INTER ARMA
A última banda a ser adicionada a este extenso cartaz (depois do cancelamento dos ZOMBI) foi a primeira a actuar neste segundo dia de Amplifest. INTER ARMA regressa então a palcos que não lhes são desconhecidos, já haviam tocado no Hard Club em 2019. O conjunto trouxe uma boa dose de energia para o público presente na BÜROSTAGE que foi progressivamente enchendo ao longo do set.
Começaram o set com a faixa homónima do seu álbum mais recente, New Haven, e não haveria melhor forma de se fazerem conhecer a quem estava a ouvir a banda pela primeira vez. Uma mistura de sludge e death, com toques de black metal, repleta de quebras rítmicas nas guitarras e de blast beats que pareciam não ter fim. A juntar a isto, temos a expressividade e os guturais bem graves de Mike Paparo que acrescentam aquela camada de brutalidade por cima do caos sonoro.
MENACE RUINE
Devido a problemas técnicos, o duo canadiano deu início ao seu concerto com cerca de 10 minutos de atraso. Com uma DOIS CORVOS cheia, S. de la Moth e Geneviève Beaulieu preencheram a sala escura com um drone algo catártico. Foi uma experiência auditiva bastante introspectiva desta dupla que raramente atua ao vivo.
SPURV
O sexteto norueguês SPURV trouxe ao palco BÜROSTAGE uma apresentação envolvente de post-rock, marcada por uma sonoridade melódica e emocional. Com mais de uma década de carreira, SPURV demonstrou uma coesão impressionante, executando uma setlist focada principalmente no seu último álbum, Brefjære. A performance, cuidadosamente construída, transportou o público por paisagens sonoras expansivas, capturando a essência da banda em toda a sua plenitude.
MARY JANE DUNPHE
Antes do primeiro grande concerto do dia, tivémos no palco DOIS CORVOS, MARY JANE DUNPHE. A artista veio apresentar o seu registo a solo lançado em 2023. Sozinha em palco, veio cantar e contar histórias através da sua guitarra e da sua performance expressionista.
THE BODY & DIS FIG
A dupla THE BODY, desta vez em colaboração com a DJ e produtora Felicia Chen (DIS FIG), levou a sala BÜROSTAGE a uma experiência sonora imersiva com a apresentação do projecto colaborativo Orchards of a Futile Heaven.
A performance foi uma verdadeira muralha de som, impulsionada por dois sintetizadores que emanavam noise e ritmos intensos, complementados pela bateria possante que ressoava no espaço. Felicia Chen dominou o palco com a sua presença cativante e a sua voz lindíssima, que cortava a densidade da música, trazendo uma dimensão quase hipnótica ao espetáculo.
DECLINE AND FALL
O recente projecto de Armando Teixeira ( ex Bizarra Locomotiva), Hugo Santos (Process of Guilt) e do escritor Ricardo S. Amorim teve a sua estreia em palco na sala DOIS CORVOS. Em completo contraste com os outros projectos em quais contribuíram, DECLINE AND FALL apresenta um darkwave que conjugado com brilhantes líricas e melancolia.
CHELSEA WOLFE
Cerca de meia hora antes do início do espetáculo, já a BÜROSTAGE estava preenchida pela metade em antecipação ao concerto de CHELSEA WOLFE. A organização sempre apresentou o Amplifest como um festival sem cabeças de cartaz, onde todas as bandas e artistas têm igual espaço. Mas é inegável que Chelsea era o grande nome desta edição e foi completamente notório pela própria afluência do público.
O espetáculo arrancou com quatro temas seguidos do seu mais recente álbum, She Reaches Out to She Reaches Out to She, começando com Whispers in the Echo Chamber. A intensidade cresceu quando, num momento de retorno ao álbum Hiss Spun, Chelsea pegou na guitarra para tocar 16 Psyche, fazendo o público vibrar com os primeiros acordes.
As cores do palco, sincronizadas com o tom de cada música e álbum, conferiram à performance uma atmosfera ainda mais envolvente. Chelsea aparecia e desaparecia através de um jogo de luzes brilhante, reforçando a sua presença enigmática, conjugada com a sua voz assombrosa e delicada, que transbordava ao mesmo tempo tristeza e amor. O concerto avançou com temas como The Culling, a intimista e folk Flatlands, e a explosiva Feral Love, mantendo todos numa profunda conexão com a artista.
O momento mais inesquecível da noite – e, para muitos, do festival – aconteceu perto do fim. Após uma breve pausa, EMMA RUTH RUNDLE, que tinha sido vista a interagir com fãs e a assistir a vários concertos durante o dia, subiu inesperadamente ao palco. Juntas, Chelsea e Emma interpretaram Anhedonia, tema de 2021, criando uma atmosfera intensa e íntima, que emocionou o público e coroou a noite com um dueto que ficará para sempre na memória dos presentes.
ORANSSI PAZUZU
Os finlandeses ORANSSI PAZUZU regressam ao Hard Club depois de um monumental concerto no Amplifest de 2022, e munidos com o seu black metal psicadélico trouxeram mais uma experiência arrebatadora e eletrizante.
Desta vez, vieram apresentar na BÜROSTAGE o seu novo álbum Muuntautuja, lançado em Outubro, e o público foi absorvido por um som desconcertante que explorava camadas de dissonância, melodias e ritmos variados. Estas complexas combinações características da banda, inicialmente parecem caóticas, mas rapidamente as nuances dos temas vão-se entrelaçando até fazerem sentido numa narrativa sonora única.
A avalanche sonora foi de tal intensidade que o cansaço acumulado dos dois dias de festival desapareceu, deixando todos imersos na atmosfera quase transcendental criada pela banda.
EIHWAR
A finalizar o longo fim de semana, tivemos em estreia o ritual pagão dos EIHWAR na DOIS CORVOS. Devidamente caracterizados, a dupla ofereceu uma performance eletrônica, repleta de cantos e danças Viking.
AMBIENTE
O Amplifest é mais que um festival, nunca se torna repetitivo referi-lo. É mais do que assistir a concertos. É também a confraternização, passear pelo corredor do Hardclub e visitar as bancas de vinis ou experimentar novos pedais para Guitarras, é ir à mesa do merchandise e interagir diretamente com os artistas, é beber finos com novos e velhos amigos. É isto e muito mais. Em baixo, segue o ambiente que se viveu durante este fim de semana, capturado pela lente do Daniel: