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And So I Watch You From Afar, é assim que se escreve épico

Podíamos estar aqui a desfilar adjectivos para descrever a noite de quarta-feira passada para descrever o concerto dos irlandeses And So I Watch You From Afar, mas seriam sempre insuficientes para tamanha actuação. Depois do Plano B e do Paredes de Coura, finalmente desceram à capital para dar de caras com um Musicbox Lisboa completamente lotado.

Ao início da noite fomos logo abordados pela organização nas redes sociais que o voo que transportava a banda estava atrasado e por isso mesmo, ia demorar o início da actuação. Assim sendo, mais uma voltinha pelo Cais do Sodré. Quando se chega ao espaço ali na Rua Cor de Rosa, uma fila considerável apresentava-se como cartão de visita. Bom sinal.

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Um melhor sinal foi quando se entrou, com o Homem em Catarse já estava de guitarra em cima da perna a hiptonizar os presentes. Já começa a ser hábito dizer que tudo é melhor no Porto e no Norte, e o Homem em Catarse, vindo a muy nobre terra de Barcelos, encheu as medidas durante os cerca de 30 minutos (mais ou menos) que tocou. Um homem, uma guitarra, muitos pedais. Os loops velocíferos, os ritmos demonizados compuseram a sua performance, com destaque já na recta final para Teremos Sempre Paris, registo que foi no ouvido.

 

Saltando para o concerto dos ASIWFA, foi um concerto a três tempos. A lógica diz-nos para pensarmos em princípio, meio e fim, com destaque para o meio e fim. Mas todas as partes juntas foram um todo muito forte. Com um início a rasgar, o conjunto composto por Rory Friers na guitarra (que logo no início decidiu saltar e tocar pelo Musicbox fora, como se aquilo fosse dele – e era), Tony Wright na outra guitarra, Johnny Adger no baixo e Chris Wee na bateria decidiram que não era só o Heirs, último disco lançado que vieram apresentar.

Se a Run Home foi das primeiras a ser apresentada, Big Things Do Remarkable, A Beacon, A Compass, An Anchor, Set Guitars To Kill foram algumas que aludiram a uma viagem a um passado da banda aliado com o novo álbum, demonstrando que têm material intenso, carregado de riffs e reels capazes de incendiar qualquer público.

Num ano em que a capital já recebeu Mogwai ou God Is An Astronaut, pode-se partir do princípio que o estilo está em crescendo, e a ganhar cada vez mais fãs. ASIWFA acabar por se inserir uma dimensão mais melancólica e se calhar mais complexa que as bandas que mencionei. Lembram-se de eu falar em três partes? Esta foi a segunda. Com uma maior aposta nos vocais, que para os mais puristas fãs da banda estão ali a mais, mas suficientes para tremer todos os pilares que sustém aquele espaço situado por baixo da Rua do Alecrim.

 

“Esta é dedicada a todos os presentes”, disse Rory antes tocarem a 7 Billion People Alive at once. Som que nos faz sentir cheios, mas não à vontade, visto que ninguém pode dizer que não se sentia apertado ali dentro. Esta terceira parte, assemelhou-se muito à primeira, muita força e vontade de partir tudo, guitarras a rasgar e baixo a pedir mais intensidade.

Seja como for, o concerto caminhou rapidamente para o fim, e só se pode pedir para que regressem cedo. O pessoal de Lisboa faz-vos sentir em casa e gosta muito de vocês.

Texto – Carlos Sousa Vieira
Fotografia – Ana Pereira
Promotor – Amplificasom