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Equations, psicadelismo ao quadrado

Véspera de feriado. Noite quente de bailarico em Lisboa. Por baixo de uma ponte, no cais do Sodré, entre paredes de pedra e ambiente escurecido estão 5 meninos à espera de serem escutados.

Com um ligeiro atraso e um público escasso, certamente por estar perdido por entre os becos dos bairros lisboetas, entram no palco do Musicbox os Equations, uma banda com raízes espalhadas entre Porto, Braga e Lisboa. Na mala, traziam timidez, talento, complexidade e um álbum novo a que chamaram “Hightower”.

Construído com uma sonoridade algo diferente do “Frozen Caravels”, álbum de estreia da banda, “Hightower” revela uma aposta pela solidez e complexidade sonora, o encontro com os anos 70 é notório. A voz pouco é usada e tampouco se sente falta dela, aparecendo no momento certo e pelo tempo certo. O império pertence somente ao instrumental.

De costas viradas para a capa do último álbum que preenchia a parede, os Equations vinham com um objetivo: guiar-nos até à floresta encantada perdida entre o abstrato e o transcendente.

Os primeiros passos foram dados com uma intro de sintetizador e bateria que foram dançando em perfeita união até aparecerem os riffs suavemente gritantes das cordas. A voz apresentou-se com uma distorção feita por medida para encaixar na melodia. O sintetizador ganhou diversas formas e assumiu uma posição importante: era ele que ia à frente no caminho. As faixas longas, sempre em crescendo iam aumentando a intensidade do espetáculo e a curiosidade do público.

Por detrás de um véu de timidez, a comunicação com o público só é travada à 5ª música, a mais de metade do trilho. No entanto não foi este véu que impediu que o público se deliciasse com uma verdadeira odisseia auditiva, onde as guitarras distorcidas gritavam cada vez mais alto e se entrelaçavam com o sintetizador que continuava de mãos dadas com a bateria enquanto o baixo espreitava subtilmente.

O álbum, que conta com a produção de Moullinex, foi tocado na íntegra pela ordem de faixas, desde a “Afterlights” à “SSSUUUNNN” e ficou provado que ao vivo as 8 músicas funcionam (ainda) melhor que em estúdio. Não houve encore, embora a última faixa, a maior de todas, aguçasse mais o apetite do público que já estava completamente rendido, incluindo eu.

Texto – Eliana Berto
Fotografia – Miguel Mestre