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Steve Wynn, nostalgia na guitarra

Na passada 4ª feira o Musicbox Lisboa viu 2 gerações de guitarristas no mesmo palco. Com a disposição da sala em ambiente de bar blues, com mesas e cadeiras em frente ao placo, e dois écrans laterais, onde se iriam projectar os guitarristas numa imagem (romântica) esbatida, num preto-e-branco envelhecido.

 

“Duquesa” (Nuno Rodrigues) nas repetidas vezes que se apresentou, esteve sozinho com a guitarra e a “cadela Fifi” no pensamento (?). O vocalista dos Glockenwise, banda de Barcelos que já viu editado o seu 3º CD, aventurou-se na solidão de palco e aceitou o desafio de preencher a 1ª parte do veterano norte-americano Steve Wynn. Trouxe “roupagens” diferentes a alguns temas que nos remetem para ambientes veraneantes, como “Ice Cream” e “Times”. Entre as várias “confissões”, como a da composição de “hinos para Juntas de Freguesia” e “a operação da cadela Fifi”, o Nuno lá foi entretendo o público que aguardava o Steve.

 

Steve Wynn, vocalista da banda The Dream Syndicate sobe ao palco também ele sozinho, apenas com a cumplicidade da sua guitarra. Simplicidade no traje negro a condizer com a guitarra, que fez a viagem EUA para Portugal no acento de avião ao seu lado, e em jeito de piada Steve diz que até uns copos bebeu (“ a drunk guitar”). Com um vasto reportório musical (inicio dos anos 80), Steve encheu-nos com quase duas dezenas de temas (grande parte dos Dream Syndicate), intercalando com histórias introdutórias, dos temas e da sua própria vida. Entre eles o tema “1976”, que reporta a um dos seus ídolos (conhecido jogador de basebol norte-americano) que o marcou, acima de tudo porque sempre foi tão presente ao longo da sua vida que lhe pareceu que o tempo não passou. No fundo é a sensação de que não existe um passado distante nas nossas vidas, mas sim um presente continuo em que vamos acumulando camadas de emoções e experiências, que fazem o que na realidade somos.

Canções com registos mais rock n’ roll e outros nitidamente blues. Um “rock” anos 70 com a guitarra num desespero de graves, em que Steve se deixa levar pela repetição de acordes conseguindo momentos de verdadeiro delírio libertino. Um blues em jeito de valsa com acordes harmoniosos e frases de declarações de amor.

Durante toda a actuação, Steve Wynn transmitiu-nos o quanto sente “a liberdade de tocar a solo”, assim como a felicidade de acordar todos os dias, olhar para o mapa e identificar a próxima paragem (concerto). Transmitiu-nos a nostalgia dos mais de 20 anos que passaram desde que tocou em Lisboa, no saudoso Jonny Guitar, e fez a promessa que voltaria em breve pois gostou muito do Musicbox. E nós também gostámos dele.

 

Texto – Carla Sancho
Fotografia – Luis Sousa