A freguesia do Louro, em Famalicão, já nos habituou ao melhor do metal em Portugal por altura dos ditos festivais de verão. O Laurus Nobilis é uma destas maiores referências, e na edição 2024 que aconteceu entre 19 e 21 de Julho nós não quisemos faltar.
O João Correia esteve por lá, conta-nos (e mostra-nos) como aconteceu durantes estes três dias.
DIA 1
Wolfheart
Os finlandeses Wolfheart trouxeram a Famalicão o seu Winter metal, uma mistura de death metal melódico pujante inspirado nos Invernos severos da sua pátria. O quarteto cativou facilmente um público (aparentemente) pouco conhecedor do seu trabalho, desempenhando um concerto de altíssimo nível que angariou novos fãs nacionais, incluindo a Música em DX.
Warside
Praticantes de death metal catchy mas muito agreste, os franceses Warside foram uma bofetada sem contemplações na cara dos poucos presentes no início da sua prestação no Laurus Nobilis. No final, a dianteira do palco secundário já se encontrava muito bem composta devido aos festivaleiros que, ao ouvirem a banda, ao longe, sentiam curiosidade e se dirigiam à zona da restauração. Pessoalmente, e juntamente com o dos Wolfheart, achámos que este foi o único concerto do primeiro dia que rivalizou com o dos Vader. Impressionantes.
Iron Will
Ironwill, a banda italiana de metal contra o bullying. Composta por membros de diversas nacionalidades, etnias e géneros, os Ironwill apontam para uma sociedade melhor, mais justa e avançada, falando de temas maioritariamente sociais nas suas músicas. Foram uma das caras mais tradicionais do heavy metal no Laurus Nobilis 2024.
Bloody Falls
O quinteto finlandês Bloody Falls ajudou a extremar o Laurus Nobilis 2024 com o seu death metal melódico enquanto os nomes maiores não vinham. Foram algo decepcionantes em termos de originalidade, ainda que perfeitamente preparados e profissionais. Embora seja um estilo pouco comum na Finlândia, é natural que haja mercado para todos os gostos num dos países com o maior número de bandas de metal per capita no mundo.
All Kingdoms Fall
Já com alguns anos nas lides, os portuenses All Kingdoms Fall apresentaram o seu hardcore metalizado com os traços caóticos dos Converge ou, a tempos, estruturas mais melódicas e amenas, sempre sem fugirem ao som de raiz que os caracteriza. Foram a banda do género mais expressiva, ou talvez mesmo única, no Laurus Nobilis 2024.
Vader
Os eternos monstros polacos Vader tornaram a madrugada do primeiro dia mais fria do que seria suposto em fins de Julho com o seu blackened death metal de assinatura. Munidos do seu eterno ódio contra a religião, desfiaram clássico após clássico sem espinhas e com boa comunicação com o público, pese o facto de se terem deslocado ao Laurus Nobilis 2024 apenas poucas semanas depois do fim da sua última digressão e de já evidenciarem um pesado cansaço. Profissionais como poucos durante toda a actuação, ainda tiveram a energia suficiente para terminar o concerto com o seu tema de marca, “Shock And Awe”. Enormes.
DIA 2
Albaluna
Mesmo sem ser um colectivo de heavy metal, o sexteto nacional Albaluna uniu metaleiros de todos as vertentes com o seu concerto de world music misturada com música progressiva e repleto de apontamentos musicais que bebem virtualmente de todas as grandes civilizações. Assim, tão facilmente ouvimos uma bağlama turca, como uma dilruba indiana ou um bendir marroquino. Sendo presenças habituais em países como China, Estados Unidos, Brasil e Índia, o agrupamento está a tentar entrar em ambientes mais alternativos em Portugal, caso de festivais de rock e metal.
Apocalypse Conspiracy
O thrash metal nacional com toques de death metal está vivo e de saúde em Portugal, como os Apocalypse Conspiracy fazem questão de provar. Unidos pela vontade de tocar a música de que mais gostam, o jovem quarteto algarvio teve a oportunidade de demonstrar o que vale no palco do Laurus Nobilis 2024, saldando-se a sua prestação por coesa, disciplinada e muito positiva.
Godiva
“Filhos da terra”, os famalicenses Godiva foram responsávewis por um dos concertos cénicos mais ricos do Laurus Nobilis 2024. A banda baseou o seu espectáculo no seu disco de estreia “Hubris” depois de uma digressão espanhola seguida de outra digressão europeia de promoção ao mesmo. Entre efeitos pirotécnicos e uma wall of death de impor respeito, o gothic/melodic death metal da banda nortenha marcou os presentes, principalmente aqueles que menos conheciam as suas actuações.
Human Vivisection
Os belgas Human Vivisection deixaram uma impressão vincada no Laurus Nobilis 2024 devido ao seu som um tudo-nada mais brutal do que o de todas as outras bandas juntas combinadas. Praticantes de brutal slam death metal com pig squeals omnipresentes, o jovem quarteto do Benelux rapidamente extinguiu qualquer dúvida sobre o assunto que os trouxe a Portugal – a obliteração total e irreversível dos tímpanos dos presentes.
Music In Low Frequencies
O segredo mais bem-guardado do Laurus Nobilis 2024 foi a clara aposta em bandas nacionais de alta qualidade dentro e fora do espectro metálico. Uma das actuações a que prestámos mais atenção foi à dos Music In Low Fequencies, um trio que tanto troca correspondência com o post-metal, como tropeça no filão de ouro de bandas como Portishead, Massive Attack ou Cult Of Luna. Cientes do valor que têm e daquilo que podem vir a ser enquanto banda, os Music In Low Fequencies apostaram no mesmo técnico de som dos Moonspell para os auxiliar ao vivo e a diferença é nítida. A ter em muita atenção, até porque hão-de conquistar mais depressa o estrangeiro do que Portugal.
DIA 3
Bleeding Display
Os eternos Bleeding Display só ficam melhores a cada dia e a cada concerto. Ainda que a toada de death metal brutal continue, esta prestação do quinteto de Lisboa indicou que está cada vez mais técnico e incisivo. Nunca um metrónomo correu tanto em cerca de 50 minutos no Laurus Nobilis 2024 e, caso tenha havido alguma falha, foi dele, não da banda. Os Bleeding Display já se afirmaram há muito tempo como um exemplo premium do som brutal de qualidade que temos em Portugal.
Hideous Divinity
Os romanos Hideous Divinity deram um dos melhores concertos do Laurus Nobilis 2024 com a apresentação em Portugal de “Unextinct”, o mais recente longa-duração de 2024. Os italianos convidaram Dan Vesca, vocalista dos nacionais Sotz’, para partilharem o palco devido a uma lesão num pé de Enrico di Lorenzo, motivo pelo qual ouvimos várias chamadas a puxar pelo público em português. Os italianos desfiaram cerca de uma hora do seu death metal técnico de primeira linha numa actuação imprevisível, mas que deixou o público plenamente elucidado sobre a qualidade e descompromisso do concerto dos italianos.
Moonspell
Os mestres nacionais da lua cheia foram um dos motivos de maior orgulho do Laurus Nobilis 2024. Fernando Ribeiro e os seus Moonspell agraciaram o bioma das planícies nortenhas de Famalicão com um concerto embebido na infância e no amadurecimento do quarteto Lisboeta. Em evidência estiveram temas do primeiro EP e dos dois primeiros LP da banda, trabalhos fundamentais de exploração e de consagração, respectivamente. A jogarem em casa e com alguns convidados em carteira, os Moonspell exibiram ainda filmagens raras de tempos mais primitivos do EP e do grafismo que ilustra o imaginário dos dois trabalhos iniciais, pioneiros e, por isso mesmo, também eles responsáveis pela cristalização do gothic metal.
