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Amplifest 2022, a comunhão entre a arte e a música

Passados 2 anos de interrupção devido à pandemia, a Música em DX volta onde já foi feliz. A experiência do Amplifest já conta com 8 edições, e esta veio em dose dupla, com dois fins de semana recheados de música, longas metragens e as já bem conhecidas “Amplitalks”. Foi neste segundo fim-de-semana que decidimos marcar presença e descrever um pouco do que foi a comunhão e o convívio no Hard Club.

DIA 1

SHY, LOW esteve encarregue de inaugurar o BÜROSTAGE. A banda Americana apresentou-se em palco com o seu post-metal atmosférico, a manter cativada cerca de meia sala. Tocaram quase na íntegra o seu álbum de 2021 “Snake Behind The Sun” e ainda revisitaram o seu álbum de estreia, com a “Heavy Hands”.

+ fotos na galeria Amplifest’22 Dia 13Out Shy, Low

Findo o primeiro concerto, todo o público presente transitou para a sala BEERFREAKS STAGE para a atuação de LUÌS FERNANDES, que encheu a sala com os seus sintetizadores.

Numa BÜROSTAGE bem mais composta, o primeiro grande destaque do dia vai para CAVE IN.  A veterana banda americana apresentou-se em palco com Nate Newton, mais conhecido pelo seu trabalho com os CONVERGE. Com uma sonoridade por vezes a roçar o hardcore, com riffs bem pesados, o quarteto apresentou-se numa excelente forma. A maioria da sua setlist foi dedicada a” Heavy Pendulum”, o último álbum, em que a banda explora outros registos sonoros mas que mesmo assim foi bem recebido por uma plateia que não arredou pé. Para o final, estava reservado um já clássico da banda, “Sing My Loves”, que com os seus riffs bem mais pesados fez despertar uma energia extra aos presentes junto ao palco. Um concerto bastante emotivo em que foi notória a ligação do público com a banda.

+ fotos na galeria Amplifest’22 Dia 13Out Cave In

Depois de uma sessão de improviso tecnicamente impressionante de CASPAR BRÖTZMANN na BEERFREAKS STAGE, chega a hora da banda mais ‘pesada’ do dia.

+ fotos na galeria Amplifest’22 Dia 13Out Caspar Brotzmann

SUMAC é um power trio composto por Nick Yacyshyn, (Baptits), Brian Cook (Russian Circles, Botch) e Aaron Turner (ISIS, Old Man Gloom). O supergrupo preencheu a sala BÜROSTAGE  com os seus riffs sujos e com os guturais bem ‘low’ de Aaron, a darem seguimento à tonalidade mais agressiva do conjunto. Embora com uma setlist curta em número, o Sludge reinou durante cerca de uma hora, mas podia ser mais, pois o êxtase era bem visível na cara da audiência.

+ fotos na galeria Amplifest’22 Dia 13Out Sumac

BUÑUEL,  dada a posição no alinhamento, tinha a difícil tarefa de tocar no interlúdio dos 2  maiores nomes do dia. Mas com o que podia parecer difícil, o conjunto italiano mostrou facilmente o porquê de ser considerado uma das bandas mais promissoras do espectro mais alternativo. Uma BEERFREAKS STAGE que se manteve lotada do início ao fim do concerto. Uma actuação muito física, energética a quebra muitas vezes a “barreira” entre público e artista. Uma das surpresas do FDS2.

+ fotos na galeria Amplifest’22 Dia 13Out Buñuel

Às 23h em ponto, entra em palco o grande destaque do dia. Embora a Amplificasom defenda um lineup sem cabeças de cartaz, é impossível não atribuir esse crédito a DEAFHEAVEN. A poderosa banda de São Francisco não é estranha a este palco, já em 2019 deram um concerto demolidor que perdura na memória de todos os que estiveram no Hardclub. Donos de uma das sonoridades mais únicas no espectro da música pesada, os DEAFHEAVEN apresentam-se com uma mistura de blackmetal com shoegaze, passando de registos mais atmosféricos, para outros completamente noisey. Com uma BÜROSTAGE praticamente cheia, a banda entra em palco com “Shellstar”, musica do mais recente álbum “Infinite Granite”, álbum que viria a comandar cerca de metade da sua setlist. Um álbum mais ‘pop’, que não é de todo consensual entre os fãs e que soa algo estranho ao vivo, mas nada que prejudicasse a atuação da veterana banda. Houve ainda tempo para regressar a alguns clássicos como ‘Honeycomb’. Por fim, a banda regressa para um encore, onde poderam satisfazer os fãns da sua vertente mais pesada, com “Brought to the Water” e a obrigatória “Dream House”, do aclamado “Sunbather”, onde o moshpit se soltou verdadeiramente.

+ fotos na galeria Amplifest’22 Dia 13Out Deafheaven

DIA 2

O segundo dia do FDS2 teve como primeiras bandas BRUIT e TASHI DORJI, nos palcos BÜROSTAGE e BEERFREAKS STAGE. Enquanto os franceses BRUIT se apresentavam com um shoegaze mais progressivo, onde a polirritmia da bateria se envolvia com as melodias de uma guitarra e de um violoncelo preponderantes, aos quais se juntava também um violino hipnotizante,

+ fotos na galeria Amplifest’22 Dia 14Out Bruit ≤

TASHI DORJI foi uma atuação completamente diferente. O butanês teve como convidado em palco Nick Yacyshyn dos Sumac na bateria. E assistimos a uma sessão de improviso que durou quase uma hora. Como alguém dizia na plateia, “guitarradas javardas e bonitas”.

+ fotos na galeria Amplifest’22 Dia 14Out Tashi Dorji

A grande questão nas primeiras horas deste segundo dia de festival, era qual seria a banda surpresa. Finalmente, às 17h, perante um BÜROSTAGE bem composto, eis que as dúvidas foram esclarecidas. LITURGY foi a banda escolhida. E que  escolha fantástica! A banda nova iorquina que tem Ravenna Hunt-Hendrix como frontwoman finalmente teve o destaque merecido em Portugal. Houve uma evolução gigantesca desde que Ravenna começou a banda como um projeto a solo em 2008. Depois de um primeiro EP muito bem recebido pela comunidade underground, a popularidade de LITURGY teve um crescimento astronômico. A sua set começou com HAJJ, e para quem não conhecia a banda, passou a conhecer da melhor forma. Depois de uns minutos de som atmosférico e eletrónico, eis que chegam as guitarras típicas de black metal. Como se parecessem um enxame de vespas arrepiadas. Estava feita assim a apresentação da banda e o tom que o espetáculo iria tomar a partir daí. Foram 7 músicas que deixaram os fãs completamente deliciados, mas que causaram muita estranheza a quem simplesmente entrou na sala por curiosidade. Destaque ainda para a última música do concerto, a 93696. Que representa tudo aquilo que a banda é. Uma fusão de metal bem pesado, de guitarras dissonantes com eletrônica melódica e uns guturais bem estridentes.

+ fotos na galeria Amplifest’22 Dia 14Out Liturgy

WILLIAM FOWLER COLLINS foi a actuaçao que se seguiu no BEERFREAKS STAGE. O compositor e artistas do Novo México apresentou-se a solo com a sua guitarra numa actuação intimista que agradou a quem estava presente na sala.

Com um BÜROSTAGE pela metade, mostravam-se os INDIGNU. A banda portuguesa veio apresentar na íntegra o seu mais recente álbum, “Adeus”. Concerto muito competente de um conjunto que cada vez mais está habituado a palcos desta dimensão. Uma banda a ter em atenção nos anos que se seguem.

+ fotos na galeria Amplifest’22 Dia 14Out Indignu

Podiam muito bem ser Noruegueses, mas é do Canadá que vieram os SPECTRAL WOUND. Black metal puro e duro, foi o que se ouviu na sala BEERFREAKS STAGE. Equipados de casacos de cabedal, pintados com “Corpse Paint”, a banda entrou em palco sem cerimônias e começou logo a abrir. O moshpit foi aberto enquanto os guturais assombrosos de Jonah ecoavam nas colunas já em esforço desta sala.

+ fotos na galeria Amplifest’22 Dia 14Out Spectral Wound

O destaque deste dia vai para a ANNA VON HAUSSWOLF. Uma sala lotada para um regresso já há muito desejado no Amplifest. A compositora esteve boa parte do concerto escondida das luzes no palco da sala BÜROSTAGE, tornando o ambiente muito mais atmosférico. E foi com a sua voz melódica que ANNA conquistou a plateia desde o primeiro segundo. Destaque para a última música, “Gösta”, em que a artista desce do palco e demonstra a empatia que cria com quem a assiste.  Com uma setlist um pouco curta para o que a sueca estava a oferecer em palco, mas pensamos que quem esteve assistir do inicio ao fim, não se sentiu defraudado, e é sempre um motivo para todos nós desejarmos um novo espetáculo desta enorme artista, que se vai afirmando como uma das melhores intérpretes  desta geração.

+ fotos na galeria Amplifest’22 Dia 14Out Anna Von Hausswolf

23 anos tem o vocalista e criador de HELLRIPPER, mas apesar da idade, tem nas suas mãos um projecto que quem ouve pela primeira vez, diria que é música feita por alguém no final da década de 80. Com o seu black’n’roll a roçar o speed metal, houve quem na plateia os apelidou dos novos VENOM ou uns “MOTORHEAD mais pesados”. Um concerto que foi sempre a rasgar do início ao fim, com um moshpit que ocupava quase metade da sala BEERFREAKS STAGE, stage dives e com o vocalista James McBain sempre a prometer que a música seguinte seria uma “fast one”. O que música após música, foi devidamente confirmado.

+ fotos na galeria Amplifest’22 Dia 14Out Hellripper

Hail Satan, Worship Doom”. Eram palavras que se ouviam pelos cantos da BÜROSTAGE. E são essas palavras que dão mote à temática do quarteto Americano. O som de BONGRIPPER é lento, sujo, uma autêntica parede de som que a cada linha de baixo faz vibrar as entranhas de quem assiste aos seus concertos. Uma setlist bastante curta, mas só em número, porque a cada música tocada por estes gigantes do Stoner-Doom dá tempo a qualquer pessoa para poder viajar sem qualquer pressa de voltar.  Destacamos a “SLOW”, do álbum “Terminal” como o apogeu deste concerto. Quem visse o concerto de fora, iria reparar num headbang sincronizado a cada riff, como se a plateia estivesse em trance num ritual psicadélico.

+ fotos na galeria Amplifest’22 Dia 14Out Bongripper

DIA 3

Por volta das 15:30, a segunda banda do dia, BOSSK, subiu ao palco BEERFREAKS STAGE. Os britânicos apresentaram-se ao público do Amplifest com o seu post-metal com muitos toques de sludge. Com uma audiência muito cativada pela banda, Rob Vaughan e os seus rapazes tocaram em frente de projecções, que adicionaram bastante à excelente e energética performance em palco.

+ fotos na galeria Amplifest’22 Dia 15Out Bossk

Nos palcos BÜROSTAGE e BEERFREAKS STAGE tiveram respectivamente PETER BRODERICK e AARON TURNER, vocalista de SUMAC, que esteve novamente presente no terceiro dia de festival, desta vez a solo.

+ fotos na galeria Amplifest’22 Dia 15Out Peter Broderick e Aaron Turner

ENVY foi a banda que se seguiu.  Veteraníssimos da música pesada do “País Do Sol Nascente” não deixaram ninguém desiludido. Com um BÜROSTAGE bastante composto, os Japoneses trouxeram o seu screamo post-hardcore com uma tenacidade assinalável. Moshpit desde a primeira, até à ultima musica, público encantado com a entrega e simpatia que é comum a todas as bandas Japonesas.

+ fotos na galeria Amplifest’22 Dia 15Out Envy

A segunda banda mais antecipada do dia (já vamos à primeira) era GODSPEED YOU! BLACK EMPEROR. E considerar GODSPEED uma banda, talvez seja defenir de maneira demasiado simplista este projecto, que esteve presente no BÜROSTAGE . Poucos artistas conseguem misturar música, arte e cinema de uma maneira quase imperceptível . Atrás da mesa de som, estavam quatro projectores de fita, que foram usados para o background da banda, que de uma maneira muito delicada, ligavam as imagens no background com os acordes dos muitos instrumentos que estavam em palco. GODSPEED foi mais que um concerto, foi uma experiência única que durou quase duas horas, mas que quem lá esteve, nem deu pelo tempo passar. De realçar que a setlist dos italianos fechou com os  clássicos  “World Police and Friendly Fire” e com a cênica “The Sad Mafioso”.

+ fotos na galeria Amplifest’22 Dia 15Out Godspeed You! Black Emperor

Para quem ainda não estava cansado depois deste fim de semana extenso e longo, ficou de certeza exausto depois do concerto de SCÚRU FITCHADÚ. O artista de Almada é um estreante neste festival, mas não nestas andanças de festivais alternativos. Ainda à porta da sala, assistimos a público portugues a tentar explicar a um grupo irlandês em que consistia este projecto. Tarefa bastante difícil. Mas a verdade é que quem esteve presente na sala BEERFREAKS STAGE, curiosos e fãs, saíram de lá suados e com um sorriso na cara. SCÚRU  com o seu punk-metal-funana conseguiu extrair toda a energia que restava dentro das pessoas. Um grande moshpit, movimentos de dança africanos, saltos, gritos houve de tudo naquela sala. SCÚRU e a sua parceira Márcia são do mais estranho, mas também do  melhor que Portugal tem para oferecer.

+ fotos na galeria Amplifest’22 Dia 15Out Scúru Fitchadú

THE BUG acaba por encerrar o BÜROSTAGE com convidados como FLOWDAN e MISS FIRE. Por trás de uma mesa de mistura e de 2 amplificadores de metro e meio(!), o DJ  acabou o festival com uma performance bastante interessante para as pessoas que se ainda aguentavam para ver o que o artista britânico tinha para oferecer.

LINGUA IGNOTA foi a primeira banda do dia, mas optámos por deixar o texto para o final para lhe dar o devido destaque e não ofuscar todos os outros artistas que se seguiram. Foi esse o sentimento de muita gente naquele sábado chuvoso na Invicta.

Kristin Hayter, como é do conhecimento do público que segue o seu trabalho, é uma mulher com um passado traumático e pesado. Muita tristeza e desolação, para o bem e para o mal, moldam a sua escrita, a sua música e a sua performance em palco. Dotada de uma das melhores vozes que já ouvimos, com um range de quem seria capaz de encabeçar uma ópera ou ser vocalista de uma banda de black metal, Kristin canta em palco o que sente, as alegrias e os problemas que a assolam diariamente. E de uma maneira muito simples, consegue transpor isso tudo para quem assiste, que de forma um pouco simbiótica, partilha um pouco do sentimento da artista.  O que vimos em palco foi um setting minimalista, com projeções de fundo e com 5 luzes que a própria Kristin controlava a seu bel-prazer.  Foi uma setlist recheada das suas composições mais acalmadas, desde “Repent Now Confess Now”, “Perpetual Flame of Centralia” e a acabar com a bela “Pennsylvania Furnace”, sem deixar de parte as já habituais covers. Kristin ainda tocou ao piano e também teve tempo para descer do palco e envolver-se com o público. Público esse que chorou, cantou, mas que sobretudo, sentiu que de algum modo fazia parte de tudo o que estava a acontecer. Foi o concerto mais belo, mais intenso e todos os que assistiram esperam que LINGUA IGNOTA volte o mais breve possível, já que tardava esta estreia em solos portugueses.

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