografia – Ana Pereira