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5 dias de Festival Rescaldo | Lisboa, de 15 a 19 de Fevereiro

Novo ano, novo Rescaldo.

Regressa a Lisboa o festival que é, desde 2007, um dos espaços privilegiados para sentir o pulso criativo do país, em tudo o que tem de mais inclassificável e desafiante.  

Entre a composição académica contemporânea e a experimentação auto-didata, entre o jazz e a electrónica, passando por miscigenações inimaginadas e colaborações únicas pensadas em exclusivo para o festival, o Rescaldo continua a afirmar a diversidade estética, social e geracional que vai mantendo vivo o milagre pessoal e coletivo que é o fazer, pensar, sentir e desbravar o Som nas suas infinitas possibilidades. 

Na 13.ª edição, ocupa, durante cinco dias, a  ZDB, DAMAS, TBA, MAAT e ST. GEORGE CHURCH com 11 concertos e 1 Workshop para crianças, de 15 a 19 de Fevereiro.

O Rescaldo tem início dia 15 de Fevereiro, quarta-feira, na ZDB, com os concertos de João Carreiro & Mariana Dionísio, que se propõem apresentar um RÉQUIEM num formato improvisado, despido e frágil, onde exploram questões formais e tímbricas, entre o temor e a beleza. Prossegue com Poly Vuduvum – o feliz encontro entre Diana Policarpo e Marta Von Calhau! – numa espiral do improviso aéreo das palavras ao beat subterrâneo raiado por metais percussionistas. Há electrónica e acústica aquém e além da electro-acústica. Uma aparição que é um Teatro de extração de significados e acto de re-criação do Ouvir. A noite termina com a atuação de Bezbog, dueto que irá apresentar o seu mais recente disco “Dazhbog”, editado pela Favela Discos. Uma suite de temas entre o folclore e a música de câmara, numa viagem circular que vai da improvisação do jazz à rigidez do industrial, da escuridão do doom às gradações da música electrónica.

No dia 16 de Fevereiro, passará para as DAMAS, com Tiago Sousa + Joana de Sá, colaboração em estreia absoluta, a convite do Rescaldo, entre Tiago Sousa (um dos mais brilhantes alumni do burgo, pianista e compositor avesso aos academismos e dono de um percurso longo e continuadamente arrebatador) e Joana de Sá, cintilante revelação do ano transacto, com o disco “Shatter”, editado pela Sirr. Pela noite dentro o colectivo Algorave by Not Binary Code, convida-nos a dançar com música e imagens futuristas feitas com código em tempo real, com as actuações de Ndr0n, Quendera e Violeta.

Na sexta, 17 de Fevereiro, é a vez do TBA – Teatro do Bairro Alto acolher o Rescaldo. A sessão começa com Cândido Lima, num concerto em jeito de homenagem a um dos grandes compositores de uma certa vanguarda portuguesa. Tendo estudado com Xenakis e privado com gente como Boulez ou Ligeti, é um pioneiro nacional de formas técnicas e tecnológicas da composição contemporânea, da electroacústica à espacialização do som. Seguir-se-ão André Gonçalves + Violeta Azevedo + Maria da Rocha + César Burago, combinação pensada especificamente para esta parceria entre o Rescaldo e o TBA. Que junta quatro nomes de peso que ilustram as diversas proveniências e ninhos criativos do país no presente século. Expectativa acrescida para esta união de forças.

Sábado, 18 de Fevereiro, o Rescaldo ocupa os magníficos espaços do MAAT. A começar ao início da tarde com um workshop para crianças intitulado Shhhh… Bong! Piii, Zuuu! Vamos Fazer Música Concreta! onde os participantes tornam-se compositores de música concreta a partir dos sons à nossa volta. Numa parceria com o Circuito – Serviço Educativo Braga Media Arts. Na mesma tarde será a vez de Vasco Mendonça & Drumming GP apresentarem o  disco “Play Off”, editado recentemente pela Holuzum, e que documenta a relação de trabalho entre o celebrado Drumming GP, grupo de percussão sediado no Porto, com o compositor Vasco Mendonça, de trajecto já recheado de comissões e apresentações em vários dos mais prestigiados festivais de música contemporânea do globo. A fechar em modo concerto/performance Menino da Mãe & Coro, autêntico ovni capaz de encapsular na sua música todas as tensões, pluralidades e potencial do tempo que é agora,  A música de Menino da Mãe vai, quase literalmente, a tudo o que é angústia, beleza contemplativa e celebração hedonista. É electrónica mas orgânica, é punk mas new age, é noise mas pop filigrânica. Apresenta-se pela primeira vez em trio com coro. A não perder.

Domingo, 19 de Fevereiro, a ST. GEORGE CHURCH, é o palco escolhido para o encerramento da 13º edição do Rescaldo num ambiente de particular magia. Para abrir a cerimónia propomos Raw Forest, alter-ego de Margarida Magalhães. Influenciada pelo universo da Early Electronic Music, o drone de Eliane Radigue, pelo minimalismo de Steve Reich e Philip Glass, as paisagens de Brian Eno, assim como o lado kitsch e as narrativas de Robert Ashley e Laurie Anderson. Musica imersiva em estado de graça. Para acabar em esplendor Carlos Bica Solo, figura tutelar e obviamente unânime da música em Portugal, o contrabaixista e compositor Carlos Bica encerra o Rescaldo 2023 com um concerto a solo – contexto em que raramente temos o privilégio de o testemunhar – lugar de eleição para entender mais aprofundadamente a pouca convencionalidade, nem sempre aparente, do seu estilo e percurso, feito essencialmente em torno do jazz, mas também envolto num folk misterioso e belo que contêm em si laivos de uma distante portugalidade.

Rescaldo é, como sempre foi, um espaço para outras formas de pensar e ouvir.

Fotografia (capa) – Travassos