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MONO, a noite onde se dispensou a voz e o sentimento se transformou em melodia

Na terça-feira passada o RCA Club teve uma noite melodicamente tranquila onde não se ouviram vozes a tocar nos microfones.

Eram 21h em ponto quando sobe ao palco uma senhora de seus 50 e poucos anos acompanhada dum violoncelo, que parecia demasiado grande tendo em conta a estrutura frágil de Alison, de nome artístico Helen Money.

Mostrou-nos que era fã do improviso ao soltar as primeiras notas musicais arrastando os dedos pelas cordas do seu companheiro. Seguiram-se camadas de loops de composições de violoncelo, tornando a atmosfera com ar pesado, que arriscaria chamar fúnebre.

Completamente concentrada na sua arte, Alison não encara o público uma só vez enquanto toca, arte que tanto fazia com uma palheta como com o respetivo arco.

À terceira música, os loops por detrás do violoncelo surpreendem o público com uma bateria pesada que soava a trash metal, momento de êxtase acompanhado por distorções várias que o público adorou.

Continuando o seu caminho, Helen acariciava os ouvidos dos mais atentos com verdadeiros solos de guitarra e baixo que fazia acompanhar pelas cordas do seu violoncelo, parecendo por vezes que as notas saiam aleatoriamente mas com um encaixe perfeito ao momento.

Após a quarta música, Helen, timidamente, agradece ao público e aos MONO por estar ali e afirma ter um carinho enorme por Portugal.

No seguimento do concerto, o ritmo começa a baixar tornando-se ligeiramente repetitivo, ouvindo-se os murmúrios do público que deixou de prestar atenção ao palco.

Para contrariar o facto, na última música, somos brindados com o regresso da bateria e com ela o headbanging apropriado, terminando assim um concerto de 40 minutos que, para além de alguma monotonia, foi bastante interessante e instrumentalmente bem conseguido, revelando que o rock se pode fazer de inúmeras maneiras.

[Fotos de Helen Money]

O que era uma meia casa, transformou-se em casa cheia. Cheia de verdadeiros fãs de MONO. Um par de minutos depois das 22h entram em palco 3 rapazes e 1 rapariga. Dispensaram as apresentações e dirigiram-se directamente para os seus lugares para nos mostrarem do que eram capazes.

Subtilmente foram entrando no ouvido e na cabeça do público, que sem dar conta, se encontrou rapidamente submerso num mundo de ambient rock , digno de banda sonora de um bom filme.

As faixas longas e em crescendo, revelam uma grande coerência e uma boa sensibilidade para o enquadramento e construção musicais.

Eles, compenetrados nos instrumentos, sentiam a música na sua essência, tocando grande parte do tempo de olhos fechados. De olhos fechados se encontrava, igualmente, o público, que parecia ter viajado para longe, deixando-se guiar pela história melódica que estava a ser contada.

Entre sons subtis de teclas e xilofones, entre solos de guitarra bem trabalhados, entre um baterista que sabia o que fazia e suavemente ia apresentando o gongo que tinha atrás de si, os MONO, de origem japonesa, prendaram-nos com uma grande maturidade musical. No entanto, a falta de voz a acompanhar os instrumentos, a falta de iteração com o público, as melodias demasiado parecidas e a distorção das guitarras sempre usada de igual modo tornaram aquela hora e vinte ligeiramente monótona e repetitiva, deixando a sensação de que faltou algo por preencher.

No final, ouviu-se uma voz trémula e pouco nítida a agradecer e a banda retirou-se imediatamente do palco. Algo que gerou descontentamento por parte dos fãs, que ficaram cerca de 10 minutos a assobiar, a gritar e a aplaudir pedindo um encore, pedido este que foi totalmente ignorado, terminando assim uma noite dedicada ao rock melódico e meramente instrumental.

[Fotos de MONO]

Texto – Eliana Berto
Fotografia – Miguel Mestre
Promotor – Amplificasom