Backstage

O Passeio dos Salto

Eles regressaram, e desta vez o “Passeio das Virtudes” faz-se a quatro, passando de duo a quarteto. O Música em DX teve uma conversa animada com a banda, sobre o álbum, o presente, o passado e o futuro da banda. Este foi o resultado possível.

Música em DX (MDX) – Porquê Passeio das Virtudes?

Guilherme: Pumba.

Luís: Começa bem. Passeio das Virtudes é uma imagem tão bonita. Eu acho que o álbum chamar-se Passeio das Virtudes um statement que aglomera melhor o álbum. É uma visão…

Filipe: E é uma música!

Luís: … e é uma música que transmite uma visão que liga melhor todos os momentos líricos. E acho que é um sítio muito bonito no Porto, com o qual todos nós identificamos a sua beleza natural.

Filipe: E é onde nós vamos algumas vezes.

Luís: Há muitas coisas que nos agradam no Passeio das Virtudes.

Filipe: Há várias relações, até é uma letra de uma música. E a temática da música aglomera tudo.

Luís: Então fala lá um pouco da temática. É que as pessoas não sabem.

Guilherme: Vão ouvir o disco… A letra fala de quatro frases que se repetem ao longo da música, fortes. “Nunca faço nada que me possa orgulhar/Um dia no caixão os bichos não me hão-de julgar/ Nunca faço nada que não me leve até ao céu/No Passeio das Virtudes o caminho não sou eu.” Então esta última dica… a letra não foi escrita por nós, foi pelo Pedro Lucas, e esta última dica é engraçada. Nós estamos a fazer caminho, somos nós, não é o eu que interessa…

Luís: E só não sendo um caminho feito para nós é que podemos potenciar as virtudes.

Guilherme: Por isso é que eles estavam a dizer ser o ponto de encontro do álbum, porque é um pouco esse o nosso mote. Estamos a fazer o nosso caminho. Um caminho voltado para potenciar o que há à nossa volta.

Filipe: E que marca a mudança que estamos a entrar. Começou com o Luís e o Guilherme.

MDX – Era isso que ia perguntar. Este álbum é a vossa estreia enquanto quarteto. Isto é um Salto 2.0 ou foi uma evolução natural.

Guilherme: É gradual, sem dúvida. Para quem sinta um 2.0, aconteceu mais qualquer coisa, de facto, na música não é só por dizer que há mais duas pessoas.

Luís: Se não tivesse acontecido também não os chamávamos. Nós quisemos que a banda crescesse. Nós ao vivo queríamos que as pessoas sentissem a alegria que tínhamos a tocar em banda.

Guilherme: Mas nota-se musicalmente! Tipo, as pessoas estão a fazer algo que já faziam. Não! Há um imput criativo, também porque eles (Filipe e Tito) estão nisto. Evoluímos todos e estão nisto.

MDX – E é mais fácil trabalhar a dois ou a quatro?

Guilherme: Acho que é mais fá… Não sei! É diferente.

Luís: Se é mais rico, mais divertido, é!

Guilherme: Tens mais pessoas a partilhar e às vezes qualquer um deles e qualquer um de nós diz algo que não estávamos a pensar. E aqui são quatro pessoas com esse poder e aumenta
exponencialmente as possibilidades.

MDX – Vocês estudaram Som…

Guilherme:… e Produção Musical. Nós os três. O Tito não estudou mas estudou sozinho. É como tivesse estudado. Muito bem, ãn.
Luís: O youtube ajuda!

MDX – Com este álbum então conseguiram explorar mais som e fazer outras experiências.

Guilherme: Sem dúvida! E mesmo ao nível de captação e de como as coisas foram gravadas.

Filipe: Às vezes na sala de ensaio, a experimentar.

Luís: A ver como é que iria ser a gravação do álbum. Passou por essa experimentação, tivemos um pouco de sorte porque estudámos isto e frequentámos um curso que fala da gravação e disso tudo. Ajudou-nos imenso na produção deste álbum.

 

 

MDX – Então foi um álbum fácil de se fazer.

Guilherme: Teve muito trabalho.

Luís: Teve muito trabalho porque nós o criámos musicalmente, e enquanto produto. Nós é que o vamos editar, fizemos o videoclip, fizemos a capa, fabricámos o disco.

Guilherme: Não na fábrica.

Luís: Foi um processo trabalhoso, mas que acaba por ser muito gratificante. As coisas ficam como tu queres, porque foste tu que fizeste.

MDX – E já tinham saudades de gravar um álbum?

Guilherme: Fogo se tínhamos!

Luís: Sim… Nunca gravámos da maneira como grávamos.

Guilherme: Mas já tinha saudades de gravar e chegar ao fim e ter 12 músicas.

Luís: O primeiro álbum tinha sido todo por overdebs [Overdebs é uma técnica de gravação por cima de sons já existentes]. As baterias eram sequenciadas, já existiam e gravávamos por cima. Aqui gravámos todas as maquetes no estúdio, fomos para o estúdio. Para gravar a bateria e o baixo foi tudo ao mesmo tempo. Mas já existia muito a componente orgânica no processo de gravação. Não é aquela coisa matemática.

MDX – E neste processo partiu de uma vontade intrínseca ou também porque já tinham muita gente a pedir para gravar?

Luís: O pessoal perguntava, sem dúvida.

Guilherme: O pessoal perguntava, mas acho que havia uma grande motivação para gravar.

Luís: A ideia é: Para estarmos a fazer alguma coisa que gostamos mesmo, tem de ser ao nosso ritmo. Então como duas pessoas novas, se estivesse para forçar alguma coisa… Tivemos oportunidade para lançar o álbum mais cedo, mas não seria como nós o criamos sentir. Por isso foi óptimo termos feito a tour Mar Inteiro, em que tocámos as músicas do álbum a nascerem, por isso foi sem dúvida, mais que as pessoas a quererem foi a banda querer. Se a banda quiser e se divertir muito…

MDX – E como é que foi a adesão do público durante a tour?

Luís: Foi óptima! No geral, foi mesmo boa. Tivemos sorte também. As pessoas reagiram bem às músicas novas, às músicas antigas, as músicas que ainda não eram músicas… Mas de certo acabou por se tornar uma coisa divertida, dinâmica e orgânica. As pessoas reagem a isso.

MDX – Basta ver os singles que lançaram e o feedback que o pessoal deu nas redes sociais.

Luís: Sim, é muito fixe.

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MDX – Lançam o Lagostas, Mar Inteiro… O vosso tema é o meio marítimo?

[Risada]

Guilherme: Vem mais por causa do Mar Inteiro… E no Mar Inteiro, tanto a capa do single como a capa da promoção tem isso. Por a música Mar Inteiro… lá está… é um pouco isso, entre ser mar inteiro e pronto. E acabámos por falar em algo que falámos no passeio das virtudes, dos vários caminhos, e já tínhamos na fotografia as quatro visões diferentes, mas que eram complementares deste mar. Os casacos que eram um mar diferente, e um meio aquático.

Luís: O mar dá aquela sensação de espaço. De imensidão, de viagem. De aventura. E isso tem muito a ver com o fazer de um disco. E acho que é um tema que dá outros temas. Se ouvires outras músicas também há outras referências.

Filipe: À terra, à selva, à cidade, à cidade branca…

Luís: E referência ao Mar Inteiro. As músicas referenciam-se umas às outras. Acho que o álbum não é só o mar…

Guilherme: Ao passeio das virtudes, à estrada…

Luís: É muito pictórico de facto!

Guilherme: Mas a Lagostas não veio porque tínhamos o nome Mar Inteiro e queríamos continuar no meio aquático.

Luís: Não muito pensado. Ficou o nome de guerra. Nós tínhamos outros nomes de guerra mas não usámos mais nenhum.

Filipe: Não, não.

Guilherme: Quando fazemos a música, normalmente não temos a letra. E então neste álbum não tínhamos nenhuma letra, o Pedro Lucas é que tratou disso. E pronto, às vezes é preciso dar nome. Gravas no ensaio, e não vais dizer: “Ensaio do dia 23”, dá um nome. Lagostas… Havia outras. E essa ficou. Mas a letra não é tão aquática.

MDX – Pois não. Fiz umas pesquisas e para o ano vocês já fazem 10 anos enquanto Salto.

Filipe: [começa a rir-se]

Guilherme: QUE FORA MEU!

Luís: Sim, mas se fores a ver enquanto banda…

Guilherme: Se calhar projecto, vá.

Luís: Nós somos primos [a apontar para o Guilherme]…

Filipe: Se não tivessem começado aí, se calhar não existiam agora.

Luís: Nós somos primos, e nós tocámos guitarra e músicas assim meias descomplexadas. Não tínhamos pretensão de fazer uma banda. Era mais para tocarmos no Teatro Sá da Bandeira. Criámos um nome e íamos divertindo e fazendo música. A sério foi só em 2011…

Guilherme: Final de 2010, quando saiu a colectânea Novos talentos FNAC…

Luís: Mas quando é que a malta falou para criarmos um disco?

Guilherme: Mas aí já havia o nome Salto publicado em algum lado. Nas FNACs já aparecia o nome Salto publicado. Foi o primeiro registo oficial dos Salto. Mas ainda não tínhamos ideia do que é que iria ser a banda.

Luís: Quando pensámos que queríamos fazer mesmo uma banda, foi no fim de 2011. E pensámos: E agora o que vamos fazer? Vamos ser músicos? Vamos tocar a música que nos pediram para fazer?

Guilherme: Mas tem piada, porque desde de 2007 nunca abandonamos o nome Salto, por isso tem essa importância porque marcou um início, mas não sabíamos minimamente o que estava a acontecer. E em 2012 começámos a perceber mais com o álbum. E agora é que estamos cada vez mais clarividentes sobre o que estamos a fazer.

MDX – Sim, agora com estatuto de banda com quatro pessoas e segundo álbum.

Guilherme: Eles cresceram mesmo.

Luís: É muito fixe mesmo. É muito fixe tocar com banda. Desculpa lá Guilherme, gosto muito de tocar contigo…

Guilherme: É na boa. Mas nós desde do primeiro álbum que tocamos com banda, mas nunca tínhamos feito álbum com banda.

Tito: Com banda e extensa! Uma pessoa não é uma banda, mas duas pessoas à partida…

Guilherme: Já é. Um duo não é assim. Um duo dinâmico.

Filipe: Então estás a dizer que os Daft Punk não são um duo dinâmico?

Luís: São um projecto. São um duo, de música electrónica francesa.

Guilherme: Eles consideram-se uma banda.

Luís: São uma banda, claro que sim.

Tito: The Black Keys!

Luís: Aí são dois, mas são cena de banda! Não é cena live.

MDX – Mas têm malta a acompanhar atrás.

Guilherme: Também já uns gigzinhos só os dois. Muitos, aliás.

MDX – 2016 ainda está a começar, este 2015 acabou por ser muito intenso. O que recordam com mais carinho?

Luís: Várias. A tour Mar Inteiro foi uma loucura!

Guilherme: Lembro-me muito bem de Agosto e dos Bons Sons, em que o Luís fazia anos e foi uma celebração! Foi uma celebração porque já tínhamos feito uma série de concertos.

Filipe e Luís: Tínhamos acabado de gravar…

Guilherme: E então foi mesmo a celebrar com menos preocupações.

Luís: Tocámos no palco principal. Bons Sons foi o culminar.

Guilherme: Mas não individualizamos muito o ano com um episódio. Foi um ano, como tu dizes, muito intenso. Ensaiámos muito, tocámos muito, muitos concertos, muitas horas na sala de ensaios e pronto.

No próximo dia 30 de Janeiro os Salto lançam o seu 2º álbum com concerto em Lisboa no Estúdio Time Out – Mercado da Ribeira. Depois do álbum homónimo lançado em 2012 e do EP “Beat Oven” em 2014, chega-nos em 2016 o segundo longa-duração -“Passeio das Virtudes” – da banda portuense.

“Passeio das Virtudes”, que foi sendo desvendado ao longo do último ano com os singles “Mar Inteiro” e “Lagostas”, encontra-se desde o dia 1 de Janeiro em pré-venda na loja de venda digital – Itunes Store. A pré-venda garante a oferta exclusiva e antecipada de 4 músicas do álbum. A partir de dia 30 de Janeiro o álbum.

1 de Janeiro – Pré-venda do álbum no iTunes
30 de Janeiro – Estúdio Time Out, Mercado da Ribeira, Lisboa Bilhetes Disco à venda no local e em www.saltoedequemouvir.pt
4 de Fevereiro – Salão Brazil, Coimbra (Reservas 239837078 salaobrazil@gmail.com)
5 de Fevereiro – Parque Urbano de Paços de Ferreira
26 de Fevereiro – Café Concerto Centro Cultural Vila Flor, Guimarães
2 de Março – Auditório António Lamoso , Sta Maria da Feira Bilhetes

 

Entrevista – Carlos Sousa Vieira