Amplifest Festivais Reportagens

Amplifest’23, a reportagem do primeiro e segundo dias.

No passado fim de semana (22-24 Setembro) teve lugar mais uma edição do Amplifest. Uma 9ª edição esgotada desde muito cedo, como já tem sido habitual em edições passadas, e que reuniu público dos 4 cantos do mundo. Foram 3 dias de repletos e experiências, com um forte sentido de comunidade e onde não podia faltar a música. Mais uma excelente curadoria pela parte da Amplificasom que englobou os mais variados espectros musicais, desde o rock mais experimental, ao Folk Americano, mas sobretudo com uma grande aposta nas sonoridades extremas mais lentas.

DIA 1

O 1º dia de Amplifest, toma um formato mais curto e introdutório ao resto do festival.

Tivemos de início, numa sala em  em Serralves que sobraram muito poucos lugares, FROM RUIN, uma exposição da arte de RUI CHAFES acompanhada pelo ruído sonoro dos CANDURA. Mais tarde, pelas 23, todas as atenções se viraram para FERRO BAR. Mat Ball, guitarrista de Big|brave, apresenta o seu álbum a solo Amplified Guitar perante uma sala lotada. Depois do concerto a noite seguiu a um bom ritmo com a dupla de DJ NO JOY.

DIA 2

O 2º dia começa com Big Brave. Banda com bastante experiência, tocaram num espaço de dias pela segunda vez no nosso país. Depois de um concerto na pequena sala da Galeria Zé dos Bois tocaram agora na consideravelmente superior Bürostage. Com pouco mais de meia sala preenchida, o agora quarteto veio apresentar na íntegra o seu último álbum NATURE MORTE. Com o feedback bem acentuado da guitarra de Mat Ball, foi um concerto de Drone com uma atmosfera algo espacial, contrastando entre cada acorde com a voz melodia de Robin Wattie.

Ellereve veio ao Amplifest apresentar o seu álbum de estreia Reminiscence numa Beerfreaks Stage com uma lotação já bem perto de preencher a sua capacidade. Uma mistura de Shoegaze e Folk que combinam de uma forma muito melodiosa e que deixou rendidos os presentes na sala.

Uma das grandes surpresas do festival foram os Ashenspire. Os escoceses apresentaram-se pela primeira vez em solos lusitanos. Trouxeram à Invicta o seu black metal Avant-gard e espalharam energia no Bürostage com temáticas de revolta, blast beats aguçadas, um saxofone estridente e guitarradas progressivas. Numa das ultimas músicas da set, o vocalista desceu do palco e cantou no meio do mosh pit. Houve ainda tempo depois do concerto para partilharem um momento de comunhão com o público à porta do Hard Club.

Oriundos do Montijo, os Hetta vieram ao norte espalhar o seu caos musical. Enquadrar este quarteto num só subgênero é de alguma forma limitar a sua sonoridade, o dinamismo e a diversidade das suas melodias e riffs mais arrojados. Conseguem transpor para palco toda agressividade e pujança das músicas que escrevem e o seu vocalista Alex Domingos deu-nos uma performance de total entrega ao público que assistia. E foi graças a esta energia que se formou o maior mosh pit da Beerfreaks Stage neste festival, com direito a stage dives e uma boa roda de hardcore. Hetta é neste momento uma das melhores bandas underground nacionais e têm um futuro bastante promissor pela frente.

Com um álbum lançado há poucos meses atrás, os americanos Mutoid Man encerram a sua tour europeia no Amplifest.  E foi com esse recente álbum, Mutants, com que iniciaram a sua setlist. O power trio de Brooklyn veio mostrar mais uma vez ao nosso país o seu Metalcore, com sempre bem disposto frontman Stephen Brodsky a interagir constantemente com o público e a mandar as suas piadas entre músicas. Para além do novo registo, houve também oportunidade de revisitar temas como o clássico Melt Your Mind do álbum War Moans, Kiss of Death, que incluiu uma intro de King Crimson,  e para finalizar, Gnarcissist, tema bem acelerado do primeiro LP da banda.

Por volta das 20:15, tivemos na Beerfreaks Stage o guitarrista Sir Richard Bishop que proporcionou a todos os presentes cerca de uma hora de guitarra experimental, repleta de melodia e emoções.

E foi pelas 21:30 que entrou em palco na Bürostage o primeiro grande nome do dia, Celeste. A banda francesa tem sido um dos nomes mais pedidos à organização e eis que finalmente marcam presença neste emblemático festival. Um black metal atmosférico que se complementa perfeitamente com os guturais estridentes e com a escuridão lírica criada pela banda. Todo um ambiente ainda tornado mais marcante quando as únicas luzes em palco eram os focos vermelhos as lanternas, também elas vermelhas, que o quarteto utilizava na cabeça. O aclamado álbum do ano passado Assassine(s) tomou conta de grande parte da setlist que culminou numa performance bastante competente e que deixou vontade de uma nova visita deste quarteto de Lyon.

O black metal psicadélico dos Hexvessel tomou conta da Beerfreaks Stage e a banda serviu como um bom interlúdio entre os 2 grandes nomes do dia. Vieram tocar na íntegra o seu fresquíssimo álbum Polar Veil.

Os Amenra estão muito longe de serem uns desconhecidos neste festival. Foi a sua 5ª presença no Amplifest e depois do concerto acústico do ano passado, voltam agora na sua força máxima. E é fácil entender o porquê de serem uma presença constante e ao mesmo tempo uma das mais requisitadas. São poucas bandas conseguem ter a intensidade em palco que os belgas. São poucas as bandas que conseguem fazer sentir ao espectador uma panóplia de sentimentos com as suas actuações. São também poucas as bandas que se entregam desta maneira ao público que os assiste. O que se presenciou numa Bürostage lotada foi uma autêntica missa de Doom atmosférico, com o pregador Colin H. Van Eeckhout quase sempre de costas voltadas para a audiência, como se tentasse esconder o sofrimento latente na melodia de cada uma das letras que canta. Uma simbiose quase perfeita com os ocasionais guturais do guitarrista Tim De Gieter e com uma performance irrepreensível dos restantes membros da banda que atuavam sob projeções na tela do palco. Um concerto intenso e catártico que atinge o seu apogeu nas últimas duas músicas da setlist, A Solitary Reign e Diaken e que acaba de uma forma libertadora. Porque o que Amenra transmite a todos os que assistem, é que depois da dor,da perda e do sofrimento, há lugar para amor e luz.

O 2º dia chega ao fim com o duo portugus de electrónica experimental NECRØ na Beerfreaks Stage.