Backstage

Rosemary Baby, da cozinha à guitarra com sentimento

Passados 2 anos do lançamento do EP de estreia “The First Time”, os Rosemary Baby lançam uma faísca do álbum que se aproxima mostrando ao público o primeiro single – “Nothing Can Stop Us”. Momento ideal para a Música em DX conversar e conhecer melhor o projeto e a cara e voz da banda – Bruno Rosmaninho.

Música em DX (MDX) – Como é que da cozinha se passa para a música?
Bruno Rosmaninho (BR) – Olha, o certo é que aconteceu. Gravei uma música em casa que mostrei ao Henrique Amaro, ainda era Chef de cozinha na altura. Ele gostou e meteu-me nos novos talentos FNAC em 2012. Não existia ainda banda, a minha filha estava a nascer e eu senti que era o momento de decidir e escolhi a música e assim passei dum dia para o outro da cozinha para a guitarra.

MDX – E a cozinha já foi mesmo posta de lado?
BR – Para já está completamente posta de lado, pelo menos a profissional. Continuo a gostar muito de cozinhar para a família e amigos e isso acho que nunca vou deixar de fazer. Agora profissionalmente não tenho muitas saudades.

MDX – O que é que aconteceu em São Tomé que te abriu também esse caminho?
BR – Foi em São Tomé que eu fiz as primeiras canções. Fui para lá para ser Chef do resort da ilha e estive lá 2 meses só à pesca e a conviver com as pessoas de lá e aquilo foi um baque dentro de mim. Dei por mim a pensar que me apetecia escrever, tocar, e porque não fazê-lo? Comecei a escrever em Inglês porque havia muitos sul-africanos na ilha na altura e queria que me percebessem. Pedi a guitarra emprestada ao padre e passado 15 dias de lá estar já estava a trilhar a primeira canção e depois pensei em meter uma letra em cima e pronto… Depois da primeira veio a segunda e cá estou eu.

MDX – O que é que te move mais neste mundo da música?
BR – O sentimento, talvez. Faço tudo ainda muito dentro de mim. Aliás, estar em palco ainda puxa muito por mim tanto psicológica como fisicamente. Acho que a passagem do meu sentimento para as outras pessoas é uma coisa que me faz sentir bem comigo próprio e ter a minha filha a dançar as minhas canções satisfaz-me ainda mais. Mas principalmente o sentimento que a música transmite ou pode transmitir. Eu tento transmitir um sentimento bom, pelo menos acho que é bom.

MDX – Qual foi a melhor experiência relacionada com a música que já tiveste?
BR – Sem ser subir pela primeira vez ao palco que será para sempre inesquecível, já tive a minha estreia internacional há pouco tempo com uma banda de uns amigos, os NAPALMA no Festival de Jazz de Montreux na Suíça. Para já terá sido, em termos musicais, o meu maior desafio, mas correu muito bem, fiquei surpreendido comigo próprio e agora é continuar e esperar que a vida corra bem. Correr bem não é significado de muito sucesso, é só ser feliz e tentar sempre fazer uma canção melhor do que a última.

MDX – Qual é a música da tua vida?
BR – A banda que me fez cantar e a música que me fez cantar foi a “Nantes” dos Beirut. Para mim será sempre uma música especial porque eu ouvia aquilo em repeat ainda antes deles aparecerem cá.

MDX – Então e o que andaram a fazer estes três anos?
BR – Gravámos o EP, lançámos pela NÓS Discos e temos estado a tocar, embora não tanto como eu gostaria mas a banda sofreu algumas alterações de elementos.

MDX – O single “Nothing Can Stop Us” tem uma grande força e significado. Queres explicar o que está por detrás da letra?
BR – Eu fiz esta música para dedicar à minha banda, aos elementos antigos, os do início. Foi naquela fase em que nós começámos cheios de pica e as coisas não dispararam logo, como eles se calhar estavam habituados, e senti que a banda antes de começar já estava a morrer. Então fiz essa música mesmo para dar o empurrão e agora ninguém nos podia parar, já aqui estamos. Foi um bocado para tentar puxar a malta e acho que consegui, embora eles tenham acabado por sair na mesma, mas já foi uma separação consentida e amigável e vamos ser amigos para sempre e quem sabe um dia tenhamos a estrada à nossa frente. A música já existia antes de estarmos a gravar o EP, já tem quase 2 anos. Mas não a quis meter logo no EP, tinha uma sonoridade um bocadinho diferente e pensei que seria o ponto de partida para o nosso segundo passo, o segundo álbum que sai já para o ano.

MDX – E o que podemos esperar desse novo álbum?
BR – Tento passar mais do meu sentimento. Estas músicas não vão ser tanto para a minha filha, como as músicas do meu inicio de carreira muito envergonhado. Agora talvez tenha crescido um bocadinho. O tema vai ser mais a vida do dia-a-dia, as coisas que nos custam, que magoam e chateiam. Não vai ser um disco triste mas em termos de letras vai ser um bocadinho mais duro. Não quer dizer que vá ser algo depressivo, não é nada disso, as letras são o reflexo da minha saída do meu mundinho para ir para o este mundo gigante que é o nosso com os problemas do costume.

MDX – Porquê o verão de 2016 para lançamento do álbum? Porque não agora?
BR – A minha ideia será também aguçar um pouco o apetite às pessoas, para ver se realmente vale a pena investir. Tem de se investir muito em tempo e dinheiro. Quero ver se tem pernas para andar, que eu acho que sim: a música está a ter uma boa receção por parte das pessoas e para mim é o mais importante. A partir do momento em que eu gravei uma música, não é para ficar em casa. O que eu quero mesmo é que as pessoas gostem e depois nos queiram levar à sua cidade para irmos tocar porque o que eu quero é tocar. Espero que este segundo disco nos traga mais concertos e também alguma credibilidade, que as pessoas não pensem que estamos a brincar e que isto é só um projeto que saiu para aparecer e que depois cada um vai à sua vida. Quero que seja algo que dure muito tempo.

E assim esperamos nós Bruno. Que o mundo te abra os braços e te abrace com o mesmo sentimento que te liga à música. Ficamos com a esperança do reencontro, mas da próxima vez, em cima do palco.

Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa