Existem momentos durante a nossa existência que nos mostram o quão bom é poder, simplesmente, sentir. O dia tinha sido de dilúvio e inundações, eu própria já ia na terceira muda de roupa e não tinha vontade nenhuma de voltar a sair de casa com o risco de absorver outra carga de àgua. A magia da música tem destas coisas e merece os sacrifícios que vamos fazendo, mais que não seja porque quem sai sempre beneficiado somos nós, como nesta noite. Em que não só fizemos uma longa e intensa viagem como sentimos tudo de forma imensa.
Foi na passada terça-feira, dia 28 de Outubro que os Elder nos visitaram e foram recebidos por um RCA esgotado à espera de ter a alma saciada.
Contaram com os bracarenses TRAVO na primeira parte. Olho para estes rapazes com bastante satisfação. Pouco lhes falta para completar 10 anos e nestes quase 10 anos já se transformaram muito. Quem ouvir TRAVO do início poderá pensar que não é a mesma banda, mas isso é bom. Denota o trabalho e a evolução constante destes rapazes. Confesso que prefiro a fase do Sinking Creation, algo mais sensorial e transcendente e menos máquina. A sonoridade está mais cheia de colunas de distorções, reverbs, loops, fazendo da voz instrumento e tendo, por vezes, camadas de coisas que poderia dispensar, na minha modesta opinião. Tal como o set tão longo para uma banda que está a abrir a noite. Mas não estou com isto a querer mostrar uma ideia errada da banda, os TRAVO são bons e não demoraram a conquistar o público.
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Falando de conquistas, os Elder nem precisavam de apresentações. Já estava tudo mais que conquistado, toda a gente que estava na sala sabia para o que ia e estava preparado para a viagem que ia fazer.
Para mim foi uma boa surpresa, foi a minha estreia com Elder e não podia ter ficado mais apaixonada. Estes quatro rapazes formam uma banda que é tão sensorial que nos perdemos do tempo e do espaço! Para mim foi fácil, fechei os olhos e, por longos momentos, desapareci do RCA. A minha viagem fez-se por longas planícies de asfalto entre um Mojave e um Joshua Tree numa tarde de verão com uma leve brisa a beijar-me o rosto. A viagem, sempre ao volante de uma chopper, passou ainda pelo Death Valley onde a pé, fui subindo e descendo o vale, sentindo cada grão de areia e raio de sol, daqueles que podemos tocar no laranja que cobre o ar. Corri, também, e repousei numa duna.
Para além do espaço físico, viajámos também à década de 70. Os estadunidenses fundem com uma mestria divina o psych, o prog e o stoner sempre com um pé na década de 70. A guitarra solo, carregava o poder maior do prog e oferecia-nos composições que arrepiavam. A combinação era perfeita, tal como os momentos revestidos de camadas e camadas de intensidade das mais variadas formas. O chato de escrever sobre um concerto assim é que nunca vou conseguir transpor em palavras o que se sente. Tal como comecei este artigo, este concerto mostra-nos o quão bom é sentir e estar vivo.
Escusado é dizer que não há músicas curtas e em quase 1 hora e meia de concerto foram tocadas 7 músicas. Começaram por “In Procession”, passando por “Compendium” e terminado com “Catastasis” e “Gemini”, esta última com o público em sintonia de voz.
A viagem não foi feita em modo solitário, todos a fizemos! Acredito que de formas diferentes e para sítios diferentes, mas a alma de todas as pessoas estava em comunhão num sítio fora dali, unida pelo poder que a música nos dá.
Se os Elderes não tivessem já uma religião, podiam estes criar uma! Certamente que fieis não lhes iam faltar. Estas viagens deviam ser feitas por todos, nem que fosse uma vez na vida!
E sim, cheguei a casa encharcada, mas com a alma o mais quente e saciada possível. Obrigada!





































































