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Lambchop, As sombras difusas que nos absorvem

Nove anos. Nove anos?! As perguntas costumam ter um marco mais preciso – onde estavas no 11.09? No 25.04? No 12.11 (ok, quando a sonda Roseta aterrou no cometa)? Colocada sob um limite temporal tão abrangente as imagens tornam-se difusas, sombras a pairar sobre um muro. Exercícios de quantificação aproximados e todos chegam à mesma conclusão – é muito tempo. Se lhe associarmos o facto de ter sido o intervalo entre os dois últimos concertos de Lambchop em Lisboa, então facilmente concluímos que é uma eternidade. A maioria da escassa assistência, deveria ser concerto para São Jorge cheio e a abarrotar, que compareceu para esta noite de conforto de alma, estaria a concluir a licenciatura, à procura de melhor emprego ou uma minoria de mochila às costas. Nesse ano, no longínquo ano de 2006, enquanto os Lambchop tocavam na Aula Magna, a New Horizons tinha sido lançada para o espaço uns meses antes (19.01), em Julho Roger Federer e Amelie Mauresmo sagravam-se campeões em Wimbledon e uns dias mais tarde Zidane cabeceava na direcção errada e a Itália ganhava o seu último campeonato do mundo. Os Cars estreavam no cinema e 007 divertia-se no Casino Royale. Damaged tinha saído nesse ano, dois anos depois do transcendental OH (ohio) e mais seis anos até ouvirmos Mr. N.

Scott Martin (baterista) entra de mochila às costas e o resto da banda (Matt Swanson, Ryan Norris, Jonathan Marx, William Tyler, Alex McManus) em tom descontraído, seguindo cada um deles as pisadas de Kurt Wagner e do tão mítico quanto ele boné. Os músicos dispõem-se em semicírculo reforçando a ideia que uma banda é um colectivo não hierárquico. As músicas ondeiam com a mesma descontração que se absorve a imensidão de uma paisagem no sul do Estados Unidos ou que se alarga uma mesa para mais um amigo numa plácida tarde de Domingo. Entre cada tema Wagner apresenta mais um elemento dos Lambchop. Nesta fase o protagonismo é dividido com Tony Crow (teclista, exímio acrescente-se), com sentido de humor apurado e capaz de deixar o público no ponto caramelo e bem-disposto q.b. para ser capaz de acompanhar cada nuance tímbrica. “A linda ilha que é Portugal”, “Já comprei casa em Vila do Conde (onde tinham tocado no âmbito do Curtas)” e “Já sei as 300 combinações diferentes de cozinhar bacalhau” são apenas alguns exemplos que ajudaram a reforçar o caractér distendido da passada noite de Terça-feira.

Três anos, medida irrelevante, quando se trata de Lambchop. Três anos sem álbum editado, mas o que interessa quando todos conhecemos de trás para a frente, ou seria obrigação como mínimo – Gone Tomorrow, I Would Have Waited Here All Day, Beers Before the Barbican ou Up with the people, este último, celebrado por todos e ovacionado de pé antes do encore. Encore ao qual Scott Martin chega atrasado. Afinal e como lembrava William Tyler “Se já esperaram tanto, o que são mais dois minutos?”. De facto, uma infinitésima fração quando se termina com uma versão de Young Americans.

Onde estiveste no dia 14 de Julho de 2015?

Texto – João Castro
Fotografia – Rita Justino